cinematório café #9: Animais fantásticos

    Renato Silveira e Kel Gomes·

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    Neste programa, dois filmes que têm figurado na temporada de premiações e que chegaram aos cinemas brasileiros quase juntos estão em debate: “Animais Noturnos” (Nocturnal Animals, 2016, EUA), de Tom Ford, estrelado por Amy Adams e Jake Gyllenhaal, e “Capitão Fantástico” (Captain Fantastic, 2016, EUA), de Matt Ross, protagonizado por Viggo Mortensen.

    O nosso convidado para este episódio é Daniel Oliveira, jornalista e crítico de cinema do jornal O Tempo.

    Nós temos duas novidades neste programa. Uma é que ele está dividido em duas partes: a primeira, sem spoilers, e a segunda, com spoilers. Portanto, se você não viu os filmes comentados, pode ouvir até darmos o alerta de spoiler, pausar e voltar depois, OK?

    A outra novidade é que estamos testando uma maneira diferente de ouvir podcast: além de você poder “navegar” por capítulos, como se fosse num DVD, uma imagem referente ao filme que estivermos comentando vai aparecer no seu player. Mas para isso, você precisa usar um player compatível: para iOS, recomendamos o Overcast; e para Android, o Podcast Republic.

    Dê o seu feedback nos comentários ao fim da página, OK?

    O cinematório café é um podcast produzido e apresentado por Renato Silveira e Raquel Gomes. A cada episódio, nós propomos um debate em torno de temas relacionados ao cinema e às suas áreas correlatas, sempre em um clima de descontração, mas buscando, acima de tudo, reflexões sobre imagens que estão presentes no nosso dia a dia.

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    Hyperlinks deste episódio:

    — Entrevista de Noam Chomsky ao site da TruthOut, em português (Outras Palavras)

    — Sobre “Animais Noturnos”:

    — Sobre “Capitão Fantástico”:

    • Anatomy of a Scene (The New York Times):

    • Entrevista com Matt Ross (sem legendas):

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    6 Responses

    1. Sobre Capitão Fantástico:
      Talvez por eu ter um filho e estar rodeada de sobrinhas, não vi a tal quebra entre o crível e o fantasioso mencionada. Não tem nada de crível nesse filme, rs. Ele exagera as coisas para provar seu ponto de vista, e eu acho isso ótimo. É um filme e ele usa essa liberdade que os filmes proporcionam (onde “tudo é possível) para contar uma história maravilhosa. Mas crianças não são lindas e fofas e dóceis daquele jeito (no meio daquela molecada toda, ter apenas UM filho que vai questionar alguma coisa é de uma utopia que chega a dar dó), as crianças muito pequenas manejando facas e escalando montanhas não é algo que dá pra fazer (gente, não dá, as crianças são loucaças), roubar mercados com aquela facilidade envolvendo crianças também é algo surreal (no dia que eu conseguir fazer um GRUPO de crianças se comportar exatamente conforme planejado, acharei que fui parar em outro universo)! Mas é aquele impossível que beira o possível. A gente faz uma forcinha e releva. Releva também as crianças enfiadas no ônibus no final, releva o roubo do caixão. E é lindo, tudo isso é lindo! E o pai largar os filhos com o avô, faço coro com a Raquel, é ERRADO, mas é um pai abdicando de seus filhos pensando no que ele realmente acredita que vai ser o melhor para eles – é o altruísmo em seu grau mais absoluto. Ele está em um momento em que começa a questionar tudo o que acredita, ele vai cortar o cabelo porque ele já está concluindo que tudo o que ele fez até agora era uma balela sem fim. E os filhos virem atrás dele é o que prova para ele que, apesar de alguns erros evidentes, ele é um bom pai sim. E, novamente concordando com a Raquel, adoro o equilíbrio do final. Eles não estão “traindo o movimento”, o filme foi todo construído para chegar nesse momento do equilíbrio. É o pai radical de um lado versus o sogro radical do outro, o confronto entre eles, e o equilíbrio final.

      (comecei a ouvir o podcast achando que era sobre Animais Fantásticos e Onde Habitam hahahahaha)

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      1. Ah, nada como o ponto de vista de quem tem filhos e está rodeada de crianças! Eu tenho sobrinhos também, mas, infelizmente, vejo eles com pouca frequência. Nem tenho essa noção do quanto são imprevisíveis e incontroláveis no dia-a-dia. Bom ponto! É uma história fantástica e, concordo com vc, linda! Sobre o título do episódio, teve uma pessoa que no Twitter nos alertou que estava errado, que a gente tinha que corrigir hahaha Título pegadinha ;) Beijo, Tha!

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    2. Confesso que tinha uma certa antipatia pelo Tom Ford porque aquele filme “Direito de Amar” foi um engodo, achei muito lento, muito arrastado, muito vazio. E até demorei demais para dar uma chance para esse “Animais Noturnos”, apesar de ter a Amy e o Jake que são dois atores que eu adoro. Mas me surpreendi. Imaginei que o filme seria muito hermético, mas pelo contrário é um filme que é um ótimo thriller, um ótimo suspense com toques dramáticos, mas que tem diversas camadas a cerca dessa história de vingança. Gostei bastante. Como vocês comentaram, fiquei admirado com a segurança e a competência do Tom Ford para construir os momentos de tensão, os simbolismos e as transições de cena (algumas me incomodaram mais do que outras, mas o saldo foi positivo), mas é um filme que se apropria muito bem da rigidez estética do Fordz e se sai muito bem. O Jake Gyllenhaal tem se mostrado cada vez um puta ator. A Amy Adams está ótima também. Belo filme!

