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VIPs

“VIPs” é um filme de dois momentos bastante distintos. Em sua primeira metade, Marcelo Nascimento, personagem de Wagner Moura, se envolve com o contrabando de armas e o tráfico de drogas quase que por acidente em sua tentativa de ser alguém – para ser mais exato, alguém como o pai, um piloto respeitado. Mas ao invés de seguir os conselhos do progenitor e começar de baixo, Marcelo decide pegar um atalho no crime para subir mais rápido na vida.

No cenário composto por um chefe do tráfico, jagunços e policiais federais, o filme se concentra em colocar Marcelo em perigo. Natural, portanto, que o clima dessa primeiras metade seja pesado. E se Marcelo conseguiu tapear criminosos e policiais, por que não conseguiria enganar um bando de socialites que não se preocupam nem mesmo com a aparência, mas apenas com o status sócio-econômico que alguém tem ou diz ter? É quando começa a segunda parte do filme, mais arejada e bem-humorada, como talvez muita gente espera que seja o filme inteiro.

Não. “VIPs” dificilmente é uma comédia. Possui algumas cenas cômicas, a maior parte justamente na festa de vips onde acontece o famoso episódio com o apresentador Amaury Jr., que na vida real se deixou enganar por Marcelo. Fora isso, “VIPs” se esforça mais em entender Marcelo e sua (falta de) personalidade. O filme, então, revela-se um drama. Como o personagem, tem a habilidade de se transformar, se fazer passar por outra coisa.

Nas mãos de um cineasta mais ousado, poderia ter se tornado um grande filme, que brincasse mais com essa mistura de gêneros e com as próprias possibilidades ou impossibilidades da história de Marcelo. Mas o diretor Toniko Melo não consegue chegar neste além, provavelmente devido à pouca experiência com cinema (este é seu primeiro longa, apesar do extenso currículo como diretor publicitário). Contenta-se apenas em contar ou reencenar a história sem mergulhar nela, ao contrário do que uma cena de seu filme sugere. É sempre um olhar de fora, sem nunca assumir a visão mais interessante, que é a do protagonista.

Merece elogios, claro, a atuação de Wagner Moura, que mais uma vez mostra porque é um de nossos melhores atores. Para interpretar um cameleão como Marcelo Nascimento, que encarnou os personagens que criou, a escolha é excelente. E por isso mesmo, mais uma vez é de se lamentar que Melo não tenha explorado todo o potencial da versatilidade do ator.

VIPs (2010, Brasil)
direção: Toniko Melo; roteiro: Bráulio Mantovani, Thiago Dottori (baseado no livro de Mariana Caltabiano); fotografia: Mauro Pinheiro Jr.; montagem: Gustavo Giani; música: Antonio Pinto; produção: Fernando Meirelles, Paulo Morelli, Bel Berlinck; com: Wagner Moura, Arieta Corrêa, Gisele Froes, Juliano Cazarré, Norival Rizzo, Roger Gobeth, João Francisco Tottene; estúdio: O2 Filmes; distribuição: Universal Pictures. 95 min

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