"O Esquema Fenício" (The Phoenician Scheme, 2025), de Wes Anderson - © Universal Pictures
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“O Esquema Fenício”: Ser humano ou ser bíblico?

crítica filme presença

Wes Anderson, cineasta reconhecido por seu estilo marcante, retorna aos cinemas em 2025 com “O Esquema Fenício” (The Phoenician Scheme). Conhecido por seus filmes meticulosamente planejados, com composições visuais simétricas, atuações rígidas e caricatas, e tramas que mesclam o cômico ao excêntrico, Anderson entrega mais uma obra que é característica à sua assinatura em uma narrativa que diverte o espectador. Após lançar “Asteroid City” em 2023, seguido de quatro curtas-metragens, o diretor reafirma sua estética neste novo longa, desta vez embarcando no suspense satírico que diverte e instiga.

“O Esquema Fenício” funciona dentro da fórmula e do universo de Wes Anderson. Há quem argumente que seu estilo começa a soar repetitivo e autocontido, quase como um padrão exaustivo. Ainda assim, para muitos (e me incluo entre eles), a fórmula não se desgastou completamente. O filme prende pela curiosidade e mantém o interesse do espectador, mesmo que o ritmo sofra quedas pontuais, sendo algo que parece mais uma escolha estilística do que uma falha narrativa.

"O Esquema Fenício" (The Phoenician Scheme, 2025), de Wes Anderson - © Universal Pictures
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O elenco secundário, ainda que pouco desenvolvido em suas respectivas tramas, reforça a atmosfera familiar da filmografia de Anderson. Nomes como Michael Cera, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Willem Dafoe, Jeffrey Wright, Riz Ahmed e o já habitual Bill Murray fazem aparições que, embora curtas, compõem o mosaico visual do universo do diretor.

A história gira em torno do magnata excêntrico Zsa-zsa Korda (vivido por Benicio del Toro), que sobrevive a mais um acidente aéreo e decide nomear sua filha, a freira Liesl (interpretada por Mia Threapleton), como única herdeira de seu império financeiro. Pai e filha, até então distantes, se unem na criação de um novo empreendimento, que logo se vê cercado por uma série de ameaças: espionagem, atentados, sabotagens e assassinatos.

"O Esquema Fenício" (The Phoenician Scheme, 2025), de Wes Anderson - © Universal Pictures
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O enredo se sustenta em tensões familiares e reviravoltas morais, à medida que a relação entre pai e filha se complica por seus segredos do passado e pela natureza dúbia de ambos. Em destaque, a recorrente frase “Você não é humano, você é bíblico”, dita por Zsa-zsa a seu irmão (interpretado por Benedict Cumberbatch), ecoa como um dilema existencial que atravessa toda a narrativa. O contraste entre religiosidade e ganância humana estrutura o conflito dos personagens. Zsa-zsa, um homem de moral questionável e comportamento violento (sempre acompanhado de granadas, literalmente), ganha camadas mais complexas após múltiplas experiências de quase-morte, que ele descreve como encontros “divinos”. Já Liesl, apesar de viver sob votos religiosos, se vê dividida entre preservar sua “pureza” idealizada (sexual e material) e buscar a verdade sobre o assassinato da mãe, cujo passado nebuloso e cômico é marcado por lembranças contadas por vários homens ao longo do filme. A moral da religiosidade em contraponto com o instinto da sobrevivência humana pela violência, que permeia as relações entre os personagens.

Visualmente, o filme é uma vitrine da obsessão estética de Anderson. Cada cena é coreografada com precisão milimétrica, marcada por enquadramentos centralizados, paletas de cor características, e uma mise-en-scène se assemelha a um estilo quase teatral. A câmera predominantemente fixa, com os planos abertos e médios, com takes de longa duração, onde a ação se concentra no espaço do enquadramento, que reforçam a artificialidade ensaiada do universo do diretor. As atuações, por sua vez, continuam a desafiar o realismo, com rigidez e o timing cômico muito bem equilibrado.

"O Esquema Fenício" (The Phoenician Scheme, 2025), de Wes Anderson - © Universal Pictures
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“O Esquema Fenício” é um filme extremamente divertido e visualmente envolvente, combinando humor e tensão em doses que agradam aos já familiarizados com a estética do diretor. Embora Anderson permaneça em sua zona de conforto estilística, o filme ainda revela sua habilidade em construir narrativas que, mesmo previsíveis em sua forma, se mantêm brilhantes em sua execução. Não há uma reinvenção de linguagem aqui, mas sim um domínio absoluto dela. ■

Nota:

O ESQUEMA FENÍCIO (The Phoenician Scheme, 2025, EUA, Alemanha). Direção: Wes Anderson; Roteiro: Wes Anderson; Produção: Wes Anderson, Steven Rales, Jeremy Dawson, John Peet; Fotografia: Bruno Delbonnel; Montagem: Barney Pilling; Música: Alexandre Desplat; Com: Benicio del Toro, Mia Threapleton, Michael Cera, Riz Ahmed, Tom Hanks, Bryan Cranston, Mathieu Amalric, Richard Ayoade, Jeffrey Wright, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Rupert Friend, Hope Davis; Estúdio: American Empirical Pictures, Indian Paintbrush; Distribuição: Universal Pictures ; Duração: 1h 45min.

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