Brasil Animado 3D

Existe ainda muita influência da narrativa televisiva no cinema brasileiro. Atenção, não é a minha intenção generalizar. Ao contrário de alguns, vejo no cinema nacional uma produção variada e um crescimento saudável. Mas, é fato, a TV ainda tem seus reflexos na nossa produção cinematográfica, principalmente nos filmes considerados mais populares (que, na minha opinião, ainda não conseguiram se encontrar apesar de algumas experiências bem-sucedidas). Tal afirmação pode ser provada com a iniciativa da Globo de dividir longas que produziu e transformá-los em microsséries, caso de “Chico Xavier” e “O Bem Amado”. Talvez, se a televisão tivesse sido o destino de “Brasil Animado 3D”, teríamos um projeto vitorioso. Não foi o caso. No cinema, a animação de Mariana Caltabiano não funciona muito bem.

Os protagonistas são Relax e Stress, dois cachorros falantes de personalidades extremamente opostas. Nem é preciso citar as características de cada um. As escolhas de seus nomes dizem tudo. Juntos, eles partem em busca da árvore mais antiga do país. Ao invés de dar preferência à “caça ao tesouro” e à personalidade conflitante dos personagens, Caltabiano preferiu investir em uma espécie de guia turístico bem humorado do nosso país. Por isso, as situações se repetem. Relax e Stress vão para locais diferentes do país e, em cada um deles, apresentam curiosidades da história e cultura do lugar. É, portanto, um filme episódico que, depois de algum tempo, cansa.



Por ser episódico, a ideia de “Brasil Animado” ser realmente dividido em pílulas de poucos minutos poderia ser uma solução mais interessante para a produção. Principalmente, porque o personagem Stress é um grande achado. Com sua charmosa rabugice, seus preconceitos inofensivos e sua ignorância em relação ao próprio país, Stress poderia carregar nas costas vários capítulos de um desenho animado para a TV. O personagem rouba a cena e seu dublador, Eduardo Jardim, faz um trabalho sensacional (Jardim também dubla Relax e não decepciona).

“Brasil Animado 3D” tenta atrair adultos com algumas referências a “Star Wars”, “Ghost – Do Outro Lado da Vida” e outros filmes, mas elas funcionam menos do que deveriam. Afinal, de nada adianta citações espertas para os mais velhos, se o conjunto total da obra não consegue atraí-los. Não existe uma história consistente que segure o filme. A busca da árvore mais antiga do mundo serve como uma desculpa para uma aula de geografia para as crianças.

E o filme é visivelmente indicado para crianças menores. Resta saber se foi a intenção da diretora ou não. Se foi, talvez eu, no alto dos meus 25 anos, não seja o mais indicado para comentá-lo. Mas fui ao cinema com meu primo, de nove anos. Ele definiu o filme com um “legal” que me pareceu menos animado do que os outros proferidos por ele após outras sessões de cinema. Logo, ele emendou: “Mas eu prefiro Gui & Estopa”. Trata-se de uma animação também criada por Caltabiano, esta para a TV. Não foi coincidência. Meu primo sabia da ligação porque viu a propaganda de “Brasil Animado 3D” no intervalo do desenho e já conhecia Relax e Stress de lá. “Gui & Estopa” é formado por alguns episódios de poucos minutos que o Cartoon Network exibe todos os domingos às 9h30 da manhã. Talvez, seria este o destino ideal para “Brasil Animado 3D”.

Brasil Animado 3D (2011, Brasil)
direção: Mariana Caltabiano; roteiro: Mariana Caltabiano, Eduardo Jardim; fotografia: Maritza Caneca; montagem: Ihon Yadoya, Bruno Chekerdimian; música: Alexandre Guerra; produção: Mariana Caltabiano, Thais Bastos; com as vozes de: Eduardo Jardim, Fernando Meirelles, Daiane dos Santos, Ariel Wollinger, Mariana Caltabiano; estúdio: Teleimage, Globo Filmes, Mariana Caltabiano Criações; distribuição: Imagem Filmes. 75 min