Alexandra

Aleksandr Sokurov é fascinado pela guerra e sempre procura oferecer uma visão pouco convencional sobre o tema. Foi assim na trilogia dos ditadores, formada por “Moloch”, “Taurus” e “O Sol”, e também no épico narrado em plano-sequência, “Arca Russa” – apenas para citar alguns de seus trabalhos mais conhecidos.

Agora, em “Alexandra”, o cineasta russo desdobra o tema em cima das reflexões de uma senhora idosa sobre os possíveis motivos que levaram seu neto e tantos outros jovens a ficarem alocados em uma base militar, a serviço de uma guerra sem real propósito e sem fim aparente.



Uma das preocupações de Sokurov é focalizar o olhar de espanto e curiosidade dos soldados para aquela mulher. Primeiro, por aquele lugar ser o último em eles esperavam ver uma vovó caminhando. E segundo, porque aqueles rapazes provavelmente estão pensando se irão chegar àquela idade e ter a experiência da protagonista se continuarem a servir o exército.

Há alguns diálogos-chaves em que Sokurov torna óbvio o tema de “Alexandra”. Eles surgem na cena em que a senhora da venda fala sobre o jovem solitário e introspectivo que trabalha logo em frente a sua barraca (“Tenho medo de que todos esses jovens fiquem como ele”) e na cena com esse mesmo rapaz, enquanto ele e Alexandra caminham até a base (“A força não está em armas ou nas mãos de uma pessoa”, ela diz).

O problema deste trabalho de Sokurov é que, embora as reflexões daquela senhora sejam sinceras, elas não oferecem nada que não possamos concluir por conta própria a respeito de qualquer guerra. O que ela diz é apenas reconfortante, e não instiga nada mais.

Além disso, Sokurov abandona a estética imponente de seus filmes anteriores, onde os enquadramentos eram de um refinamento impressionante, para fazer um filme bastante convencional. Não deixa de ser tocante pela comoção que a protagonista promove na base armada, mas perto de “O Sol”, por exemplo, este é sem dúvida um dos trabalhos menores e menos inspirados do cineasta.

nota: 6/10 — veja sem pressa

Alexandra (Aleksandra, 2007, Rússia/França)
direção: Aleksandr Sokurov; roteiro: Aleksandr Sokurov; fotografia: Aleksandr Burov; montagem: Sergei Ivanov; música: Andrey Sigle; produção: Laurent Danielou, Andrey Sigle; com: Galina Vishnevskaya, Vasily Shevtsov, Raisa Gichaeva, Andrei Bogdanov, Aleksandr Kladko, Aleksei Neymyshev, Rustam Shakhgireev, Evgeni Tkachuk; estúdio: Proline Film, Rézo Productions; distribuição: Filmes do Estação. 95 min