“O Último Cine Drive-In”: Algo mais que uma homenagem

oultimocinedrivein01

Em um primeiro momento, “O Último Cine Drive-In” remete a “Cinema Paradiso”, o clássico longa de Giuseppe Tornatore, lançado em 1988, porque se configura como uma homenagem à sétima arte, sobretudo ao ofício da projeção de filmes. Hoje em dia, os espaços destinados à exibição se multiplicam, mas são cada vez menores. E os profissionais que se dedicam a proporcionar o ambiente ideal para o público se envolver com a obra apresentada foram substituídos por mão de obra muitas vezes desqualificada.

Almeida, personagem de Othon Bastos em “O Último Cine Drive-In”, tem o cinema como único legado de sua vida. Esse espaço, o único ainda em atividade no país e localizado em Brasília, à sombra do Estádio Mané Garrincha, é também objeto de afeto de seu filho (papel de Breno Nina), batizado cinematograficamente como “Marlombrando”. O rapaz não tem uma relação muito próxima com o pai, mas os dois precisam reatar quando a saúde da mãe fica em estado delicado.



A partir do momento em que o espectador se vê envolvido com o drama dessa família , “O Último Cine Drive-In” deve remeter a outro filme, que também é emblemático para os cinéfilos: “A Última Sessão de Cinema”, drama de 1971, dirigido por Peter Bogdanovich e estrelado por Timothy Bottoms, Jeff Bridges e Cybill Shepherd. Ambos os longas fazem uma relação do estado emocional dos personagens com a desolação do ambiente em que vivem.

O que o diretor de “O Último Cine Drive-In”, Iberê Carvalho, adiciona de forma mais autêntica é a transição gradual de um tom mais realista do drama familiar, para algo que se aproxima da fábula, pisando em terreno que é próprio da arte. O cineasta, em seu longa de estreia, não se rende à simples homenagem referencial e evita fazer um sem número de citações ou dar piscadelas para o fã de cinema. Iberê trabalha numa esfera mais sutil, e o máximo que ele explicita está nos cartazes de filmes clássicos que podem ser vistos nas paredes de alguns cenários. Mesmo assim, tudo ali tem um motivo e foi pensado para estabelecer uma relação com os personagens.

O mesmo pode ser dito dos (poucos) momentos em que nós vemos filmes sendo projetados dentro do filme. A intertextualidade é irresistível quando reconhecemos cenas de “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, e de “Na Mira da Morte” (1968), não à toa também de Bogdanovich.

Talvez “O Último Cine Drive-In” não crie um envolvimento emocional tão forte com todo o público, porque, afinal, a subjetividade desempenha um papel fundamental na criação do vínculo de um espectador com um filme. Mesmo assim, as ótimas atuações e a fluidez narrativa que o longa apresenta já o tornam um trabalho distinto dentre os lançamentos do cinema brasileiro deste ano. ■

Nota: