Expectativa 2009: Cinema Nacional


“Se Nada Mais Der Certo”, José Eduardo Belmonte

Dando sequência a um post anterior, prosseguimos com nossa série Expectativa 2009, agora com foco no cinema brasileiro: em um ano em que teremos a abominação “High School Musical: O Desafio” ocupando salas como filme brasileiro, o que nossos principais cineastas tem a oferecer? Mas antes, vamos relembrar rapidamente o que já foi lançado até aqui.

“Se Eu Fosse Você 2”, de Daniel Filho, sem dúvida é um marco, porém pelo recorde de público, e não enquanto expressão artística. “Verônica”, apesar dos pesares, acaba sendo o que melhor se viu nesses primeiros meses por representar a tentativa mais próxima e recente do cinema nacional de se aproximar de um filme médio – aquele que não se restringe ao nicho alternativo, mas que também não se rende ao apelo popular. “Menino da Porteira”, de Jeremias Moreira, também se encaixa nessa classificação. Entre os documentários, o destaque fica com “Contratempo”, de Malu Mader (embora eu não tenha visto, nossa colega Mariana Deslandes gostou muito).



Até agora, 2009 tem sido de vacas magras para o nosso cinema. E não parece que a situação irá mudar radicalmente até dezembro. De acordo com tabela do Filme B, as estreias já programadas que realmente chamam a atenção (seja pelo nome de seus diretores, seja pelo que já foi dito sobre os filmes em suas passagens por festivais) são, ao todo, apenas dez – o que dá uma média inferior a uma por mês. É claro que existem outros longas que vão entrar em cartaz e que podem surpreender. Mas, por hora, são nestes que devemos ficar de olho:

– “Se Nada Mais Der Certo“, de José Eduardo Belmonte (Imovision, abril) – Possivelmente o diretor brasileiro que mais filma e não é distribuído, Belmonte já está em seu sexto quarto longa e este é apenas o segundo a ganhar espaço no circuito comercial. O primeiro foi o ótimo “A Concepção”.

– “FilmeFobia“, de Kiko Goifman (Polifilmes, maio) – Vencedor do Festival de Brasília e dono de um conceito muito interessante. Sem falar que Goifman é um artista visual indispensável.

– “Garapa“, de José Padilha (Downtown, maio) – Já vem causando polêmica desde Berlim, o novo documentário do diretor de “Ônibus 174” e “Tropa de Elite” certamente não passará batido.

– “Budapeste“, de Walter Carvalho (Imagem, maio) – Nosso principal diretor de fotografia adapta o romance de Chico Buarque em sua primeira incursão solo no comando de uma ficção. Já andam dizendo coisas boas a respeito por aí.

– “Tempos de Paz“, de Daniel Filho (Downtown, maio) – OK, OK. Talvez incluir Daniel Filho numa lista de expectativa seja um equívoco. Mas como este novo filme não é mais uma de suas comédias delirantes, e sim um drama que se passa numa sala de interrogatórios em 1945, daremos o benefício da dúvida.

– “A Mulher Invisível“, de Cláudio Torres (Warner, junho) – O segundo filme do diretor de “Redentor”, “A Mulher do Meu Amigo”, não convenceu em 2008, passando quase batido pelas salas. Mas este terceiro, novamente uma comédia sobre relacionamentos, tem uma premissa mais interessante. Melhor darmos uma segunda chance.


“Budapeste”, Walter Carvalho

– “A Festa da Menina Morta“, de Matheus Nachtergaele (Imovision, junho) – O filme que todo mundo que frequenta festivais já deve ter visto. Mas para quem paga ingresso, o impacto das imagens de Nachtergaele (ecoando o cinema de Cláudio Assis) finalmente não tardam muito mais.

– “Moscou“, de Eduardo Coutinho (VideoFilmes, julho) – Sobre este não há muito mais o que dizer no momento. É só esperar o mais novo trabalho de nosso maior documentarista chegar às telas que o filme faz o resto.

– “Todo Mundo Tem Problemas Sexuais“, de Domingos de Oliveira (Estação, julho) – Nosso “Woody Allen” tem uma nova comédia pronta desde os festivais do ano passado. Novamente, ele cruza histórias em torno do tema favorito de qualquer piadista. A diferença é que Oliveira sabe contar piadas de sexo com classe.

– “Besouro“, de João Daniel Tikhomiroff (Buena Vista, outubro) – O trailer preliminar divulgado há pouco tempo dá uma noção de que este será um filme de ação à brasileira como nunca se viu. É torcer para que o produto final tenha um bom acabamento, pois será ótimo que um filme de gênero como este, sem grandes nomes no elenco, faça sucesso entre o público. Vale acessar o site oficial e acompanhar.

– “Salve Geral!“, de Sérgio Rezende (Sony, outubro) – Ele pode não ser um cineasta dos mais amados entre os cinéfilos, mas faz filmes pelo menos decentes. E como “Zuzu Angel” ficou acima da média, este drama que traz Andréa Beltrão (atriz que parece ter se redescoberto no cinema) enfrentando os ataques do PCC em São Paulo soa como mais um de seus projetos ambiciosos (afinal, são dele também “Guerra de Canudos”, “Lamarca” e “O Homem da Capa Preta”).

– “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Agua“, de Sérgio Machado (Sony/VideoFilmes, sem data) – Em seu segundo longa de ficção, o diretor de “Cidade Baixa” reúne um grande elenco para adaptar um belo material de Jorge Amado. Vem coisa boa aí.

