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Campanha da APAN em Cannes defende políticas afirmativas e protagonismo negro no audiovisual

Encontro realizado entre associados da APAN com a Cientista Política Diva Moreira sobre o movimento negro e reparação histórica.

Foto: APAN/Divulgação

Pela primeira vez, o Festival de Cannes contou com uma ação coletiva articulada por profissionais negros do Brasil. A APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro) lançou durante o Marché du Film, na 78ª edição do evento, a campanha “Cinema Negro é Cinema Brasileiro”, reunindo 21 associados em uma mobilização que reforça a urgência por políticas afirmativas no setor e a valorização de narrativas negras e indígenas.

A campanha foi apresentada com um vídeo-manifesto exibido ao longo da programação do festival. O material reúne falas de cineastas, trechos de filmes e imagens cedidas por produtoras negras e indígenas, defendendo a ideia de que a diversidade é um elemento central do cinema brasileiro. “A presença da APAN no festival é reflexo direto da atuação da entidade como uma das principais articuladoras do audiovisual negro no Brasil e na América Latina”, afirmou Keyti Souza, diretora administrativa da APAN, durante painel oficial no dia 18 de maio. “Essa ação é um chamado à indústria, festivais e políticas públicas.”

A campanha também apresenta o conceito de Empresas Vocacionadas para a Reparação Histórica, que são aquelas geridas majoritariamente por pessoas negras e/ou indígenas e voltadas à produção de conteúdos que enfrentam estereótipos. Segundo a APAN, essa proposta busca dar “cor ao CNPJ” e integrar a justiça econômica à justiça social.

Durante o Marché du Film, diversos projetos de profissionais da APAN estiveram em exibição e rodadas de negócio. Entre eles estão a animação “Anna en Passant”, de Fernanda Salgado; “Tempestade Ninja”, primeiro longa de Higor Gomes, diretor do premiado curta “Ramal”; “Criadas”, com roteiro e direção de Carol Rodrigues; e “Não Estamos Sonhando”, de Ulisses Arthur. Também participaram das atividades os filmes “Meu Pai e a Praia”, de Emerson Dindo, “El vol de la Cigonya”, de Matheus Mello, e “Eu Ouvi o Chamado: Retorno dos Mantos Tupinambá”, de Myzra Muniz e Robson Dias.

Estiveram presentes nos painéis: Viviane Ferreira (BA), Keyti Souza (BA), Bethânia Maia (DF), Chica Andrade e Juliana Vicente (SP), da Preta Portê Filmes, que participou com os filmes “Cores de Maio” e “Construindo a Rainha”, ambos com direção sua e produção executiva de Diana Costa. Juliana também dividiu mesa com Keyti em uma discussão sobre coprodução com a África do Sul e foi destaque como “Spotlight Producer” no Producers Network.

No manifesto exibido em Cannes, a APAN reforça: “Dizem por aí que o cinema que fazemos é ‘filme de indígena’, ‘filme de preto’. Mas o que seria do Brasil sem as histórias, os rituais, os ritmos e os saberes dos nossos povos?” A resposta vem no título da campanha: “Cinema Negro é Cinema Brasileiro”.

POLÍTICA DE AÇÃO AFIRMATIVA NÃO É PRIVILÉGIO. É REPARAÇÃO HISTÓRICA

 

A campanha contou com apoio de produtoras como Odun Filmes, Pretaporte Filmes, Ori Imagem, Rosza Filmes, Filmes de Plástico, além da rede de mulheres indígenas Katahirine. A narração foi feita pela atriz Jamile Kasumbá. O vídeo completo está disponível online (veja acima) e segue sendo divulgado após o festival, com o objetivo de engajar mais pessoas na defesa da representatividade no audiovisual.

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