O filme “Marte Um”, dirigido por Gabriel Martins e produzido pela Filmes de Plástico, foi escolhido para representar o Brasil no Oscar 2023. O longa-metragem, que teve sua estreia mundial no Festival de Sundance e ganhou quatro prêmios no Festival de Gramado, irá disputar uma vaga na categoria Melhor Filme Internacional. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (05/09) pela Academia Brasileira de Cinema. Esta é a primeira vez que um filme dirigido por um cineasta preto é selecionado para tentar a indicação pelo país.
“Estamos vivendo um momento de muita honra, e muita felicidade, a mim pessoalmente, pela Filmes de Plástico e por toda a equipe do filme, porque estamos abrindo portas e sem dúvida alguma deixando um rastro de esperança e vontade para quem está chegando agora para fazer cinema, em um momento em que podem estar desacreditados de até onde um filme pode chegar”, disse Gabriel Martins, em depoimento sobre a escolha do filme para tentar a indicação ao Oscar. “Essa seleção é o resultado do trabalho de muita gente, e eu acho que esse é o sentimento mais importante, pois ‘Marte Um’ definitivamente não é um filme que está caminhando sozinho. É o trabalho de muita gente que quer que esse filme voe longe e é isso que representa para mim o que o cinema brasileiro pode ser: uma força coletiva linda e resistente e que não deixa nunca de sonhar com um futuro lindo para a nossa arte”, completou o cineasta. Na entrevista que concedeu ao cinematório, Gabriel também falou sobre o sentimento de ter o filme selecionado para representar o Brasil na premiação.
“A escolha de ‘Marte Um’ para representar o Brasil no Oscar 2023 foi uma decisão democrática e importante do júri. O filme trata de afeto e de esperança, da possibilidade de seguir sonhando em meio a tantas dificuldades econômicas e políticas”, afirma Bárbara Cariry, presidente da comissão responsável pela escolha. Para ela, o longa “sintetiza bem o cinema brasileiro, com qualidade narrativa e técnica, que vem sendo realizado hoje, representando a diversidade do país”.
A comissão de seleção formada pela Academia Brasileira de Cinema este ano tinha 25 membros titulares, todos profissionais do audiovisual brasileiro, incluindo produtores, realizadores, atores e atrizes. Entre os diretores que fizeram parte da seleção estavam Aly Muritiba (de “Deserto Particular”, escolhido para representar o Brasil no Oscar 2022), Guilherme Fiúza Zenha (“O Menino no Espelho”), Jeferson De (“Bróder”), Petra Costa (“Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020) e Zelito Viana (“Morte e Vida Severina”).
Representatividade preta
Pela primeira vez no Brasil, um filme de um diretor preto é escolhido para representar o país no Oscar. Caso seja indicado, Gabriel Martins será o quarto diretor preto a ter um filme indicado nessa categoria na história da premiação. Os outros foram: o franco-argelino Rachid Bouchareb (indicado por “Fora da Lei”, em 2011, “Dias de Glória”, em 2007, e “Dust of Life”, em 1996), o mauritano Abderrahmane Sissako (“Timbuktu”, em 2015) e o francês Ladj Ly (“Os Miseráveis”, em 2020).
Filmado em Belo Horizonte e Contagem, “Marte Um” acompanha os Martins, família negra de classe média baixa. Eles seguem a vida entre seus compromissos do dia-a-dia e seus desejos e expectativas, mesmo com a tensão de um governo conservador que acaba de assumir o poder no país. Em meio a esse cotidiano, Tércia cuida da casa enquanto passa por crises de angústia, Wellington quer ver o filho virar jogador de futebol profissional, Eunice tem um novo amor e o pequeno Deivinho sonha em colonizar Marte.
Rejane Faria (da série “Segunda Chamada”), Carlos Francisco (de “Bacurau” e da Companhia do Latão de teatro) e os estreantes Camilla Damião e Cícero Lucas interpretam os Martins. O elenco conta ainda com Ana Hilário, Russo APR, Dircinha Macedo e participações especiais de Tokinho e do ex-jogador do Cruzeiro e da Seleção Argentina Juan Pablo Sorin.
História no Oscar
Caso esteja entre os filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, “Marte Um” quebrará um jejum de mais de 20 anos do Brasil na categoria. “Central do Brasil” foi o último longa nacional indicado, em 1999, quando a categoria ainda se chamava Melhor Filme em Língua Estrangeira. Antes, o Brasil competiu com “O Que é Isso, Companheiro?”, em 1998, “O Quatrilho”, em 1996, e “O Pagador de Promessas”, em 1963. “Orfeu Negro”, que teve coprodução do Brasil e é falado em português, também foi indicado e venceu, em 1960, mas oficialmente o filme dirigido por Marcel Camus foi inscrito como representante da França.
“‘Marte Um’ ser o escolhido para representar o Brasil na esperança de uma nova indicação ao Oscar de Filme Internacional, 25 anos depois de ‘Central do Brasil’, parece um desses sonhos impossíveis. Mas acho que essa é a especialidade da Filmes de Plástico”, disse o produtor Thiago Macêdo Correia, da Filmes de Plástico, responsável também pelos premiados e aclamados longas “Temporada”, “No Coração do Mundo“, “Ela Volta na Quinta” e “A Felicidade das Coisas”, além dos curtas “Contagem”, “Quintal”, “Nada”, “Rapsódia para o Homem Negro”, “Pouco Mais de um Mês”, entre vários outros.
Em cartaz nos cinemas desde 25 de agosto, “Marte Um” deve ampliar o número de salas a partir da próxima quinta-feira (08/09). O longa tem coprodução do Canal Brasil e distribuição da Embaúba Filmes. Uma semana antes da estreia nos cinemas, o filme foi aclamado no 50º Festival de Gramado, onde recebeu o Prêmio Especial do Júri, o Prêmio do Júri Popular, além dos troféus Kikitos de Melhor Roteiro, também assinado por Gabriel Martins, e Melhor Trilha Musical, de Daniel Simitan. Ainda foi exibido em 35 festivais internacionais, ganhando prêmios de melhor longa no OutFest, no Black Star e no San Francisco Film Festival.
O anúncio dos indicados ao Oscar 2023 será feito em 24 de janeiro. Mas antes, em 21 de dezembro de 2022, a Academia de Hollywood revelará os filmes finalistas em diversas categorias e já poderemos saber se “Marte Um” continuará na disputa. O último filme brasileiro que entrou na chamada “pré-lista” do Oscar foi “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, em 2008 — curiosamente, um filme que também tem o futebol como pano de fundo.
