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Cannes 2021: Conheça os filmes brasileiros que estão no festival

Mari Oliveira em "Medusa" (2021), de Anita Rocha da Silveira - Divulgação - Foto: Bruno Mello

Mari Oliveira em "Medusa" (2021), de Anita Rocha da Silveira - Divulgação - Foto: Bruno Mello

Com o anúncio da seleção oficial do 74º Festival de Cannes, bem como dos títulos da Quinzena dos Realizadores, é hora de conhecer mais detalhes sobre os filmes brasileiros que participam do evento este ano, entre os dias 6 e 17 de julho.

O Marinheiro das Montanhas

Apesar de filmes brasileiros não estarem na competição pela Palma de Ouro em Cannes este ano, um longa nacional se destaca na lista de exibições especiais do festival. É “O Marinheiro das Montanhas”, mais novo trabalho do diretor Karim Aïnouz. Em 2019, ele venceu a prestigiada mostra paralela Um Certo Olhar com o melodrama “A Vida Invisível”. Agora, ele retorna a Cannes com um filme que documenta a relação de amor entre seus pais: a brasileira Iracema e o argelino Majid.

Em recente entrevista, Aïnouz descreveu o novo filme como “uma viagem de reconhecimento de dois países” e o comparou a “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo”, longa que ele codirigiu com Marcelo Gomes em 2009. “Peguei um barco em Marselha e fui parar na Argélia, no vilarejo de onde meu pai vem, que é uma região montanhosa, onde neva. Minha mãe morreu em 2015, mas ela está comigo nessa jornada como uma espécie de companheira imaginária. E fui filmando no trajeto, construindo um filme de forma artesanal, que venho editando e espero terminar de montar até julho ou agosto”, comentou no início de maio, antes do anúncio da seleção para Cannes.

Entre registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família, arquivos históricos e trechos de super-8, o longa opera uma costura fina entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília (região montanhosa no norte da Argelia) e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe.

“É muito importante para um filme tão íntimo e pessoal estrear nessa gigante vitrine internacional que celebra a diversidade e excelência e de tanto prestígio que é Cannes. É um festival que tem acompanhado de perto meu trabalho, que acolhe e joga uma luz nos filmes que tenho feito, permitindo que eles sejam descobertos mundo afora. É um privilégio ser convidado e poder contar com essa visibilidade”, ressalta Karim, que também exibiu em Cannes “Madama Satã” e “O Abismo Prateado”.

"O Marinheiro das Montanhas" (2021), de Karim Aïnouz - Divulgação
“O Marinheiro das Montanhas” (2021), de Karim Aïnouz – Divulgação

O cineasta narra o filme em primeira pessoa, enquanto lê uma carta para a sua mãe, já falecida, transformada aqui em uma companheira imaginária de viagem. Enquanto relata e comenta episódios da jornada, ele reativa memórias familiares e revela os muitos sentimentos contraditórios que marcam o seu percurso. “Com ‘O Marinheiro das Montanhas’, eu quis correr o risco de que a maturidade e a experiência me permitem. Antes de tudo, um risco artístico ao me distanciar do que sei, abrindo o projeto ao inesperado. O risco também de me ver enfrentando minhas origens, minha identidade”, analisa Karim.

“O Marinheiro das Montanhas” será distribuído no Brasil pela Vitrine Filmes.

Medusa

Entre os filmes brasileiros em Cannes, a Quinzena dos Realizadores selecionou “Medusa”, segundo longa da carioca Anita Rocha da Silveira, diretora do aclamado “Mate-me Por Favor”. Ela participa desta prestigiada mostra paralela do festival dedicada a novos filmes de cineastas independentes e em ascensão.

