Assalto ao Banco Central

O que mais interessa a “Assalto ao Banco Central” não é o plano que leva um grupo de criminosos a cavar um túnel e roubar milhões de reais do cofre da autoridade monetária em Fortaleza sem ser notado – um crime verídico, ocorrido em 2005. Surpreendentemente, a principal preocupação do longa dirigido pelo ator Marcos Paulo e escrito por Renê Belmonte é a relação entre os membros da gangue, o que afasta um pouco a produção do rótulo de filme policial.

Falando assim, parece até que a escolha foi acertada. E poderia ter sido. Mas, talvez na crença de que o modelo para o sucesso de filmes nacionais seja o humor popular, Marcos Paulo e Belmonte transformaram “Assalto ao Banco Central” em uma comédia de ação – e das ruins – baseada em fórmulas já exploradas pelo cinema americano.



Se há uma tentativa de explorar as possibilidades de cada personagem, ela acaba levando-os a cair na caricatura dos especialistas engraçados, que já vimos em produções hollywoodianas como “Onze Homens e um Segredo” e no recente “Velozes e Furiosos 5”. Cada membro do grupo de ladrões tem seu papel: Tonico Pereira é um engenheiro iludido pela utopia comunista (!), Gero Camilo é o encarregado de cavar o buraco (sem nenhuma sutileza, seu apelido é Tatu), Milhem Cortaz é o mentor do plano e Eriberto Leão é o melhor amigo que cobiça a mulher do próximo, interpretada pela fêmea fatal Hermila Guedes. E por aí vai. Já a Vinícius de Oliveira, aquele mesmo que interpretou o garoto Josué em “Central do Brasil”, cabe o ingrato papel de um rapaz afeminado e desajeitado que é o peixe fora d’água e pode por tudo a perder.

Se os criminosos são caricatos, o mesmo vale para o outro lado da lei, com Lima Duarte fazendo o policial prestes a se aposentar e Giulia Gam vivendo a delegada em ascensão – cuja opção sexual, inexplicavelmente, serve como alívio cômico (pelo visto, ser gay é motivo de piada para os realizadores do longa, vide o papel de Vinícius de Oliveira mencionado no parágrafo anterior).

Assim, com uma gama de personagens que sempre têm uma frase de efeito na ponta da língua, “Assalto ao Banco Central” se torna um deboche. E em suas idas e vindas no tempo que quebram a linearidade narrativa, o filme se esforça para ser “muderno”, mas acaba saindo como cópia barata de “O Plano Perfeito”, de Spike Lee.

Mas o pior não é “Assalto ao Banco Central” ser um filme ruim. O mais triste é constatarmos o cenário em que o filme se insere no cinema brasileiro atual, pelo menos a parte dele que visa o grande público: ou se copia fórmulas prontas de fora ou se imita fórmulas internas. Assim, os realizadores parecem ter mirado o humor de “Tropa de Elite”, mas fizeram o de “Se Eu Fosse Você”. Como os produtores e o roteirista de “Assalto ao Banco Central” também são responsáveis pela comédia estrelada por Glória Pires e Tony Ramos, parece que estamos diante de um caso bizarro em que foram os filmes que trocaram de corpo.

Assalto ao Banco Central (2011, Brasil)
direção: Marcos Paulo; roteiro: Renê Belmonte; fotografia: José Roberto Eliezer; montagem: Felipe Lacerda; música: André Moraes; produção: Marcos Didonet, Vilma Lustosa, Walkiria Barbosa; com: Milhem Cortaz, Eriberto Leão, Hermila Guedes, Lima Duarte, Tonico Pereira, Gero Camilo, Vinícius de Oliveira, Heitor Martinez, Cadu Fávero, Fábio Lago, Juliano Cazarré, Creo Kellab, Giulia Gam, Cássio Gabus Mendes, Antônio Abujamra, Milton Gonçalves, Daniel Filho; estúdio: Total Entertainment, Globo Filmes, Telecine, Fox International Productions; distribuição: Fox Film. 104 min