Capitão América: O Primeiro Vingador

“Capitão América: O Primeiro Vingador” certamente é um dos filmes visualmente mais bem trabalhados da Marvel. Diferente de “Thor” e “Homem de Ferro”, que apostam em imagens mais genéricas, com um pé mais firme numa realidade onde a existência daqueles heróis seria possível (obrigado, Bryan Singer!), em “Capitão América” temos um filme muito mais estilizado, com fotografia, direção de arte, figurinos e efeitos visuais utilizados não apenas para a reconstrução de época (a história se passa durante a Segunda Guerra Mundial), mas principalmente para a construção de um ambiente já preparado para a existência do Capitão América, sem que o mundo precise ser adaptado a ele.

 

O primeiro aspecto dessa ambientação visual é que Joe Johnston se esforça ao máximo para dar às cenas um aspecto próprio dos anos 40, como se estivéssemos assistindo a uma aventura à moda antiga, no clima de matinê, algo muito próximo do que Steven Spielberg buscou em “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida” há exatos 30 anos. Esse é o principal mérito de “Capitão América”: ele não busca fazer uma “versão de carne-e-osso” da revista em quadrinhos. O que Johnston persegue o tempo todo é manter o filme justamente no espírito da HQ, da aventura juvenil que nós, quando crianças, gostávamos de ler. A ingenuidade e a bidimensionalidade da luta do herói contra o vilão (Hugo Weaving, novamente no melhor do histrionismo como o Caveira Vermelha) fazem parte dessa estratégia.

 



Aliás, num recurso metalinguístico genial, Johnston insere a própria HQ em uma cena – se não me engano, a primeira vez em que a Marvel celebra sua origem tão diretamente em filme. E é uma homenagem acertada, uma vez que o Capitão América foi o primeiro herói da editora a ter uma revista própria. Além disso, podemos ver brevemente numa cena do filme uma “ponta” do Tocha Humana original, que é o primeiro herói a aparecer numa revista da Marvel, em 1939 (sem falar que o protagonista, Chris Evans, já interpretou outra versão do Tocha Humana nos dois filmes do Quarteto Fantástico).

 

Johnston, vale lembrar, já havia mostrado habilidade em realizar filmes de época que não soam antiquados, como é o caso da nostálgica aventura “Rocketeer”, de 1991, também baseada em uma revista em quadrinhos, e “O Lobisomem”, que resgatou o clássico monstro da Universal Pictures.

 

O patriotismo que sempre marcou o personagem felizmente foi contornado pelos roteiristas, colocando o herói como ícone pop usado pelas Forças Armadas americanas para angariar fundos para a guerra. No entanto, não há no filme um questionamento sobre o programa de criação de supersoldados, algo que já havia sido levantado em “O Incrível Hulk” e “Wolverine”. De qualquer forma é um tema que ainda poderá ser retomado na franquia.

 

Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011, EUA)
direção: Joe Johnston; roteiro: Christopher Markus, Stephen McFeely; fotografia: Shelly Johnson; montagem: Robert Dalva, Jeffrey Ford; música: Alan Silvestri; produção: Kevin Feige, Amir Madani; com: Chris Evans, Hayley Atwell, Sebastian Stan, Tommy Lee Jones, Hugo Weaving, Dominic Cooper, Richard Armitage, Stanley Tucci, Toby Jones, Neal McDonough, Derek Luke, Kenneth Choi, JJ Feild, Bruno Ricci; estúdio: Marvel Studios; distribuição: Paramount Pictures. 124 min