“Os Donos da Noite”: maturidade narrativa e primor estético

“Os Donos da Noite” se parece com um bom filme policial dos anos 80 — não por acaso, a época em que a história se passa. Este é mais um daqueles títulos do gênero onde violência gera violência, policiais e criminosos querem se vingar uns dos outros, alguém eventualmente trai a confiança de um parceiro, enfim, todos os elementos estão lá em seus devidos lugares. Mas mesmo que seja pouco inovador nesse sentido (não que precise ser), o filme é uma beleza de ser visto.

A narrativa flui através do personagem de Joaquin Phoenix, Bobby, gerente de um clube noturno controlado pela máfia russa instalada em Nova York. Ele vive em cima do muro, já que seu pai (Robert Duvall) e seu irmão (Mark Wahlberg) são policiais respeitados na cidade, mas o proprietário de seu estabelecimento (Edward Shkolnikov) é praticamente uma segunda família. Após uma batida policial, a guerra entre os dois lados ferve e Bobby logo precisa escolher um deles. A partir daí, o foco do filme passa a ser a trajetória interna do protagonista rumo ao destino que escolhe seguir e a perda de tudo que ele acaba renunciando.



Este terceiro trabalho de James Gray na direção e no roteiro não é um estudo de personagem e situação profundo ou complexo como se vê em filmes como “Os Bons Companheiros”, “Fogo Contra Fogo”, “Eleição – Submundo do Crime”, “Os Infiltrados”/”Conflitos Internos” ou mesmo em “Tropa de Elite”.

Na verdade, o longa esbarra no maniqueísmo em alguns momentos, o que o prejudica e o distancia das produções acima citadas, com as quais compartilha seus temas. O curioso é que talvez “Os Donos da Noite” não seja lembrado daqui a alguns anos, tampouco se torne um clássico justamente por aquilo que considero seu maior mérito: a direção.

Agrada a forma como Gray evita o espetáculo e se concentra apenas nos personagens. As cenas de tiroteio não são grandiosas e acontecem pontualmente ao longo da história. Até mesmo em momentos mais particulares, como uma briga entre Bobby e sua namorada (Eva Mendes), a câmera não é invasiva e desvia-se de tornar a situação escandalosa.

Duas cenas apenas fogem a esse conceito, mas são também aquelas em que Gray demonstra maior criatividade: a perseguição de carros na chuva e a “caçada” no capinzal. São os dois momentos mais imagéticos do filme, e também os mais elaborados do ponto de vista da ação que se espera de um longa policial.

Destaque ainda para a trilha sonora anos 80, com canções bem utilizadas e sem excessos. A sequência inicial com Blondie ao fundo é memorável e já demonstra o domínio de cena de Gray.

nota: 8/10 — veja no cinema e compre o DVD

OS DONOS DA NOITE (We Own the Night, 2007, EUA)
direção: James Gray; com: Joaquin Phoenix, Eva Mendes, Mark Wahlberg, Robert Duvall, Alex Veadov, Dominic Colon, Edward Shkolnikov; roteiro: James Gray; produção: Marc Butan, Joaquin Phoenix, Mark Wahlberg, Nick Wechsler; fotografia: Joaquín Baca-Asay; montagem: John Axelrad; música: Wojciech Kilar; estúdio: 2929 Productions; distribuição: Califórnia Filmes. 117 min