25ª Mostra de Tiradentes: cinema online e em transição

A Mostra de Cinema de Tiradentes realiza, de 21 a 29 de janeiro, a sua 25ª edição. O evento se preparava para retornar à cidade histórica com sessões presenciais, mas o avanço das infecções pela variante Ômicron do coronavírus fez a Universo Produção transferir toda a programação para o ambiente online, a exemplo do formato utilizado na mostra de 2021. O acesso a todos os 169 filmes, debates e demais atividades é gratuito, por meio do site mostratiradentes.com.br.

Além dos 25 anos do festival, Tiradentes também celebra os 15 anos da sua principal competição: a Mostra Aurora. Dedicada ao cinema brasileiro contemporâneo de invenção, a Aurora apresenta em 2022 sete filmes realizados por cineastas com até três longas-metragens no currículo. A curadoria é de Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.

Duas produções mineiras estão na Aurora: “Grade”, dirigido por Lucas Andrade, que insere a fabulação em um documentário observacional; e “Sessão Bruta”, de As Talavistas e ela.ltda, obra de proposta radical de linguagem e performance. Produções de outros quatro estados também estão na competição da Aurora: a pernambucana “Seguindo Todos os Protocolos”, de Fábio Leal, a cearense “A Colônia”, e Virgínia Pinho e Mozart Freire, as paulistas “Panorama”, de Alexandre Wahrhaftig, e “Bem-Vindos de Novo”, de Marcos Yoshi, e a coprodução Rio-São Paulo, “Maputo Nakurandza”, de Ariadine Zampaulo. Saiba mais sobre cada filme no site oficial.



Homenagem

Desde a histórica e apoteótica sessão de “A Cidade é uma Só?” em 2012 – quando inclusive saiu com o Troféu Barroco de melhor filme da Mostra Aurora –, Adirley Queirós, cineasta de Ceilândia, no Distrito Federal, vem apresentando seus novos e instigantes trabalhos no evento. Junto ao Ceicine (Coletivo de Cinema da Ceilândia), ele toma parte historicamente em um panorama contemporâneo que, nos últimos 16 anos, se fez entre a independência radical dos coletivos e o estímulo das políticas públicas para o audiovisual em nível federal, estadual e municipal, com o fomento a pequenas produções.

Adirley Queirós, cineasta homenageado da 25ª Mostra de Tiradentes - Foto: Leo Lara/Universo Produção
Adirley Queirós, cineasta homenageado da 25ª Mostra de Tiradentes – Foto: Leo Lara/Universo Produção

O cinema de Adirley permite traçar uma trajetória que reflete um processo político de um passado de violência traumática que determina o presente e influencia os rumos do futuro, em filmes como “Rap, o Canto da Ceilândia” (2005), “Dias de Greve” (2009), “Fora de Campo” (2010), o citado “A Cidade é Uma Só?” (2012) e os posteriores “Branco Sai, Preto Fica” (2014) e “Era Uma Vez Brasília” (2017). Todos os títulos serão exibidos na Mostra Homenagem, sendo obras fundamentais nesse rosto de transição que o cinema brasileiro foi adquirindo nos últimos anos.

Olhos Livres

Nomeada em tributo ao cineasta Carlos Reichenbach, a Mostra Olhos Livres é um recorte da programação que se caracteriza pela diversidade de formas e conceitos, sem critérios uniformizantes ou regulamento prévio. Ao longo dos anos, consolidou-se como panorama amplo de algumas das proposições mais instigantes do cinema contemporâneo brasileiro, muitas vezes vindas de realizadores já com trajetória significativa nos circuitos de exibição nacional e estrangeiro.

"O Dia da Posse" (2021), de Allan Ribeiro - Divulgação
“O Dia da Posse” (2021), de Allan Ribeiro – Divulgação

Em 2022, os títulos, selecionado são: “O Dia da Posse” (RJ), de Allan Ribeiro; “Você nos Queima” (SP), de Caetano Gotardo; “Os Primeiros Soldados” (ES), de Rodrigo de Oliveira; “Germino Pétalas no Asfalto” (SP), de Coraci Ruiz e Julio Matos; “Manguebit” (PE-SP-RJ), de Jura Capela; e “Ava – Até que os Ventos Aterrem” (SP), de Camila Mota.

Mostra Praça

Em filmes de diálogo imediato com o público – mas nem por isso mais simples ou menos complexos –, os títulos da Mostra Praça em 2022 apresentam desafios estéticos estimulantes em várias possibilidades de impacto. Além de três sessões de curtas-metragens, a praça será espaço de diversos longas-metragens em pré-estreia.

O premiadíssimo “Carro Rei” (PE), de Renata Pinheiro, mostra o jovem Uno e seu fantástico poder de conversar com carros. Quando uma lei proíbe a circulação de automóveis antigos, Uno e seu tio transformam o velho táxi da família em “novo”, o que acarreta uma série de consequências entre a alegoria e o medo.

"Carro Rei" (2021), de Renata Pinheiro - Divulgação
“Carro Rei” (2021), de Renata Pinheiro – Divulgação

Outro título com passagens bem-sucedidas em festivais é “A Felicidade das Coisas” (SP), estreia de Thais Fujinaga no longa-metragem. O filme acompanha Paula à espera de seu terceiro filho enquanto passa o tempo entre uma praia feia e uma recém-adquirida e modesta casa de veraneio, no litoral paulista. Quando seus planos se desfazem por conta de problemas financeiros, ela se torna cada vez mais sufocada pelo peso das responsabilidades.

