"Wandinha" (Wednesday, 2022) - Foto: Netflix/Divulgação

“Wandinha”: nostalgia sem perder a relevância

Uma das personagens mais queridas de “A Família Addams”, Wandinha ganha uma nova interpretação na série recém-lançada pela Netflix — uma das apostas mais acertadas dessa nova safra de originais da plataforma. A direção é assinada pela trinca de diretores liderada pelo aclamado Tim Burton (“Os Fantasmas Se Divertem, Edward Mãos de Tesoura”), que trabalha ao lado de Gandja Monteiro (“Vingança Sabor Cereja”) e James Marshall (“Smallville”).

Quem dá vida à icônica personagem criada por Charles Addams é a talentosa Jenna Ortega (“X – A Marca da Morte”), atriz que vem se destacando na cena do horror (ela também protagonizou o quinto filme da franquia “Pânico” este ano). Além dela, a produção conta com um elenco de peso com nomes como Catherine Zeta-Jones (“Chicago”), Gwendoline Christie (“Game of Thrones” e “Sandman”) e da própria Christina Ricci, que tornou icônica sua interpretação como Wandinha nos filmes da Família Addams dos anos 90.

Assim como acontece com as continuações, a escolha de fazer um spin-off de uma franquia conhecida pode ser considerada, por muitos, como arriscada. Mas com “Wandinha” quase não nos importamos com isso. Mantendo o ar mórbido já conhecido das produções anteriores, a personalidade da protagonista se mantém interessante e com o mesmo tom que as demais atrizes deram à personagem, por mais que as escolhas da série criem um tom mais sentimental para a família.



Logo no primeiro episódio, acompanhamos Wandinha numa escola típica de filmes adolescentes americanos, cenário no qual ela, obviamente, não se encaixa. Após um “incidente” envolvendo outro colega, ela é expulsa e transferida para a “Escola Nunca Mais”, lugar que abriga os alunos denominados “excluídos”. A escola é localizada na cidade de Jericho, que busca manter o equilíbrio entre seus habitantes, divididos entre o grupo dos peregrinos e dos excluídos pertencentes a escola de Wandinha.

Neste contexto, a história ganha um tom mais investigativo pelos assassinatos que começam a acontecer e todos os personagens se tornam suspeitos — tudo isso sem perder o lado sombrio e macabro presente nas obras de Tim Burton e nas versões anteriores da própria Família Addams.

Olhando um pouco além da história central, a série acerta em jogar (ironicamente) luz na discussão sobre o preconceito que tantas vezes é aceito em nossa sociedade ou, pior, é colocado de maneira velada como se não existisse, mas, quando olhamos mais de perto, nunca deixou de estar lá. A “caça às bruxas” ainda não acabou, basta olharmos os noticiários: cada assassinato de um grupo minoritário que acontece todos os dias é uma prova disso, infelizmente.

Além dessa crítica social, Wandinha tenta romper com as suas próprias dificuldades acerca de suas relações sociais e demonstrações de afeto e compreensão com o próximo, o que torna a série também uma história sobre amadurecimento, com destaque para a relação da jovem com a mãe, Mortícia, outra personagem querida do público.

"Wandinha" (Wednesday, 2022) - Foto: Netflix/Divulgação
“Wandinha” (Wednesday, 2022) – Foto: Netflix/Divulgação

Falando sobre aspectos técnicos, a série se sobressai quando comparada com outras produções originais da Netflix, seja pela excelente direção de fotografia, a trilha sonora (composta por Danny Elfman, frequente colaborador de Tim Burton) e a maquiagem. Diversos universos são criados dentro da própria série, sendo o universo de Wandinha o principal, representado pela sua já conhecida paleta preto e branco, que contrasta de maneira perfeita com os demais personagens, explicitando o desconforto e como a protagonista não se encaixa nem mesmo na escola que, em tese, abriga o que deveria ser a sua “turma”.

Quando a personagem começa a se abrir de fato para essas novas relações, o contraste passa a se harmonizar com o mundo ao redor dela, sem que Wandinha abra mão de características próprias. Quem ajuda a “amenizar” o clima pesado é o personagem Mãozinha, outro querido da franquia, que se torna um dos principais coadjuvantes da trama, principalmente graças ao humor.

Repleta de plot twists, “Wandinha” é com certeza uma das melhores séries do ano quando o assunto é comédia com pitadas de terror. Com bom ritmo, os oito episódios não se tornam arrastados em momento algum. Tudo indica que teremos uma segunda temporada, então, vale muito acompanhar esta nova fase na vida de uma personagem tão icônica e que marcou geração. ■

Nota:

WANDINHA (Wednesday, 2022, EUA). Direção: Tim Burton, James Marshall, Gandja Monteiro; Roteiro: Alfred Gough, Miles Millar (baseado nos personagens criados por Charles Addams); Fotografia: David Lanzenberg, Stephan Pehrsson; Montagem: Jay Prychidny, Ana Yavari, Paul G. Day; Música: Danny Elfman, Chris Bacon; Com: Jenna Ortega, Gwendoline Christie, Riki Lindhome, Jamie McShane, Hunter Doohan, Percy Hynes White, Emma Myers, Joy Sunday, Georgie Farmer, Naomi J. Ogawa, Christina Ricci, Moosa Mostafa; Estúdio: MGM, Millar Gough Ink, Tim Burton Productions; Distribuição: Netflix.

série Wandinha Netflix

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