"Medusa" (2021), de Anita Rocha da Silveira - Divulgação
“Medusa” (2021), de Anita Rocha da Silveira – Divulgação/Bananeira Filmes

Produzido pela Bananeira Filmes, de Vânia Catani, “Medusa” parte do lendário mito grego para falar sobre a opressão vivida pela mulher brasileira em meio à expansão do conservadorismo na nossa sociedade nos últimos anos. Assim como em “Mate-me Por Favor” e em seus curtas (disponíveis no Vimeo), Anita volta a fazer um comentário social e a trabalhar com o cinema de horror.

A sinopse do longa é a seguinte: “Brasil, dias atuais. Mariana (papel da atriz Mari Oliveira), de 21 anos, pertence a um mundo onde deve se esforçar ao máximo para manter a aparência de uma mulher perfeita. Para resistir à tentação, ela e suas amigas fazem o possível para controlar tudo e todos ao seu redor. E isso inclui os pecadores da cidade. À noite, seu esquadrão feminino coloca máscaras, caça e espanca todas as mulheres que se desviaram do caminho certo. No entanto, chegará o dia em que a vontade de gritar será mais forte do que nunca…”

Confira mais algumas imagens de “Medusa”:

"Medusa" (2021), de Anita Rocha da Silveira - Foto: Vitrine Filmes/Divulgação
"Medusa" (2021), de Anita Rocha da Silveira - Foto: Vitrine Filmes/Divulgação
"Medusa" (2021), de Anita Rocha da Silveira - Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

Em 2017, o projeto participou de laboratórios de desenvolvimento na Berlinale Talents, na Alemanha, e no Torino Film Lab, na Itália.

O Empregado e o Patrão

Além dos dois filmes brasileiros “puro-sangue” já mencionados, Cannes 2021 exibe o longa-metragem “O Empregado e o Patrão”, uma coprodução entre Uruguai, Brasil, Argentina e França. Foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores e tem o envolvimento das produtoras brasileiras Sancho&Punta (“Os Jovens Baumann”, “Ontem Havia Coisas Estranhas no Céu”) e Vulcana (“Rifle”, “Tinta Bruta”).

A direção do filme é do uruguaio Manuel Nieto Zas, que está em seu terceiro longa. Sua estreia foi em 2006 com “La perrera”, vencedor do Festival de Roterdã. Em seguida, ele dirigiu “El lugar del hijo”, lançado em 2013 e vencedor dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Roteiro na competição latina do Festival de Gramado.

"O Empregado e o Patrão" (2021), de Manuel Nieto Zas - Divulgação
“O Empregado e o Patrão” (2021), de Manuel Nieto Zas – Divulgação

Estrelado por Nahuel Pérez Biscayart (vencedor do César de Melhor Ator Revelação por “120 Batimentos por Minuto”), o “O Empregado e o Patrão” aborda um drama familiar e social ambientado num faroeste nos pampas da América do Sul, que cruza fronteiras e coloca em xeque as relações de trabalho tradicionais. O patrão tem tudo garantido na vida, exceto uma preocupação premente: a saúde frágil de seu bebê. O empregado busca sustento para sua filha recém-nascida e aceita uma oferta para trabalhar nas terras do patrão. Um inesperado evento trágico e uma corrida de cavalos acirrada colocam em risco o destino das duas famílias.

O filme será distribuído no Brasil pela Vitrine Filmes e tem estreia prevista para 12 de agosto, nos cinemas. Veja o trailer.

Murina

Outra coprodução brasileira na Quinzena dos Realizadores é “Murina”, primeiro longa da diretora croata Antoneta Alamat Kusijanovic, que tem Rodrigo Teixeira no time de produtores, através da RT Features.

O filme foi desenvolvido com o apoio do Festival de Cannes Résidence, Cinéfondation, First Films First do Ghoethe-Institute, e o Jerusalem Film Lab, e também tem Martin Scorsese (“O Irlandês”, “Taxi Driver”) como produtor, através da Sikelia Productions.

