Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2025), de Dean DeBlois - Foto: Universal Pictures/Divulgação
Foto: Universal Pictures/Divulgação

Live-action de “Como Treinar Seu Dragão” cativa, mas é adaptação medrosa da premiada animação

Existe uma pergunta inevitável toda vez que um estúdio decide refilmar uma animação clássica em live-action: para quê? Seria para ressignificar a história, apresentar novas perspectivas ou apenas para faturar em cima da nostalgia? Se você ainda acredita na primeira opção, não espere que “Como Treinar o Seu Dragão” lhe dará esse presente. A nova versão parece existir mais para preencher uma cota de remakes do que para realmente justificar sua existência.

Após 15 anos do lançamento do filme original, Soluço e Banguela estão de volta às telonas, desta vez, em uma versão “realista”. Soluço (Mason Thames) é um jovem viking que não tem vocação em lutar contra os dragões, contrariando a tradição local. Em meio a muitas críticas de todos à sua volta, o garoto vê sua vida mudar quando ele ajuda o temido Fúria da Noite, que lhe mostra a realidade sobre essa guerra que atravessa gerações. Juntos, eles tentam provar que dragões e humanos podem ser amigos.

O longa de 2010 foi indicado ao Oscar e ganhou diversas premiações importantes, além de conquistar o público com uma narrativa engraçada e emocionante. A história não é das mais inovadoras, mas os diretores e roteiristas Chris Sanders e Dean DeBlois (curiosa e coincidentemente, também responsáveis por “Lilo e Stitch”, que acaba de ganhar sua versão em live-action) construíram uma aventura envolvente e com tons dramáticos que conquistou muitos fãs.

O sucesso do “Como Treinar o Seu Dragão” original se deve muito ao roteiro coeso, com um enredo bem desenvolvido e cativante, desenvolvido a partir do livro de Cressida Cowell. Com a dose certa de elementos essenciais para criar uma animação que agrada tanto o público infantil quanto o adulto, o texto traz assuntos como amizade, inclusão, questionamentos às tradições, deficiência física e diversidade de maneira muito sutil, elaborando uma trama sensível e ao mesmo tempo forte. Os personagens apresentam todos estes pontos ao longo do filme de forma natural e carismática.

Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2010), de Dean DeBlois - Foto: DreamWorks/Divulgação
Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2010), de Dean DeBlois – Foto: DreamWorks/Divulgação

O visual da animação também é destaque. Com muitas explosões, fogos que saem dos dragões, paisagens aquáticas, névoa e chuva, o uso da computação gráfica é impecável, além de muito corajosa, por exemplo, quando opta por apresentar em tela diversos tipos diferentes de dragões, todos com características físicas e poderes muito bem mostrados. Os personagens da história são ótimos, dos coadjuvantes aos protagonistas.

A relação entre Soluço e Banguela é adorável, sem altos e baixos, mostrando o afeto e a cumplicidade de um com o outro praticamente desde o momento em que se conhecem. É fácil entender o amor do garoto por aquele ser, que antes era tão temido. Os outros jovens também são bem desenvolvidos, todos com suas personalidades definidas, sem atrapalhar o andamento da narrativa. E claro, tem Astrid, responsável por tentar levar garotas ao cinema para assistir a uma aventura viking.

Esses são alguns dos pontos que fazem a animação de 2010 ser considerada uma das melhores dos últimos anos. Porém, nenhum deles é destacado neste remake de 2025.

Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2025), de Dean DeBlois - Foto: Universal Pictures/Divulgação
Foto: Universal Pictures/Divulgação

O novo “Como Treinar o Seu Dragão” é apenas um filme OK. Com Dean DeBlois novamente na direção, o live-action não tem um elemento sequer a ser exaltado. Por exemplo, o longa é sobre diferentes grupos de vikings, tema que poderia ser amplamente aproveitado pelo setor de figurino, porém, isso não acontece. As roupas e o visual dos personagens não chamam atenção e nem transmitem suas personalidades ou estilo de vida, o que prejudica o envolvimento do público.

Outro ponto importante que poderia ser melhor aproveitado é o visual. Não há problemas com a fotografia ou efeitos especiais, mas, claramente, poderia ter sido feito algo maior: explosões mais realistas, imagens diurnas mais detalhadas… Elementos como água e fogo poderiam causar um maior impacto e serem mostrados de maneira mais bonita e atrativa. Mas é tudo escuro, sem vida. Em algumas cenas, a iluminação deficiente prejudica inclusive a visibilidade das batalhas e dos personagens.

Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2025), de Dean DeBlois - Foto: Universal Pictures/Divulgação
Foto: Universal Pictures/Divulgação

As atuações não deixam a desejar, mas também não se destacam. Gerard Butler como Stoico (personagem que o ator dublou na animação) ou Nico Parker como Astrid, por exemplo, entregam boas performances, mas nada marcante. O mesmo acontece com o protagonista: Mason Thames interpreta um Soluço bem parecido com o da animação, mas sem nenhum brilho a mais. As falas são iguais, o estilo de se vestir é semelhante, até os trejeitos lembram o jovem do filme original, mas não o jovem ator não consegue fazer um protagonista gracioso como a versão animada.

A impressão que fica é a de que o longa deste ano é medroso. Diferentemente de algumas adaptações em live-action, que seguiram a história de origem, mas mostraram ter personalidade própria, este “Como Treinar o Seu Dragão” opta por copiar ao máximo a animação. Não há nenhuma surpresa ou mudanças no enredo que saltem aos olhos. DeBlois se conteve para entregar um filme bom e fiel à sua própria criação, e esqueceu das possibilidades que um live-action proporciona. Faltou criatividade e inovação, e sobrou medo.

“Como Treinar o Seu Dragão” não é um desastre, mas também não é nada memorável. Se fosse uma história inédita, poderia até funcionar como um bom passatempo. No entanto, a inevitável comparação com o longa animado de 2010 faz esta versão perder força. Faltou ousadia, personalidade e propósito ao projeto. E, certamente, Soluço e Banguela mereciam muito mais do que um remake sem criatividade. ■

Nota:

Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2025), de Dean DeBlois - Foto: Universal Pictures/Divulgação
Universal Pictures/Divulgação

COMO TREINAR SEU DRAGÃO (How to Train Your Dragon, 2025, EUA) Direção: Dean DeBlois; Roteiro: Dean DeBlois (baseado no livro de Cressida Cowell); Produção: Marc Platt, Adam Siegel; Fotografia: Nigel Bluck; Montagem: Adam Gerstel, Phillip J. Bartell; Música: Alan Silvestri; Com: Mason Thames, Nico Parker, Gabriel Howell, Julian Dennison, Bronwyn James, Harry Trevaldwyn, Peter Serafinowicz, Nick Frost, Gerard Butler; Estúdio: DreamWorks, Marc Platt Productions; Distribuição: Universal Pictures; Duração: 2h 5min.

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