No ano passado, a Disney levou multidões aos cinemas para ver Angelina Jolie em “Malévola”, versão alternativa da história da Bela Adormecida, narrada do ponto de vista da vilã.
Este ano, o estúdio, famoso por suas animações inspiradas em contos de fadas, trouxe às telas uma nova versão de “Cinderela”. Mas ela não é tão nova assim.
O que existe de novidade é que é um longa-metragem feito com atores e sets, o chamado “filme live-action”, de “carne e osso”. Mas, diferente de “Malévola”, a história aqui é exatamente a mesma que você e eu conhecemos desde a nossa infância.
Com a novata Lily James no papel principal e a vencedora do Oscar Cate Blanchett como a madrasta, “Cinderela” é dirigido por Kenneth Branagh, ator e cineasta britânico mais lembrado por suas adaptações de Shakespeare para o cinema. Ele nunca se preocupou em atualizar as peças que filmou, como “Hamlet”. E não é com este conto de fadas que ele mudou de ideia.
O filme capricha muito nos cenários, no figurino, na direção de arte como um todo, e nos efeitos especiais. A cena em que a carruagem se transforma em abóbora é muito bem realizada, por exemplo. É um filme muito bonito de se ver, mas fica aquela sensação de estarmos diante apenas de uma versão com atores da clássica animação feita pela própria Disney.
O estúdio perde a chance de modernizar a personagem, enquanto suas colegas Rapunzel e Branca de Neve, além da já mencionada Bela Adormecida, se tornaram mulheres mais corajosas e destemidas, que não estão simplesmente esperando pelo príncipe encantado em pleno século 21.
Outro bom e recente exemplo de conto de fadas moderno que a Disney nos apresentou é a animação “Frozen – Uma Aventura Congelante”, em que o conceito de amor que move a trama não é simplesmente aquele que leva ao “e viveram felizes para sempre”. Perto desse filme, “Cinderela” é um retrocesso. Um retrocesso muito belo, diga-se. Mas, um retrocesso. ■
(Este texto foi adaptado da resenha produzida para o programa Cinefonia, da Rádio Inconfidência, de 02/05/15.)

Editor-chefe e criador do Cinematório. Jornalista profissional, mestre em Cinema pela Escola de Belas Artes da UFMG e crítico filiado à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Também integra a equipe de Jornalismo da Rádio Inconfidência, onde apresenta semanalmente o programa Cinefonia.