Em “Murina”, a relação entre a adolescente Julija e Ante, seu opressivo pai, é tensionada ao limite quando um velho amigo da família chega em sua casa insular na Croácia. Enquanto Ante tenta fechar um negócio que vai mudar suas vidas, Julija, incomodada com a vida pacata e isolada que levam, busca mudanças através do visitante que traz consigo um gosto de liberação em um fim de semana cheio de desejo e violência.

"Murina" (2021), de Antoneta Alamat Kusijanovic - Divulgação
“Murina” (2021), de Antoneta Alamat Kusijanovic – Divulgação

Teixeira afirma que “Murina” é “um filme muito especial, que foi desenvolvido dentro da RT e que vai revelar ao mundo a diretora multitalentosa que é a Antoneta, além de fortalecer ainda mais nossa parceria com Scorsese, pois esse é o nosso terceiro filme com a Sikelia, e todos eles tiveram sua estreia mundial no Festival de Cannes”.

Os outros dois filmes coproduzidos por Teixeira e Scorsese e exibidos em Cannes foram “Ciganos da Ciambra” (2017), de Jonas Carpignan o e “Port Authority” (2019), de Danielle Lessovitz.

A Noite do Fogo

Primeiro longa de ficção da diretora Tatiana Huezo, “A Noite do Fogo” participa da mostra Um Certo Olhar. O filme é fruto da parceria da produtora brasileira Desvia (que tem como sócios o diretor Gabriel Mascaro, de “Boi Neon”, e a produtora Rachel Ellis) com a mexicana Pimienta Films.

A trama se passa em uma cidade solitária situada nas montanhas mexicanas, onde três amigas ocupam as casas daqueles que fugiram e se vestem de mulheres quando ninguém está olhando. Enquanto magia e alegria abundam no próprio universo impenetrável delas, suas mães treinam as três garotas para se protegerem dos grupos de sequestradores que atuam na região, até que um evento altera a rotina do povoado.

“A Noite do Fogo” é estrelado por Mayra Batalla, Norma Pablo e Olivia Lagunas.

“A Noite do Fogo” (2021), de Tatiana Huezo - Divulgação
“A Noite do Fogo” (2021), de Tatiana Huezo – Divulgação

Cantareira

O paradoxo entre a metrópole e a natureza que literalmente a rodeia ganha corpo numa localidade: a Serra da Cantareira. Esse é o tema do curta-metragem “Cantareira”, realizado pelo paulistano Rodrigo Ribeyro e selecionado para a Cinéfondation de 2021 – programa de Cannes focado em novos diretores, ainda estudantes.

Produzido como trabalho de conclusão de curso da Academia Internacional de Cinema de São Paulo, o filme mostra a história de Bento e Sylvio, neto e avô respectivamente, ambos com raízes profundas na Serra da Cantareira, mas em momentos diferentes de vida. O mais velho contempla preocupado o atual estado da Serra, com o “avanço” à espreita do aspecto natural do lugar, já cicatrizado por lojas e estradas abertas em meio a mata. O jovem vive em São Paulo, solitário, envolto pela cacofonia da cidade grande. Seria melhor voltar ao lugar onde cresceu?

"Cantareira" (2021), de Rodrigo Ribeyro - Divulgação
“Cantareira” (2021), de Rodrigo Ribeyro – Divulgação

O diretor afirma que baseou muito de sua vivência para criar o roteiro. “Eu cresci na Cantareira, nesse lugar tranquilo, onde o tempo corre (ou corria) numa outra velocidade e onde o som colabora (ou colaborava) para um estado muito mais sereno”, descreve Ribeyro. “Mudar para o centro de São Paulo, fazer amizade com os trabalhadores da região e perceber todas essas diferenças foi a faísca”.

O curta também discute as ambiguidades dos impactos econômico, ambiental e social que afetam a Serra da Cantareira hoje em dia. “Por conta disso, há vários aspectos documentais como, por exemplo, a locação da cena final, a Pedreira do Dib, que neste momento está sendo fortemente descaracterizada”, diz o realizador.

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