O In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical divulgou os filmes nacionais que farão parte da sua 17ª edição, que acontece de 11 a 22 de junho de 2025, em São Paulo. A programação reúne estreias e produções inéditas que retratam artistas, cenas musicais e episódios marcantes da história da música brasileira.
Entre os destaques estão pré-estreias nacionais de documentários sobre nomes como Cazuza, Leci Brandão, Letieres Leite, Julio Reny, Aldo Bueno, Hyldon, Ave Sangria e Azulão. Os filmes fazem parte da Competição Nacional e das diversas seções da programação, como Mostra Brasil, Brasil.Doc e Curta um Som.
Além dos retratos individuais, o festival também explora cenas e movimentos que marcaram época. Foram selecionados filmes sobre o hardcore brasileiro dos anos 1990, o rock produzido em Goiânia, os Afro-Sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes, a história da soul music no Brasil, a música de Porto Velho e a trajetória do estúdio WR Discos, em Salvador, um dos mais importantes do Nordeste.
Outros artistas também serão lembrados em novos documentários, como Toquinho, Júpiter Maçã, Cachorro Grande, Maria Alcina, Jackson do Pandeiro e Dino Franco.
As Sessões Especiais desta edição trarão o clássico “A Noite do Espantalho” (1974), dirigido por Sérgio Ricardo, e uma sessão comemorativa pelos 25 anos do filme “O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas” (2000), que aborda a trajetória de Helinho e Garnizé, integrantes da banda de rap Faces do Subúrbio.
Criado em 2003 em Barcelona, o In-Edit também é realizado em países como Chile, México, Grécia e Países Baixos. No Brasil, o festival acontece desde 2009. O filme vencedor da Competição Nacional deste ano será exibido na edição espanhola do In-Edit em 2025. Em 2024, o premiado foi “Luiz Melodia – No Coração do Brasil”, de Alessandra Dorgan.
Conheça os longas-metragens da Competição Nacional do In-Edit Brasil 2025:
A Última Banda de Rock
Lírio Ferreira | Brasil – RS | 2024 | 120′
O diretor Lírio Ferreira decidiu fazer um filme sobre a banda Cachorro Grande e entrou numa enrascada: no meio do processo o grupo se desfez, saturado por anos de turnês, gravações e conflitos. Criada em 1999, a Cachorro Grande foi apontada por muitos como a grande promessa do rock brasileiro e teve uma carreira sempre ascendente, culminando com a abertura de um show dos Rolling Stones em 2016. O filme refaz a trajetória da banda, desde sua origem, em Porto Alegre, até sua implosão, em São Paulo, no exato ano em que comemoraria 20 anos de formação.
Alma Negra, do Quilombo ao Baile
Flavio Frederico | Brasil – SP | 2024 | 107′
Um mergulho profundo na cultura afro-brasileira, explorando a trajetória da soul music no Brasil, desde o final dos anos 1960 até o seu auge nos bailes black nas décadas seguintes. Através do olhar de intelectuais como Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez e Edneia Gonçalves, o documentário resgata e celebra a importância dessas festas como espaços de resistência e afirmação da identidade negra no Brasil, conectando tradições quilombolas à cultura urbana contemporânea. Tudo isso ao som de grandes nomes da música negra e da direção musical do produtor BiD.
Amor e Morte em Julio Reny
Fabrício Cantanhede | Brasil – RS | 2025 | 93′
O filme conta a história do cantor e compositor gaúcho Julio Reny, um talento recluso, cercado de fracassos por todos os lados. Na cena roqueira gaúcha desde os anos 1970, Julio levou a trilogia sexo-drogas-e-rock’n’roll a níveis extremos. Em meados da década de 1980, grava seu primeiro álbum “Último Verão”, e vive a expectativa de ver sua carreira deslanchar. De lá para cá muita coisa aconteceu. Entre palcos, cabarés e funerais, o filme narra sua história através de um longo e revelador depoimento do protagonista, que descobriu recentemente que é esquizofrênico e bipolar.
As Dores do Mundo: Hyldon
Emílio Domingos e Felipe Rodrigues | Brasil – SP/RJ | 2025 | 90′
Nascido em Salvador (BA), Hyldon se consagrou como um dos grandes nomes da soul music brasileira. Cantor, compositor, guitarrista, baixista e produtor, ele contribuiu significativamente para a consolidação do gênero no país, assinando colaborações com artistas como Tim Maia, Cassiano, Erasmo Carlos, Wilson Simonal, Tony Tornado e tantos outros. O filme acompanha o músico por lugares que marcaram sua infância e juventude, lembrando suas origens e recontando sua história, até a gravação de seu primeiro álbum, o icônico “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda”.
