G.I. Joe: A Origem de Cobra

“G.I. Joe: A Origem de Cobra” pode ser descrito com um termo geralmente associado ao humor e à qualidade de certos produtos culturais oriundos dos anos 80, época em que os bonecos da Hasbro mais fizeram sucesso no Brasil: “cheesy”, ou seja, é algo de gosto duvidoso, grosseiro e barato. Mesmo assim, por não se levarem a sério, filmes, séries, músicas nesse estilo acabam sendo divertidos.

Os filmes de Stephen Sommers possuem esse aspecto “cheesy” e conseguem entreter – a não ser por “Van Helsing” e “O Retorno da Múmia”, que são indesculpáveis. “G.I. Joe” é o melhor que o cineasta consegue fazer desde o primeiro “A Múmia”, lançado há exatos dez anos. E dentro de suas limitações como diretor e dos problemas que o roteiro sofre, Sommers consegue desenvolver bem o filme, sem torná-lo cansativo ou impossível de se assistir (está ouvindo, Michael Bay?).



O principal mérito de “G.I. Joe” é se manter fiel ao design dos brinquedos que conquistaram uma legião de fãs (eu incluso). Diferente dos Transformers bombados do cinema, a maioria dos personagens e veículos aqui está bem próximo do que seus equivalentes de plástico. A exceção fica por conta da atualização de alguns uniformes, maquiagens e armas. Mas que garoto de outrora não irá sorrir ao ver o caça preto dos Cobra idêntico àquele com o qual ele brincava anos atrás? Ou ainda a mochila com encaixe para as duas espadas nas costas do Storm Shadow, igualzinho àquela que vinha com o boneco na cartela? É claro que esses detalhes não fazem um filme. Mas no caso de “G.I. Joe” são fundamentais para satisfazer essa parcela do público-alvo, ainda que seja mero fetiche.

Para quem está interessado em cenas de ação, o longa também deve agradar, mas apenas em parte. Sommers não consegue transformar as lutas ou tiroteios empolgantes e a maioria deles soa genérico, sem falar nas tomadas filmadas muito de perto, o que sempre compromete o resultado já que você simplemente não consegue acompanhar os movimentos.

A única sequência de ação que realmente chama a atenção é a perseguição em Paris, que, não por coincidência, é a que mais dura. Enquanto todos os outros momentos do filme se resolvem muito rápido, a parte que se passa na capital francesa parece ocupar mais linhas no roteiro do que um simples “Joes e Cobras se enfrentam em Paris”. Existe uma elaboração evidente ali e Sommers consegue resolvê-la muito bem, ainda que recorra à câmera lenta clichê de hoje em dia. Vale mencionar ainda que, nesta sequência e no ato final, Sommers e seus montadores conseguem dar conta de todas as ações paralelas sem tornar tudo confuso – um belo mérito, tendo em vista a quantidade de personagens na tela.

Os problemas mais graves em “G.I. Joe” estão no roteiro. Primeiro, por Stuart Beattie (que não escreveu nada que prestou além de “Colateral”), David Elliot e Paul Lovett (ambos do ótimo “Quatro Irmãos”) praticamente copiarem a estrutura do primeiro “X-Men”. Vejamos: dois personagens (Wolverine e Vampira/Duke e Ripcord) são recrutados por uma equipe de heróis (X-Men/G.I. Joe), passam por treinamento, ganham uniformes e são enviados para enfrentar um grupo inimigo (Irmandade dos Mutantes/Cobra) que planeja usar um monumento famoso (Estátua da Liberdade/Torre Eiffel) para se anunciar para o mundo. A semelhança de outros elementos menores também assusta, como o mentor usar cadeira de rodas ou um inimigo se disfarçar mudando de forma. Até mesmo a prisão lembra a cela de plástico em que Magneto é colocado. E sem falar que ambos os filmes têm o Ray Park no elenco.

Outro problema sério de escrita está na construção dos personagens, que também são vítimas do aspecto genérico presente em quase todo o filme. Tudo bem, eles são brinquedos, nunca tiveram muita personalidade (a não ser em suas versões nos quadrinhos e no desenho animado), mas justamente por terem essa liberdade é que os roteiristas deveriam ter aproveitado a chance para criar mais peculiaridades para cada um. No entanto, se contentam com rótulos: o herói, o parceiro engraçado, o nerd, a dama corajosa… E o mesmo vale para os vilões.

Também falta carisma aos personagens, mas aí já é um problema que parte do elenco. Apesar disso, nenhum dos atores chega a comprometer, Marlon Wayans não se excede no humor e Joseph Gordon-Levitt, o melhor entre todos ali, convence mesmo atuando com apenas um olho. No fim, você tem é que achar graça das inflexões usadas por Dennis Quaid, Christopher Eccleston e outros, que realmente entraram no espírito “cheesy” que faz de “G.I. Joe” um “filme de férias” decente, pero no mucho.

nota: 6/10 — veja sem pressa

G.I. Joe: A Origem de Cobra (G.I. Joe: The Rise of Cobra, 2009, EUA)
direção: Stephen Sommers; roteiro: Stuart Beattie, David Elliot, Paul Lovett; fotografia: Mitchell Amundsen; montagem: Bob Ducsay, Jim May; música: Alan Silvestri; produção: Lorenzo di Bonaventura, Bob Ducsay, Stephen Sommers; com: Channing Tatum, Sienna Miller, Joseph Gordon-Levitt, Christopher Eccleston, Marlon Wayans, Rachel Nichols, Saïd Taghmaoui, Dennis Quaid, Arnold Vosloo, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Byung-hun Lee, Ray Park, Karolina Kurkova, Jonathan Pryce; estúdio: Paramount Pictures, Spyglass Entertainment, Hasbro, Di Bonaventura Pictures; distribuição: Paramount Pictures. 118 min