CineOP 2016: Uma mostra de cinema engajada

Pensando o cinema de forma completa, como instrumento de conhecimento e ação, a Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP) é o primeiro e único evento audiovisual do Brasil que se propõe a discutir preservação e memória do patrimônio cinematográfico ao mesmo tempo que debate questões da atualidade. Esse ano, por exemplo, o evento se volta para a reflexão sobre a trajetória política brasileira, desde a ditadura. Além disso, a mostra se dedica à educação, com uma programação que se compromete também com a comunidade escolar e com a formação e qualificação profissional.

Na 11ª edição, o eixo temático central é “Cinema, TV e Educação” e os homenageados são profissionais que se incluem nessa temática, cada um a sua maneira: o diretor Eduardo Coutinho e o montador Francisco Sérgio Moreira. Coutinho é referência para a história do cinema brasileiro através da assinatura de obras documentais importantíssimas, como “Cabra Marcado Para Morrer”, de 1984, que está entre os filmes selecionados para a homenagem . Já Moreira é considerado pioneiro no trabalho de restauração, tendo trabalhado na Cinemateca do MAM e na Labocine. Ambos começaram suas carreiras na televisão.

"Cabra Marcado Para Morrer",de Eduardo Coutinho
“Cabra Marcado Para Morrer”,de Eduardo Coutinho



Ao todo serão exibidos 91 filmes (longas e curtas), distribuídos nas mostras temáticas Contemporânea, Preservação, Histórica e Educação, destacando-se, inclusive duas pré-estreias: “Filhos de Bach”, coprodução Brasil e Alemanha, dirigida por Ansgar Ahlers, e “Crônica da Demolição”, dirigido por Eduardo Ades.

A temática Preservação propõe como eixo os “Arquivos de Televisão” e tem “Jango”, de 1984, como filme principal. Dirigido por Silvio Tendler, ele é emblemático para o tema já que se utiliza de uma vasto material de arquivo para abordar a trajetória do ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar. A discussão sobre o acesso ao audivisual, descentralização e a recente proposição de uma “netflix” de produções brasileiras está entre os objetivos desse eixo. Questões muito pertinentes, uma vez que pensar cinema brasileiro é também pensar sua distribuição. Outro destaque é a entrega do Plano Nacional de Preservação.

Na temática Histórica, destacam-se produções selecionadas para o que os organizadores definiram como “O Cinema e o Processo de Abertura Política”. Obras como “A Próxima Vítima” de João Batista de Andrade, “Eles Não Usam Black-Tie”, de Leon Hirszman, e “Extremos do Prazer”, de Carlos Reichenbach, são alguns exemplos escolhidos para a proposta de se refletir sobre política, principalmente no âmbito do processo da abertura para a democracia, tão discutida nos tempos atuais de nossa sociedade.

"Eles Não Usam Black-Tie", de Leon Hirszman
“Eles Não Usam Black-Tie”, de Leon Hirszman

Na temática Educação, a 11ª CineOP promoverá o “Encontro da Educação: VIII Fórum da Rede Kino”, com enfoque na relação entre cinema, TV e sala de aula, considerando que a escola é unidade comunitária e que os diversos meios de comunicação são uma realidade cada vez mais constante na rotina de alunos, que não somente consomem coteúdo, mas também produzem.

Uma das mesas de debate de destaque é sobre a Lei 13.006, de 26 de junho de 2014, que estabelece a exibição obrigatória de filmes brasileiros nas escolas de educação básica.. A CineOP de 2015 discutiu as perspectivas da legislação e, agora, fará um balanço dos resultados alcançados até o momento.

Os filmes da Mostra Educação são produzidos por educadores e estudantes no contexto escolar e de espaços não-formais de ensino. Um deles é o longa “Acabou a Paz, Isto Aqui vai Virar o Chile, Escolas Ocupadas em São Paulo”, de Carlos Pronzato. Além disso, haverá a apresentação de 15 projetos comunitários audiovisuais e também o programa Cine-Escola, onde se destaca o filme “O Que Queremos Para o Mundo?”, de Igor Amin, que faz parte de um projeto multiplataforma muito criativo, que promove interação com o público.

Além dos filmes e debates, há também oficinas e workshops gratuitos, exposições, lançamentos de livros, atrações artísticas etc. E, claro, acontecendo em Ouro Preto, cidade histórica, o próprio local se torna personagem a ser também investigado, com muito a se aprender sobre Minas Gerais e sobre o Brasil, apenas por estar ali.

Ouro Preto