A seleção da Mostra Praça também inclui “Lutar, Lutar, Lutar” (MG), documentário de Helvécio Marins Jr e Sérgio Borges, que conta a história centenária do Clube Atlético Mineiro desde sua fundação, em 1908, até o título da Copa do Brasil de 2014, passando pela épica conquista da Libertadores em 2013.

Outro título interessante é “As Faces do Mao” (SP), de Dellani Lima e Lucas Barbi, que acompanha a trajetória e o cotidiano de José Rodrigues Mao Jr., professor de história, sindicalista, vocalista e fundador da banda Garotos Podres, icônico grupo de punk brasileiro dos anos de 1980.

O urgente tema das barragens rompidas em Minas Gerais está em “Lavra” (MG), de Lucas Bambozzi, que segue a personagem Camila, geógrafa de volta à terra natal depois que o rio de sua cidade ser contaminado por uma mineradora. Ela decide fazer um mapeamento dos impactos da mineração em Minas e se envolve com ativistas e movimentos de resistência, em busca de tentar recuperar seu próprio mundo e se embrenhar na guerra entre capitalismo e natureza.

Mostra Temática

Proposta para a 25ª edição da Mostra de Tiradentes, a temática “Cinema em Transição” parte da percepção de que o cinema brasileiro atravessa um período complexo e delicado em diversos setores: do desenvolvimento de projetos à produção, das filmagens à finalização, da distribuição à exibição, toda a cadeia de realização tem sido reestruturada, reconfigurada e, muitas vezes, revolucionada.

“Estamos num período histórico de aceleração dos processos, que passa pela economia e pela criatividade no audiovisual, desde as formas de financiamento até a efervescência das plataformas de streaming e a crise das salas físicas”, destaca o coordenador curatorial Francis Vogner dos Reis.

A forte presença de filmes dirigidos por pessoas negras, trans e indígenas, a proliferação de coletivos criativos vindos de outras áreas artísticas para além do cinema e a experimentação de formatos, linguagens e espaços de exibição serão fundamentais para se compreender a amplitude dos conceitos tratados na Mostra em 2022.

Sob esse recorte, cinco sessões vão apresentar e refletir os processos de transição (entre formas, plataformas, temas e artistas) pelos quais passa a produção audiovisual nos últimos anos. “Diário Dentro da Noite” (RJ), de Chico Diaz (ator homenageado pela 16a CineOP em 2021), lida com as angústias da pandemia durante confinamentos realizados em meio à montagem de uma peça a partir do livro “A Lua Vem da Ásia”, de Campos de Carvalho.

"Hit Parade" (2021), de Marcelo Caetano - Divulgação
“Hit Parade” (2021), de Marcelo Caetano – Divulgação

Outro título desse recorte é “Hit Parade” (MG), série de TV dirigida por Marcelo Caetano que terá dois episódios exibidos na Mostra. No enredo, após levar um golpe do produtor Missiê Jack, o compositor Simão abre uma gravadora para enfrentar seu rival. Em pouco tempo, uma guerra entre eles domina a música pop dos anos 80.

Uma reunião de curtas-metragens também vai tratar desse cenário de transições, com os filmes “Rua Ataleia”, de André Novais Oliveira; “Voz na Escuridão”, de José Hélio Neto; “Qual é a Grandeza?”, de Marcus Curvelo; “521 Anos”, de adanilo; e “YÃY TU NŨNÃHÃ PAYEXOP: Encontro de Pajés”, de Sueli Maxakali; assim como o média-metragem “Ficções Sônicas #2 – Feitiço”, de Grace Passô e Aline Vila Real.

Curtas

A 25ª Mostra de Tiradentes vai exibir 100 curtas-metragens de 18 estados brasileiros em diferentes sessões que abarcam a pluralidade da produção audiovisual nacional num de seus formatos mais arrojados. A curadoria de curta-metragem para 2022 teve o trabalho desenvolvido pelo trio Camila Vieira, Tatiana Carvalho Costa e Felipe André Silva.

Apesar da pandemia e dos impactos no cenário cultural, foram recebidas 919 inscrições (ante 748 na edição anterior), das quais definiram-se os 100 filmes, distribuídos nas mostras Foco (13), Panorama (26), Jovem (5), Formação (8), Mostrinha (5), Praça (13), Regional (6), Foco Minas (11), Homenagem (3), Valores (1) e Temática (9). Em 2021, foram exibidos 79 curtas, portanto 2022 contará com acréscimo significativo de títulos.

"Uma paciência selvagem me trouxe até aqui" (2021), de Érica Sarmet - Divulgação
“Uma paciência selvagem me trouxe até aqui” (2021), de Érica Sarmet – Divulgação

A Mostra Foco é a principal competitiva de curtas de Tiradentes. Neste ano, disputam o Troféu Barroco: “A Morte de Lázaro”, de Bertô (SP), “Bege Euforia”, de Anália Alencar (RN), “Bicho Azul”, de Rafael Spínola (RJ), “Eu Te Amo é no Sol”, de Yasmin Guimarães (MG), “Iceberg”, de Will Domingos (RJ), “Ingra!”, de Nicolas Thomé Zetune (SP), “Madrugada”, de Leonardo da Rosa e Gianluca Cozza (RS), “Na estrada sem fim há lampejos de esplendor”, de Liv Costa e Sunny Maia (CE), “O Nascimento de Helena”, de Rodrigo Almeida (RN), “Prata”, de Lucas Melo (RJ), “Prosopopeia”, de Andreia Pires (CE), “Rumo ao Desvio”, de Linga Acácio (CE), “Uma paciência selvagem me trouxe até aqui”, de Érica Sarmet (SP).

Para saber mais sobre cada filme e conferir todas as atividades extras da 25ª Mostra de Tiradentes, visite o site oficial.

Com informações da assessoria de imprensa da Universo Produção.