Mais recente filme do veterano cineasta italiano Daniele Luchetti (“Senhor Ministro”, “Meu Irmão é Filho Único”), “Segredos” explora a complexidade de se sentir encurralado por uma ameaça silenciosa. Baseado no romance homônimo de Domenico Starnone, o longa leva o espectador ao limite, acompanhando a história de amor, ódio e medo do professor de literatura Pietro Valle (Elio Germano) e sua ex-aluna Teresa Quadrado (Federica Rosellini, que, apesar do sobrenome, não tem parentesco com Roberto ou Isabella).
Defensor da pedagogia do afeto, Pietro é adorado por seus alunos e prega a aprendizagem em sala de aula com escuta e tolerância. Ainda na escola, ele conhece seu grande amor, Teresa, mas nada acontece entre os dois naquele momento. Após alguns anos, ao saber que ela se tornou garçonete em vez de cursar matemática, Pietro vai ao seu encontro e logo iniciam um namoro.
“Segredos” mergulha no estudo de sentimentos ambíguos, especialmente o medo e o amor, e como ambos podem coexistir. Uma cena que ilustra isso é quando Pietro escreve na lousa: “Amor e Medo”. Outro momento interessante em que ele aborda essa questão é em um diálogo entre os personagens, no qual Pietro diz a Teresa que não é uma pessoa ambígua, o que, na verdade, revela o medo de sua verdadeira natureza, que nunca é de fato revelada ao longo da narrativa.
O namoro dos personagens se baseia em uma profunda troca e descoberta dos limites um do outro. Uma cena que chama a atenção é a do restaurante em que, com vergonha de uma ex-namorada, Pietro apresenta Teresa como uma ex-aluna. Teresa, que poderia ter uma atitude passiva diante da situação, responde à altura. A cena evidencia a tensão constante na construção do relacionamento de ambos.

Em dado momento, surge a proposta de que um conte ao outro seu pior segredo, para que ambos estejam conectados para sempre. O que poderia parecer uma premissa interessante no desenvolvimento do filme se perde rapidamente. A ideia de Luchetti de abordar as temporalidades e como Pietro é afetado por essa espécie de chantagem, sem nunca revelar o segredo real, é interessante, mas com o tempo se torna vazia e monótona.
Pode-se dizer que é um filme “anti-spoiler”, afinal, o segredo não deixa de ser segredo em momento algum. . Claro que os méritos das belas atuações do elenco sustentam a tentativa de enredo. A ideia da dor, claustrofobia e ansiedade que envolvem o protagonista também é interessante, mas, com o decorrer da narrativa, torna-se um tanto entediante.
Não que todos os filmes precisem ter respostas prontas ou entregar tudo de forma mastigada em seu roteiro. Não é essa a questão. Mas a sensação de andar em círculos causa vertigem e não leva a lugar nenhum. No entanto, a experiência se enriquece graças à bela trilha sonora assinada por Thom Yorke, da banda Radiohead. ■
SEGREDOS (Confidenza, 2024, Itália). Direção: Daniele Luchetti; Roteiro: Daniele Luchetti, Francesco Piccolo; Fotografia: Ivan Casalgrandi; Montagem: Ael Dallier Vega; Música: Thom Yorke; Com: Elio Germano, Federica Rosellini, Vittoria Puccini, Pilar Fogliati, Isabella Ferrari; Estúdio: Indiana Production, Vision Distribution; Distribuição: Risi Film; Duração: 2h 16min.
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