Um Crime de Mestre

Gregory Hoblit decidiu voltar ao tipo de filme que fez seu nome despontar em Hollywood há pouco mais de uma década. Em 1996, ele lançava “As Duas Faces de um Crime”, thriller de tribunal que também alavancou a carreira de Edward Norton. Dois anos mais tarde, Hoblit novamente mostrou ser bom de serviço com o ótimo suspense sobrenatural “Possuídos”. O cineasta manteve o ritmo: mais dois anos e outro elogiado trabalho, agora na ficção-científica “Alta Freqüência”. O drama de guerra “A Guerra de Hart”, de 2002, mostrou que esta não era sua praia. Hoblit, então, deixou de ser um diretor bienal. Depois de cinco anos longe das telas, ele se reencontra com “Um Crime de Mestre”.

Não é um filme tão bom quanto os primeiros do diretor, mas funciona bem como thriller de tribunal e fica melhor ainda com as perfomances de seus atores. O mais interessante da narrativa não é necessariamente o seu desenrolar, mas, sim, o duelo de egos dos dois personagens principais.



De um lado, está o assassino Ted Crawford, interpretado por Anthony Hopkins, que mata a esposa a sangue frio quando descobre que ela o traiu. Preso ainda na cena do crime, ele já tinha um grande plano bolado para provar sua inocência no tribunal, assim, ao ir a julgamento, apenas vê o sistema judicial cair diante de si. Seu adversário é o jovem advogado Willy Beachum, vivido por Ryan Gosling, que se deixa trair pela própria arrogância (seu índice de condenações é de impressionantes 97%) e cai como uma presa indefesa na armadilha do réu. A partir daí, ele entra de cabeça no caso para tentar virar a mesa.

Hopkins está em plena forma aqui e por vezes faz lembrar seu insuperável Hannibal Lecter de “O Silêncio dos Inocentes”, graças ao olhar gelado e às expressões minimalistas que emprega em seu personagem de forma a combinar com seu humor sarcástico. E Gosling novamente mostra que muito em breve deixará de ser uma promessa e se tornará de fato um grande ator.

É verdade que a resolução do roteiro de Daniel Pyne e Glenn Gers poderia surpreender mais (talvez seja o que nós sempre esperamos de filmes como esse), mas o longa consegue prender a atenção através do jogo de Ted, que utiliza as brechas da lei para sair ileso. A briga de nervos que ele trava com Willy poderia ter sido mais explorada se a personagem de Rosamund Pike – uma executiva da poderosa firma de advocacia em que Willy está prestes a ser admitido – não existisse, já que o filme perde seu ritmo justamente nas cenas em que ela aparece. Sem falar que seu romance com Gosling é infrutífero, narrativa e dramaticamente.

A direção de Hoblit é segura e elegante, criando a atmosfera ideal para a história. Uma boa sacada do diretor foi usar como analogia para seus personagens as estruturas de metal arquitetadas pelo personagem de Hopkins. Elas mostram a meticulosidade de Ted e funcionam como o seu plano: uma pequena falha pode levar a bolinha ao chão, ou ele à cadeia. E o mesmo vale para Willy, já que qualquer deslize moral pode comprometer sua promissora carreira.

nota: 7/10 — vale o ingresso

Um Crime de Mestre (Fracture, 2007, EUA), dir: Gregory Hoblit – em cartaz nos cinemas.