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Crítica: “A Rede Social”, de David Fincher

"A Rede Social" (The Social Network, 2010), de David Fincher - Divulgação

"A Rede Social" (The Social Network, 2010), de David Fincher - Divulgação

A Rede Social David Fincher
I don’t care if it hurts.
I wanna have control.
Thom Yorke

Sites de relacionamento, ou redes sociais como também são conhecidos o Orkut, o Twitter, o MySpace e o Facebook, se tornaram extremamente populares ao longo dos últimos seis, sete anos. Tudo graças às facilidades que essas ferramentas proporcionam quando o objetivo do internauta é saber quem é uma pessoa, sem precisar ser apresentado a ela ou mesmo estar online ao mesmo tempo que ela. Ver fotos, saber onde e com o quê ela trabalha, de qual cor, quais filmes, quais músicas ela gosta. E, claro, saber qual é o seu status de relacionamento: solteira, casada, num rolo?

É essa curiosidade juvenil, que surge quando ainda estamos na escola — o útero da vida social — que motivou Mark Zuckerberg a criar o Facebook, um dos principais sites de relacionamento da atualidade, que começou como uma rede de contatos entre universitários nos Estados Unidos e, hoje, conta com mais de 500 milhões de usuários em todo o mundo. Em “A Rede Social”, conhecemos os bastidores da criação do Facebook, que envolveram disputas judiciais, lavação de roupa suja e a movimentação de bilhões de dólares. Mais do que isso, o que o diretor David Fincher desenha aqui não é o retrato, mas o perfil de uma geração.

Interpretado pelo jovem talento Jesse Eisenberg, de filmes como “Zumbilândia” e “A Lula e a Baleia”, Zuckerberg é o exemplo dos chamados “bilionários acidentais”, alcunha que também é o título do livro no qual o filme é baseado. Da mesma forma que outros gênios da internet, como o co-fundador do Napster, Sean Parker (vivido na tela pelo cantor Justin Timberlake), Zuckerberg chegou ao topo sem que ninguém percebesse. Exatamente como Fincher o mostra — recluso, solitário, com um ar meio blasé de quem se importa apenas com o próprio mundo, se esgueirando pelos corredores e jardins do campus de Harvard, se escondendo atrás do laptop num canto da sala sem chamar a atenção — ele conseguiu tapear e vencer aqueles que sempre foram os mais bem sucedidos nas universidades americanas: os atletas.

No filme, os bonitões e grandalhões que o clichê do cinema enlatado sempre coloca no time de futebol americano são representados por dois irmãos gêmeos idênticos praticantes de remo (ambos vividos pelo ator Armie Hammer). Fincher faz com que eles funcionem como alívio cômico, inclusive retomando o lado irônico de “Clube da Luta” ao brincar com a trilha sonora e a montagem em uma determinada sequência com os personagens. É também quando ele prova que os atletas deixaram de ser os mais populares da escola e se tornaram os losers, os perdedores. É “A Vingança dos Nerds” virando realidade.

Só que a história de Zuckerberg é trágica. E como diz Peter Parker em “Homem-Aranha”, tudo começou com uma garota. Mas diferente do Cabeça de Teia, provavelmente o mais nerd dos super-heróis, Zuckerberg não tem nada de bom moço. Ele também não é um vilão. É alguém que parece ser incapaz de se relacionar, que simplesmente não sabe como ser um amigo ou um namorado, e que projetou no Facebook tudo aquilo que sempre quis ter. Ele criou uma vida social que só existia no mundo virtual. Ele confundiu números com pessoas, algoritmos com sentimentos, códigos com valores. Ao lado da exposição da privacidade e do roubo de propriedade intelectual, este é pelo menos um dos males deste novo século em que o digital e o virtual se impõem sobre nossas rotinas dia após dia. O que é incrível que “A Rede Social” mostra é que todas essas questões podem ser discutidas a partir dos atos de uma só pessoa: Mark Zuckerberg. Não há dúvidas de que ele merecia um filme, mesmo ainda tendo apenas 26 anos de idade.

A boa notícia, além de “A Rede Social” ser um grande filme, é que Fincher voltou a ser Fincher, depois do irregular “O Curioso Caso de Benjamin Button“. O cineasta volta a se preocupar em discutir questões do nosso tempo e retoma o seu estilo visual, algo que se percebe, por exemplo, no uso dos filtros esverdeados ou azulados em determinadas cenas. Fincher também se mostra um cineasta amadurecido, que mantém a elegância no movimento da câmera e a composição absurdamente detalhista, que aproveita todos os cantos do quadro, sem desta vez recorrer a trucagens dispensáveis (como a câmera-inseto de “O Quarto do Pânico”, que passa até mesmo por buraco de fechadura). Assim ele favorece a construção dos personagens e da narrativa. Fincher fez um filme menos eloquente que “Zodíaco“, possivelmente sua obra-prima, mas não menos relevante dentro de sua obra. ■

Nota:

A REDE SOCIAL (The Social Network, 2010, EUA) direção: David Fincher; roteiro: Aaron Sorkin (baseado no livro de Ben Mezrich); fotografia: Jeff Cronenweth; montagem: Kirk Baxter, Angus Wall; música: Trent Reznor, Atticus Ross; produção: Dana Brunetti, Ceán Chaffin, Michael De Luca, Scott Rudin; com: Jesse Eisenberg, Rooney Mara, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Josh Pence, Rashida Jones, Joseph Mazzello, Bryan Barter, Patrick Mapel; estúdio: Columbia Pictures, Relativity Media, Michael De Luca Productions, Scott Rudin Productions, Trigger Street Productions; distribuição: Columbia Pictures, Sony Pictures. 120 min

A Rede Social David Fincher

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