Alguma Coisa Assim (2017) - Foto: Vitrine Filmes/Divulgação
Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

Festival Guarnicê: “Alguma Coisa Assim” mostra o retrato de uma juventude

por Pedro Tobias

Caio (André Antunes) e Mari (Caroline Abras) vivem uma relação que vai além de qualquer definição. Ao longo de dez anos, a trama transita entre três momentos marcantes onde seus desejos entram em conflito e sua relação é posta à prova.

Provavelmente o maior mérito de “Alguma coisa Assim” é o seu roteiro. Se o casal de protagonistas consegue de forma inegável conduzir todo o peso dramático de suas narrativas pessoais é graças ao excelente trabalho de construção de personagem feito por Esmir Filho e Mariana Bastos. Apesar de se tratar apenas do primeiro longa da dupla, é evidente a maturidade com que lidam com a narrativa que querem construir a partir dos encontros e desencontros físicos e emocionais de seu casal de protagonistas.



De certa forma é possível até mesmo afirmar que Caio e Mari despontam como um retrato de uma juventude urbana de classe média do início dos anos 2000. Ao longo dos 81 minutos de duração do filme acompanhamos a história dos dois em três tempos marcados por alguma espécie de cisão em suas vidas: 2006, quando Mari acompanha Caio a uma boate gay onde ele dá seu primeiro beijo, 2013, quando os dois se reencontram em ocasião do casamento de Caio, e 2016 quando o casamento acaba e ele a visita em Berlim, onde vive.

O filme surgiu a partir de um curta-metragem homônimo de 2006. Ao se reunirem com toda a equipe em 2013 para filmar uma continuação, os diretores perceberam que Caio e Mari tinham muito mais a contar. Foi então que surgiu a ideia de transformar essas ideias em um longa.

A montagem, assinada por Caroline Leone, consegue dar à narrativa uma fluidez impecável. Cada flashback é inserido de forma certeira de modo a dar aos protagonistas e à sua relação maior complexidade. Os diretores entendem muito bem o impacto que cada um desses encontros tem sobre seus personagens e criam rimas narrativas e visuais vigorosas no sentido de concatenar uma história que não surgiu uníssona.

Já dizia Mario Quintana, “o passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente…”. Incapazes de preencher o espaço entre si até mesmo com palavras, o casal se vê numa eterna rota de colisão que nunca se concretiza, seja pelas inseguranças de Caio, seja pelo silêncio de Mari. ■

Filme visto durante o 41º Festival Guarnicê de Cinema.