Foto: João Meireles/Ministério da Cultura

Em Cannes, ONU Mulheres apresenta dados inéditos sobre gênero e raça no audiovisual brasileiro

Durante a 78ª edição do Marché du Film, no Festival de Cannes deste ano, a ONU Mulheres Brasil apresentou dados inéditos sobre a presença de mulheres e pessoas negras em cargos de liderança no setor audiovisual brasileiro. A pesquisa, realizada com apoio do Instituto +Mulheres e parte da iniciativa Aliança por Mais Mulheres no Audiovisual, analisou 88 obras produzidas entre 2018 e 2022 por quatro grandes produtoras do país.

Segundo o levantamento, pessoas brancas, heterossexuais, sem deficiência e residentes na região Sudeste ainda são maioria nas funções de direção, roteiro e produção. A média de idade dos profissionais é de 47 anos. O relatório completo será divulgado em breve no site oficial da organização.

Tamiris Hilário, consultora técnica da ONU Mulheres Brasil, destaca que essa é apenas uma amostra inicial. “Percebemos uma ausência ou escassez de informações setoriais que poderiam enfraquecer iniciativas importantes e desmobilizar agentes estratégicos. Esse é apenas um ponto de partida, uma amostra, que nos serviu para criar metodologia e gerar insights. Agora desejamos observar pequenas e médias produtoras de todo o território e contrastar os achados”, afirma.

Mesmo com um número equilibrado de mulheres nos cargos técnicos (48%), os dados mostram desigualdades relevantes. “Mulheres ganham, em média, 76% da renda dos homens. Mulheres negras têm a menor média salarial entre todos os grupos analisados: R$13.187,50”, aponta o estudo.

A percepção dos profissionais também foi investigada. Mulheres e pessoas negras demonstraram maior insatisfação com os créditos recebidos pelas obras em que trabalharam (39% e 45%, respectivamente) e com o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.

Daniele Bulmini Godoy, gerente de projetos da ONU Mulheres para o setor privado, alerta que a presença maior de mulheres em conteúdos audiovisuais não deve ser confundida com uma transformação estrutural. “Ainda precisamos observar lacunas significativas em relação a quem desenvolve as narrativas, diversidade em cargos estratégicos, ambientes inclusivos e condições dignas de trabalho”, afirma.

Ana Carolina Querino, representante interina da ONU Mulheres Brasil, reforça que o setor audiovisual tem potencial para liderar mudanças. “Estamos diante de uma grande oportunidade. Há muito a ser feito. Podemos realizar um trabalho de transformação setorial pioneiro, com potencial de replicação local e global”, diz.

A apresentação dos dados foi realizada em dois painéis durante o evento em Cannes: “Brazil and France: Women in Leadership Positions” e “Voices of the Majority in Film: Brazil’s 54% who is Black Can’t Wait”, organizados pelos institutos +Mulheres e Nicho 54 e apresentados nos dia 14 e 18 de maio respectivamente. A coleta e análise foram conduzidas pela startup Diversitera, especializada em pesquisas sobre equidade social e econômica.