As Travessias de Letieres Leite
Iris de Oliveira e Day Sena | Brasil – BA | 2025 | 90′
Morto precocemente em decorrência da Covid, o músico e maestro Letieres Leite nos deixou um legado musical imenso, e boa parte dele está registrado neste documentário cheio de saudade. Partindo de uma longa entrevista gravada pouco antes da pandemia, o filme mostra Letieres mergulhando fundo em suas memórias, apresentando seu pensamento artístico e destrinchando suas ideias musicais inovadoras. Histórias pessoais e coletivas, encontros e números musicais fazem desta obra uma homenagem comovente ao idealizador das orquestras Rumpilezz e Rumpelezzinho.
Ave Sangria, A Banda que Não Acabou
João Cintra, Mônica Lapa | Brasil – PE | 2025 | 77′
A banda recifense Ave Sangria é um dos grandes nomes da psicodelia nordestina dos anos 1970. Em seu disco de estreia, gravou a canção “Seu Waldir”, composta para a atriz Marília Pêra interpretar em uma peça musical. A gravação alcançou certo sucesso, até que um censor decidiu que a letra, na voz do vocalista Marco Polo, tratava de “amor homossexual”. No filme, os dois únicos remanescentes da formação original da banda, Almir de Oliveira e o próprio Marco Polo, relembram suas histórias enquanto rodam as estradas de Pernambuco a bordo da Rural de Roger Renor.
Brasiliana – O Musical Negro que Apresentou o Brasil ao Mundo
Joel Zito Araújo | Brasil- RJ | 2024 | 83′
“Brasiliana” foi um musical brasileiro de repertório negro, criado por Haroldo Costa em 1956, que rodou o mundo, passando por mais de 30 países entre as décadas de 1950 e 1960. Levando a música, a dança e a cultura afro-brasileiras para plateias internacionais numa época em que o Brasil ainda era sinônimo de “samba, futebol e mulher bonita”, o espetáculo ajudou a apresentar ao mundo a cultura do país sob um prisma mais autêntico. Mercedes Baptista, pioneira da dança afro no Brasil e primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi uma de suas estrelas.
Cazuza: Boas Novas
Nilo Romero, Roberto Moret | Brasil – SP/RJ | 2025 | 91′
Em 1987, Cazuza foi diagnosticado com AIDS e viajou para os Estados Unidos para iniciar um tratamento. Internado em um hospital em Boston, ele chegou a ficar à beira da morte. No entanto, quando voltou ao Brasil no final daquele ano, lançou três álbuns, recebeu prêmios e fez mais de 40 apresentações do espetáculo “O Tempo Não Para”. Com depoimentos de Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Frejat, sua mãe Lucinha Araújo e do próprio diretor do filme, Nilo Romero (amigo, parceiro de composições e diretor musical do último show de Cazuza), o documentário nos conta essa história com grande riqueza de detalhes.
Os Afro-Sambas: O Brasil de Baden e Vinicius
Emílio Domingos | Brasil – RJ | 2024 | 93′
O filme de Emílio Domingos mergulha no processo de criação do álbum Os Afro-Sambas, uma parceria de Baden Powell e Vinicius de Moraes, gravado em 1966 e que se tornaria um marco na história da música brasileira. Filmado entre Salvador e o Rio de Janeiro, com imagens de arquivo preciosas e depoimentos de artistas como Maria Bethânia, Dori Caymmi, Russo Passapusso e Nelson Motta, além de familiares dos dois artistas, o documentário esmiúça as inovações rítmicas, melódicas, harmônicas e poéticas das canções para reafirmar a enorme importância cultural da obra.
Sem Vergonha
Rafael Saar | Brasil – RJ | 2024 | 79′
Desde sua histórica participação no Festival Internacional da Canção, em 1972, cantando uma versão explosiva de “Fio Maravilha”, de Jorge Benjor – em uma performance que lhe renderia o prêmio de Menção Honrosa – Maria Alcina se tornou uma das personagens mais queridas da música brasileira. De lá para cá, ela ocupou seu lugar no imaginário do público com um misto de extravagância, beleza e deboche. Masculina, feminina, livre, popular, essa figura de voz grave e figurinos exóticos sempre cantou a alegria, sem deixar transparecer uma sombra sequer de sua vida pessoal.