– “Mano” (título provisório), de Laís Bodanzky (Warner, sem data) – O terceiro filme da talentosa cineasta será voltado para o público adolescente – que é tradicionalmente pouco visado pelo cinema nacional e se vê refém dos enlatados hollywoodianos.

Essa lista traz apenas filmes que já tem distribuição garantida. Mas uma outra compilação do Filme B (embora um pouco desatualizada) mostra que existem vários outros filmes interessantes ou promissores que ainda estão entre os “sem tela”. Dê só uma olhada:


“A Fuga da Mulher Gorila”, Felipe Bragança, Marina Meliande

– “À Margem do Lixo“, de Evaldo Mocarzel (abordando o trabalho dos catadores de papel, é o mais recente documentário deste que é um dos mais prolíficos realizadores brasileiros – e ele tem ainda um outro sem distribuidor, “Sentidos à Flor da Pele”)
– “Belowars“, de Paulo Munhoz (animação sobre a épica “guerra interior” de um garoto do campo, foi o único brasileiro a competir no Anima Mundi ano passado)
– “Crítico“, de Kleber Mendonça Filho (KMF faz seu primeiro longa, um documentário sobre a relação entre críticos e cineastas)
– “A Erva do Rato“, de Júlio Bressane (exibido em Veneza no ano passado, com Selton Mello e Alessandra Negrini, adaptado de dois contos de Machado de Assis)
– “A Fuga da Mulher Gorila“, de Felipe Bragança, Marina Meliande (o road-movie que venceu Tiradentes este ano)
– “Pachamama“, de Eryk Rocha (novo documentário do filho de Glauber, também passou em tudo quanto é festival ano passado – é um road-movie documental que atravessa a floresta amazônica rumo à Bolívia)
– “Rinha“, de Marcelo Galvão (apesar de eu não gostar de “Quarta B”, confesso que fiquei intrigado com a premissa deste: lutas clandestinas realizadas em uma piscina vazia).

E também existem outros filmes que estão em fase de finalização e devem aparecer nos festivais do segundo semestre (alguns, quem sabe, até podem chegar ao circuito comercial ainda este ano). São eles:


“Cabeça à Prêmio”, Marco Ricca

– “À Deriva“, de Heitor Dhalia (diretor de “O Cheiro do Ralo” agora trabalha com elenco internacional, com Vincent Cassel e Camilla Belle)
– “Andar às Vozes“, de Eliane Caffé (primeiro filme da diretora de “Narradores de Javé” após um hiato de seis anos)
– “O Bem Amado“, de Guel Arraes (se “Romance” deixou a desejar, talvez seja mesmo a hora de Arraes se apoiar em material já explorado antes para não fazer feio)
– “Cabeça à Prêmio“, de Marco Ricca (o ator de “Crime Delicado” e “O Invasor” agora é cineasta e trabalha com uma trama policial envolvendo latifundiários no centro-oeste brasileiro)
– “Condomínio Jaqueline“, de Roberto Moreira (o aguardado segundo longa do diretor do impactante “Contra Todos”)
– “É Proibido Fumar“, de Anna Muylaert (também aguardado novo trabalho da diretora de “Durval Discos”, grata surpresa de 2002)
– “Hotel Atlântico“, de Suzana Amaral (mais uma cineasta de volta ao batente)
– “Insolação“, de Daniela Thomas e Felipe Hirsch (a parceira habitual de Walter Salles agora em nova colaboração com o dramaturgo Felipe Hirsch, numa “investigação sobre como o jovem contemporâneo lida com o amor”)
– “Não Se Pode Viver Sem Amor“, de Jorge Durán (diretor de “Proibido Proibir” volta ao cotidiano do subúrbio do Rio)
– “Natimorto“, de Paulo Machline (primeiro longa comandado pelo diretor do curta indicado ao Oscar “Uma História de Futebol” trata de imigração e redenção de um americano no Brasil)
– “Olhos Azuis“, de José Joffily (o retorno de outro veterano, cujo último filme, “Achados e Perdidos”, é de 2005)
– “Porto dos Mortos“, de Davi de Oliveira Pinheiro (é uma nova incursão do cinema brasileiro no terror, agora com zumbis a la George Romero; o trailer já está rolando na web há coisa de um ano)
– “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo“, de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes (diretores de dois filmes fundamentais da retomada, “O Céu de Suely” e “Cinema, Aspirinas e Urubus”, respectivamente, colaboram agora em “uma observação poética sobre o sertão a partir de uma pessoa que está viajando e vive uma desilusão amorosa”).

Enfim, vocês podem perceber que essa última lista é bem mais chamativa do que a primeira. Portanto, é torcer para que pelo menos parte dessas boas promessas possam ser finalizadas logo e que consigam distribuição mais rápido ainda. Para alguns, será mais fácil. Para outros, é torcer para que a crise financeira não faça muitas vítimas.

P.s.: Vale a pena consultar a lista completa do Filme B para saber mais detalhes sobre os projetos supracitados, além de ter uma idéia do que ainda está em fase de desenvolvimento – como novos documentários de José Padilha e Marcos Prado, além de outros trabalhos previstos para diretores da nova onda, como Sérgio Machado, Karim Aïnouz, Beto Brant, Vicente Amorim e Marcos Bernstein, e outros cineastas que não fazem filmes há bastante tempo e preparam seus retornos, como Arnaldo Jabor, Ana Carolina e Jorge Bodanzky.