Festival do Rio 2008 IV

Pan-Cinema Permanente

– Documentário que surpreende por unir o retrato de um personagem muito interessante, o poeta Wally Salomão, e a forma com que sua história é contada, misturando depoimentos com a obra do próprio artista.



– As cenas que compreendem imagens de Wally diante da câmera, recitando ou proclamando seus versos ou desabafos, são de uma força estupenda. Ele é um artista que se impõe pela palavra e tentou uni-las ao uso do vídeo como nova forma de manifestação artística.

– Se para ele, a vida era uma grande teatralização, uma grande ficção, então bastaria filmar seu dia-a-dia para se ter um filme. Mas sabemos que não era bem assim. Wally criou um personagem que surgia toda vez que percebia a presença de uma câmera. Ele se transformava, ainda que fizesse parte de seu espírito o improviso, a provocação. O próprio filme se encarrega de mostrar isso, num momento estranho em que o mito é desmistificado quando o diretor Carlos Nader insere uma breve cena que foi gravada numa mesa de restaurante, sem que Wally percebesse.

– Com momentos divertidos, provenientes dos próprios registros de Wally em vídeo, como os de sua passagem pela Síria, “Pan-Cinema Permanente” é uma justa homenagem a um poeta que lamentavelmente perdemos, numa época em que essa arte parece cada vez mais esquecida. Ele foi um verdadeiro guerreiro, alguém que não acreditou que no fim do sonho e que tentou transformar sua arte com os novos meios tecnológicos dos quais dispunha. Felizmente, unindo cinema e vídeo-arte, Nader conseguiu criar um filme que não abre mão de algumas abstrações e se mantém com os pés bem firmes no chão.

Tokyo Sonata

– O drama de uma família em crise não é tema novo em nenhuma forma de cinema. Mas quando uma história é bem contada, não há como não se encantar. E Kioshy Kurosawa consegue fazer de “Tokyo Sonata” um filme em que a carga dramática encontra equilíbrio no alívio cômico.

– Concentrando a narrativa principalmente no pai, que perdeu recentemente o emprego e tem vergonha de contar à esposa, e no filho mais novo, que deseja ter aulas de piano e, para isso, usa o dinheiro da merenda escolar sem a permissão dos pais, Kurosawa faz um comentário social interessante e conduz a história a um desfecho muito belo. Nesse desenvolvimento, ainda estão a mãe, que se segura como pilar da família até certo ponto, e o filho mais velho, que decide se alistar no exército americano sob o pretexto de proteger seu país e, conseqüentemente, seus familiares.

– Filmado com elegância, dosando planos fixos típicos do cinema de Misoguchi e também do Kurosawa mestre, com cenas de câmera em movimento sempre bem coordenadas, “Tokyo Sonata” agrada muito e é uma das boas entradas do cinema japonês dos últimos anos.