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    3. Eu escutei agoniado o comentário sobre “Capitão Fantástico” porque dava vontade de ajudar o Daniel na defesa do filme. Dava pra perceber o quanto ele tinha se encantado com o filme, mas no final do podcast a impressão era que ele estava quase pedindo desculpa por ter gostado do filme. “Capitão Fantástico” é um filme maravilhoso que jamais abandona o seu apelo emocional. Entendo o comentário do Renato, mas acho que o filme está inserido dentro de uma realidade fantástica para ilustrar uma mensagem ideológica e verdadeira, ele escala montanhas com os filhos, ele planeja assaltos para ir contra o sistema, eles comemoram o aniversário de um filósofo, quando as crianças se escondem dentro de um ônibus acaba sendo um momento lúdico ou de ser cinema como qualquer outro. O funeral é sob o som de uma música do Guns, ou seja, o universo do filme possui um pé na realidade e outro um pouco mais viajado assim como é com “Pequena Miss Sunshine”, por exemplo. Existem alguns exageros extremamente perdoáveis, mas que não me tiram em nenhum momento do filme e mesmo quando ele parece abandonar sua ideologia, ele tá promovendo uma reflexão sobre tudo o que aconteceu e o que é mais importante é manter a união da família, mas sem deixar de respeitar a individualidade de cada. É um lindo simbolismo sobre a família.

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    4. Parece muito bom, mais se Jake Gyllenhaal fora definitivamente deve vê-lo. Eu gosto de filmes que fazem você se sentir como se estivesse ao lado do caráter, é curioso que em demolição, Jake Gyllenhaal faz você se sentir o que ele sente quando ele é incapaz de sentir qualquer coisa. Jean-Marc Vallée definitivamente faz um excelente direção de trabalho. Demolição elenco faz um bom trabalho, eu acho que, no final, eu acho que tem um ritmo bastante lento, no entanto, o filme inteiro vale a pena a história, elenco e direção.

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    5. Bom dia com algumas semanas de atraso!

      Acredito que nunca é tarde pra discutir um bom filme, afinal, boas obras são atemporais.
      Já gostaria de dizer logo de início que apoio a divisão do programa em duas partes: spoilers-free e spoiler alert!
      Quando o podcast saiu eu ainda não havia assistido aos longas então ouvi a primeira hora, deu um pause e hoje volto para dar minhas considerações finais hahaha.
      As obras discutidas aqui pouco tem em comum, seja em estilo de direção, tema ou conceito. Mas o interessante é que o pouco que têm em comum diz muito sobre o momento em que vivemos como humanidade.

      Um fato infeliz e importante que devo ressaltar é que hoje, a cidade onde resido – Goiânia – já quase não possui os famigerados “cinemas de rua”. Só nos resta aqui o Cine Ritz e o teatro Ouro (que vez ou outra traz mostras de cinemas alternativos), ambos no centro da cidade e com opções limitadíssimas.
      O “ir ao cinema” na capital, tornou-se um programa elitista, com ingressos disponibilizados apenas em 3D, girando em torno de 40 a 50 reais por ingresso.

      Por esta razão, nenhum dos dois filmes discutidos permaneceu por mais de 3 semanas em cartaz aqui em Goiânia, e ficaram disponíveis em pouquíssimas salas ao redor da cidade. E este é um dos pontos em comum entre os longas: ambos são filmes, digamos, alternativos. Quando digo “alternativos”, implicito minha opinião de que não são filmes de caráter comercial. Ambos tem orçamento mais modesto e tratam diretamente em seu discurso e temática sobre arte. Apesar de um filme tratar sobre vingança e outro sobre equilíbrio, ambos discutem o papel dos indivíduos na sociedade. Mais diretamente, o papel do homem, como bem pontuado pela Raquel. Qual o perfil e esteriótipo esperados no comportamento de homem-marido, homem-pai, homem-empresário.

      A desconstrução dessas visões é intrigante e nos faz refletir se agimos da maneira como agimos porque se é esperado desta maneira. E quando somos questionados a cerca de nosso comportamento, isto é feito de maneira recriminatório ou saudável? Aliás, questionamento e imposição são conceitos distintos e por diversas vez um vem velado pelo outro.

      Outro paralelo que faço entre os dois longas é a questão da escolha. Intencionalmente ou não somos definidos por elas e estas nos confrontam a todo momento. Penso que posso dizer com segurança que todos nós, seres humanos, nos questionamos diversas vezes durante a vida a cerca de escolhas de fizemos no passado ou que devemos fazer no futuro, em busca de confirmação pessoal e aceitação também em sociedade. Também questionamos escolhas feitas por terceiros, como no caso da irmã em Capitão Fantástico, que reluta em aceitar que as escolhas feitas por Ben não são problema dela.

      Por fim, quis o destino (ou o meu cronograma) que eu revisitasse a trilogia do Poderoso Chefão na mesma noite em que assisti Animais Noturnos e é incrível perceber como a arte retrata os mesmos temas (família e vingança) em abordagens e contextos totalmente diferentes. A passionalidade da natureza humana está ali presente em ambos mais lidamos com ela de maneiras diferentes. Quisera eu ter alma de artista e transformar minhas dores, frustrações e desejo de vingança em um romance.

      Enfim, amei os dois filmes. Animais Noturnos me soou quase como um estudo de personagens e apesar da gravidade de seu discurso, Capitão Fantástico me soou extremamente leve.

      Adorei o programa e espero por mais.
      Um abraço a todos e amei a participação do ilustre e falador Daniel.

      Ps.: Daniel, a gente não vai reclamar se você falar mais devagarzinho.

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