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“Thunderbolts*” é a carta na manga que a Marvel precisava

"Thunderbolts*" (2025), de Jake Schreier - © Marvel Studios

© Marvel Studios

A Marvel está mudando e isso, claro, era inevitável. Mas quem imaginaria ver um filme no MCU colocando temas como depressão e solidão no centro da trama? Provavelmente, um dos pontos que motivaram o estúdio a mudar de postura foram os fracassos de bilheteria e crítica de produções recentes do estúdio. Mas isso não importa. O que conta é que essas mudanças estão dando certo e “Thunderbolts*” está aí para provar isso.

No filme, uma equipe de anti-heróis é convocada para uma missão perigosa. Formado por um grupo de pessoas desajustadas e rejeitadas, o grupo é obrigado a embarcar num plano que os fará confrontar seus maiores traumas e cicatrizes do passado.

A partir desta sinopse, é impossível não comparar as obras e chamar “Thunderbolts*” de “O Esquadrão Suicida da Marvel”. Sim, é uma proposta muito similar, mas a direção de Jake Schreier (de “Frank e o Robô” e da série “Treta”) e o roteiro de Lee Sung Jin, Eric Pearson e Joanna Calo fazem do rival da DC um filme mais criativo.

"Thunderbolts*" (2025), de Jake Schreier - © Marvel Studios
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OK, não dá para negar que os realizadores tinham um bom terreno para erguer essa história: um universo que sempre sofreu com grandes ameaças, mas que era protegido por um grupo de heróis confiáveis, íntegros e populares. Porém, os Vingadores se foram e agora as pessoas estão com medo, sem ninguém para protegê-las. No entanto, a maneira como a narrativa do novo grupo se consolida é uma surpresa agradável.

Primeiro porque “Thunderbolts*” é claramente um filme sobre Yelena (Florence Pugh). Além de liderar o grupo, ela traz para as telas os principais temas do longa: medo, depressão, solidão, entre outras vulnerabilidades. A personagem tem um arco de heroína, mostrando suas dores e sacrifícios ao passar por cima de suas questões pessoais para poder ajudar alguém ou ir em busca de um propósito maior. E tudo isso é feito de forma excelente.

Carismática, com personalidade forte e um sarcasmo encantador, Florence Pugh consegue mostrar um lado de Yelena que ainda não tinha sido abordado nas outras ocasiões em que a jovem apareceu: no filme “Viúva Negra” (2021) e na série “Gavião Arqueiro”, do mesmo ano. Agora, é possível conhecer mais da essência da personagem, diferente do que aconteceu durante toda a trajetória de sua irmã Natasha Romanova (Scarlett Johansson), que só ganhou um arco que mostrasse a fundo suas raízes e motivações depois de seu fatídico destino em “Vingadores: Ultimato”. Com “Thunderbolts*”, Yelena certamente está pronta para ser um nome forte no novo MCU que está sendo construído.

Por outro lado, o tempo de tela dado à jovem ex-viúva negra tem como consequência a falta de profundidade dos outros personagens. Além da irmã de Natasha, o grupo de anti-herois é formado Bucky Barnes, o Soldado Invernal (Sebastian Stan), John Walker, o Agente Americano (Wyatt Russel), Alexei Shostakov, o Guardião Vermelho (David Harbour) e Ava Starr, a Fantasma (Hanna John-Kamen). Com exceção de Bucky, que já faz parte do MCU desde a Fase 2, os outros nomes não são muito conhecidos do grande público.

Os outros dois personagens masculinos do grupo já apareceram na franquia, mas em produções que não foram sucesso de audiência: Walker esteve presente na série “Falcão e o Soldado Invernal” (2021), enquanto o Guardião Vermelho foi o pai de Yelena e Natasha em “Viúva Negra”. Já Ava Starr participou de “Homem Formiga e a Vespa” (2018) e havia caído no esquecimento. Com exceção de Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus), que tem um arco narrativo interessante e cômico, os outros nomes são deixados um pouco de lado.

"Thunderbolts*" (2025), de Jake Schreier - © Marvel Studios
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A verdade é que parece que a Marvel não tem interesse em desenvolver tão bem esses personagens, que devem ser apenas coadjuvantes quando aparecerem novamente. Mas, apesar desta falta de desenvolvimento, a escolha dos roteiristas em não ampliar as subtramas não afeta o andamento da narrativa principal, mesmo porque, o vilão, que era quem deveria ser bem apresentado, ganha a atenção necessária.

O roteiro fez um bom trabalho com o Sentinela (Lewis Pull), conseguindo conectar suas motivações a um problema que já existe no MCU há anos. O homem que foi introspectivo, triste e solitário durante sua vida inteira conquistou superpoderes e agora habita um mundo que também está abandonado, nas sombras, com um vácuo deixado pelos heróis que um dia o protegeram. Em tela, dá para notar o trabalho cuidadoso da produção ao abordar temas tão sensíveis, e o resultado é positivo.

“Thunderbolts*” tem uma boa trama, com um roteiro coeso e assertivo, que não deixa pontas soltas. É um bom filme para jogar luz em uma personagem que será essencial nas próximas produções da Marvel. É um longa que aposta em um visual mais sóbrio e intimista, que conversa com um enredo que traz dor, emoção, culpa, perda e redenção. “Thunderbolts*” é o bom filme que o MCU precisava. ■

Nota:

THUNDERBOLTS* (2025, EUA) Direção: Jake Schreier; Roteiro: Eric Pearson, Joanna Calo; Produção: Kevin Feige; Montagem: Angela Catanzaro, Harry Yoon; Fotografia: Andrew Droz Palermo; Música: Son Lux; Com: Florence Pugh, Sebastian Stan, Wyatt Russell, Olga Kurylenko, Lewis Pullman, Geraldine Viswanathan, Chris Bauer, Wendell Pierce, David Harbour, Hannah John-Kamen, Julia Louis-Dreyfus; Estúdio: Marvel Studios; Distribuição: Disney; Duração: 2h 16min.

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