13ª edição do Cinecipó promove encontro com Ruy Guerra em BH
A 13ª edição do Cinecipó – Festival do Filme Insurgente está em cartaz no Cine Santa Tereza, em Belo Horizonte, de 4 a 14 de junho. Com entrada gratuita, o evento reúne 24 filmes de diversas regiões do Brasil e de países como Argentina, Cuba, Paraguai e Moçambique. A programação inclui sessões comentadas, debates e uma oficina, além de uma homenagem ao cineasta Ruy Guerra, que estará na capital mineira para um encontro com o público do festival.
O Cinecipó apresenta 14 sessões, com oito longas e 16 curtas-metragens, abordando temas como povos quilombolas, biodiversidade, territórios ancestrais e contemporâneos, trabalho infantil, gênero, emergência climática, fome e violência no campo. Todas as sessões contam com debates conduzidos por diretores, curadores e pesquisadores.
Entre os dias 6 e 8 de junho, o Cinecipó realiza o “Encontro com Ruy Guerra”, exibindo quatro filmes do diretor. Com 93 anos e um filme recém-lançado no Festival de Brasília de 2024, Guerra estará presente em duas sessões, nos dias 7 e 8, para conversar com o público sobre sua trajetória e obra. Serão exibidos “Os Fuzis” (1963), “A Queda” (1978) e “Mueda, Memória e Massacre” (1979), dirigidos por Guerra, e o documentário em sua homenagem “O Homem que Matou John Wayne” (2017), com direção de Diogo Oliveira e Bruno Laet.
O organizador do festival, Cardes Amâncio, destaca a importância da participação de Guerra: “Estamos contentes com a oportunidade de trazer para Belo Horizonte mais de 15 realizadores de diversas partes do Brasil e estabelecer essa ponte com o público. Serão dias de importantes trocas, de assistir parte da produção contemporânea brasileira e fazer essa homenagem ao Ruy Guerra, uma das vozes mais potentes e inquietantes do Cinema Novo.”

Nascido em Lourenço Marques, Moçambique, em 1931, e posteriormente adotando o Brasil, Ruy Guerra foi uma figura central do Cinema Novo, sendo pioneiro para uma geração de criadores contestadores. Ao lado de Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade e Helena Solberg, entre outros, participou da formulação do cinema brasileiro moderno. Seus filmes refletem as disputas políticas e sociais do país, unindo radicalidade formal a um profundo engajamento.
Em cartaz no Cinecipó, “Os Fuzis” destaca-se como uma das obras mais marcantes do Cinema Novo e do cinema político latino-americano. Com estética realista e linguagem que mescla documentário e ficção, o filme dialoga com a “estética da fome”. Assim como “Vidas Secas” (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, busca retratar o sertão brasileiro como um território de conflito, violência e exploração. A narrativa, sobre um grupo de soldados em um vilarejo assolado pela fome, expõe tensões entre autoridade, fé e revolta.
Em “A Queda”, codirigido com Nelson Xavier, Guerra revisita personagens de “Os Fuzis”, agora como operários da construção civil em uma metrópole hostil. O filme expande a visão sobre a opressão, focando no ambiente urbano e nas contradições do trabalho, da culpa e da sobrevivência sob a ditadura.
Por fim, “Mueda, Memória e Massacre” (1979) reafirma a ligação de Guerra com Moçambique. Filmado logo após a independência, o longa-metragem recria o massacre de Mueda, marco da luta contra o colonialismo português. Primeiro longa-metragem do país, é um ato de memória, justiça e reconstrução política através do cinema.
Para mais informações sobre a programação e retirada de ingressos, acesse o site oficial do Cinecipó.