A Mulher Invísivel

Na natureza, quando ocorre um terremoto muito forte, outros tremores menores vêm em seguida. “A Mulher Invisível” é reflexo de um efeito parecido que ocorre na indústria cinematográfica: quando um filme faz muito sucesso, surgem outros que seguem o mesmo estilo ou usam os mesmos temas. É a regra do mercado. Aqui no Brasil, depois do estrondoso recorde de público de “Se Eu Fosse Você 2” este ano, provavelmente veremos aparecer outras comédias leves, de apelo popular e que usam um elemento sobrenatural no enredo. “A Mulher Invisível”, portanto, pode ser a primeira de uma série.

O filme tem um conceito que poderia render uma boa história: o personagem de Selton Mello idealiza a mulher perfeita (Luana Piovanni) e não percebe que aquela que pode proporcionar um bom relacionamento é o tipo comum (Maria Manoella), que está ao seu alcance, logo na porta ao lado de seu apartamento.



Claudio Torres, comandando seu terceiro longa, desenvolve o tema de forma satisfatória até certo ponto, chegando a escancarar a metáfora da “mulher invisível” – o que era desnecessário, mas se é um filme mais comercial, isso não é lá um grande problema. O que complica mesmo é que o filme se desdobra em um outro episódio quando tudo já parece estar resolvido. E aí começa uma embromação que parece servir apenas para criar novas situações engraçadas.

O problema é que essas situações se esgotam rápido e nem mesmo o carisma de Selton Mello é capaz de segurá-las. Sim, o filme tem seus momentos e você certamente vai dar risadas. Mas é só isso? Não deveria haver uma preocupação maior em narrar uma boa história?

A impressão que se tem aqui é que os três principais nomes do filme estão brincando de tiro ao alvo. Claudio Torres tenta fazer uma comédia romântica típica de Billy Wilder, com uma veia irmãos Farrelly, mas erra (e desta vez nem dá para botar a culpa no roteirista, porque foi o próprio Torres quem escreveu). Selton Mello tenta ser um Steve Martin em roupagem de Seth Rogen, mas erra (em vários momentos, ele parece pensar que para ser engraçado precisa gritar, mas só está sendo irritante). Só Luana Piovanni é quem acerta ao tentar fazer um tipo Marilyn Monroe: sedutora e engraçada, sem excessos.

O melhor do filme é mesmo o elenco feminino. Além de Luana, temos Maria Manoella, que também é sedutora ao seu modo, e Fernanda Torres, que cumpre bem o papel da irmã preocupada, utilizando em favor da personagem seus tiques da época de Vani de “Os Normais”.

Eu sempre insisto nesta tecla: é de boas histórias que o cinema brasileiro precisa, se queremos que ele se torne comercialmente viável. Temos ótimos diretores, mas onde estão os ótimos roteiristas? Não adianta ficar esperando por novos “Se Eu Fosse Você 2”. Os filmes populares vão continuar surgindo, claro. Mas não precisamos ficar relegados ao convencionalismo da piada curta, do esquete televisivo que se encerra nele mesmo. “A Mulher Invisível” é cinema pipoca, mas, infelizmente, sem muito sabor.

nota: 4/10 — veja sem pressa

A Mulher Invisível (2009, Brasil)
direção: Claudio Torres; roteiro: Claudio Torres; fotografia: Ralph Strelow; montagem: Sergio Mekler; música: Luca Raele, Mauricio Tagliari; produção: Claudio Torres; com: Selton Mello, Luana Piovanni, Vladimir Brichta, Maria Manoella, Fernanda Torres, Maria Luísa Mendonça, Paulo Betti, Marcelo Adnet, Lúcio Mauro; estúdio: Conspiração Filmes, Globo Filmes, Lereby, Warner Bros., YB Music; distribuição: Warner Bros. 106 min