"Mussum, o Filmis" (2023), de Silvio Guindane - Divulgação/Desiree do Vale
"Mussum, o Filmis" (2023), de Silvio Guindane - Divulgação/Desiree do Vale

Para além da comédia, “Mussum, o Filmis” traz sensibilidade, cultura brasileira e mensagem importante

A história da TV brasileira é muito rica e, sem dúvidas, é um dos patrimônios de nosso país. Muitos nomes importantes da nossa cultura foram descobertos em programas de auditório, novelas, seriados etc., e estas personalidades enriqueceram não só os canais televisivos, mas também o imaginário dos espectadores.

Um gênero que sempre foi destaque na programação da nossa TV é a comédia, cujo sucesso e influência atravessam décadas, com o surgimento de nomes muito fortes em vários programas de canais abertos e em canais pagos. Podemos citar Paulo Gustavo, Dani Calabresa, Fábio Porchat, Tatá Werneck, Samantha Schmütz… E nos anos 1960, começava a carreira de um dos principais nomes da comédia nacional: Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum.

Pouco mais de 60 anos depois, estreia “Mussum, o Filmis”, longa-metragem protagonizado pelo ator Ailton Graça e dirigido por Silvio Guindane, que mescla comédia, doçura, emoção e música para contar a história desta grande personalidade brasileira, lembrada até hoje tanto por sua veia cômica junto aos Trapalhões quanto por seu talento musical nato com o grupo Os Originais do Samba.



"Mussum, o Filmis" (2023), de Silvio Guindane - Divulgação/Desiree do Vale
“Mussum, o Filmis” (2023), de Silvio Guindane – Divulgação/Desiree do Vale

Grande vencedora do Festival de Gramado, a produção tem muitos pontos fortes, mas a montagem tem um destaque muito importante. André Simões conseguiu intercalar o presente e o passado de forma clara, usando recursos que facilitam o entendimento do público e fazem com que a narrativa flua de maneira leve e natural. O roteiro de Paulo Cursino também merece muitos elogios, apresentando uma história “redondinha”, sem grandes surpresas, mas perfeitamente bem executada.

Em seu primeiro filme na direção, Guindane, que também é ator (esteve em “A Divisão”, “Segunda Chamada”, “Vai que Cola”, entre tantos outros trabalhos), consegue levar para a tela a história de um homem preto, com origem pobre, engraçado, do samba e com problemas com bebidas alcoólicas, sem precisar se apoiar em estereótipos.

Guindane faz isso de forma sensível e respeitosa, permitindo ao público admirar o protagonista e sair do cinema querendo conhecer mais sobre Mussum. E não é que ele seja retratado como um “santo”, nada disso. O longa mostra este artista tão famoso como um homem comum, com erros e acertos, medos e certezas, coragem e arrependimentos. Ou seja, um ser humano como qualquer um de nós.

"Mussum, o Filmis" (2023), de Silvio Guindane - Divulgação/Desiree do Vale
“Mussum, o Filmis” (2023), de Silvio Guindane – Divulgação/Desiree do Vale

Aplausos também para o elenco. Mussum é retratado em três fases da vida: criança (Thawan Lucas), jovem adulto (Yuri Marçal) e adulto (Ailton Graça), e em todas elas os atores dão um show de atuação. Destaque inclusive para a interpretação de Marçal, um dos principais nomes do humor de sua geração e que vem conquistando cada vez mais respeito e admiração como ator.

Já Ailton Graça é uma estrela à parte. Ele, que tem maior tempo de tela como protagonista, é um sucesso do início ao fim. Quando entra em cena, o público pensa: ele “É” o Mussum. Carisma, presença, beleza, irreverência, sensibilidade e muito bom humor: tudo é apresentado pelo ator com imensa naturalidade.

Os personagens coadjuvantes também são interessantes e interpretados por atores muito qualificados, principalmente a mãe de Mussum, Malvina, vivida pelas atrizes Neusa Borges e Cacau Protásio.

"Mussum, o Filmis" (2023), de Silvio Guindane - Divulgação/Desiree do Vale
“Mussum, o Filmis” (2023), de Silvio Guindane – Divulgação/Desiree do Vale

Outro ponto alto é a fotografia do filme, muito colorida e atraente para os olhares de quem assiste. É tudo tão vivo e cheio de informações relevantes, que o desejo é dar uma pausa para poder ver o cenário e seus detalhes por completo. E a trilha sonora também merece muitos elogios, regada de sucessos dos Originais do Samba acompanhando todo o enredo, além da música instrumental composta por Max de Castro.

Voltando ao ótimo roteiro, é muito bom o trabalho de Cursino ao contar a história de Mussum ao mesmo tempo em que mostra importantes nomes do entretenimento e da música brasileira, além de revelar bastidores interessantes da TV. O longa, que levou 10 anos para ser finalizado, mostra com maestria, a beleza e importância do entretenimento brasileiro. É um filme que faz a gente ter orgulho da nossa história nessa área e ver como a música e TV brasileira são ricas de personalidades.

Além disso, de forma sensível e emocionante, “Mussum, o Filmis” afirma que o direito de sonhar é para qualquer um, inclusive para pessoas discriminadas. A mensagem do longa é que a gente pode tudo. E a sensação ao sair do cinema é que realmente podemos. ■

mussum o filmis

Nota:

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MUSSUM, O FILMIS (2023, Brasil). Direção: Silvio Guidane; Roteiro: Paulo Cursino; Produção: André Carreira; Fotografia: Nonato Estrela; Montagem: André Simões; Música: Max de Castro; Com: Ailton Graça, Thawan Lucas Bandeira, Yuri Marçal, Cacau Protásio, Neusa Borges, Jeniffer Dias, Késia, Cinara Leal; Estúdio: Camisa Listrada; Distribuição: Downtown Filmes; Duração: 1 h 57 min.

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