"Silêncio" (Silence, 2016) © Paramount Pictures

    cinematório café #18: Scorsese nosso que estais na tela

    Renato Silveira e Kel Gomes·

    Neste programa, nós debatemos o filme “Silêncio” (Silence, 2016, EUA/Taiwan, México), de Martin Scorsese, e traçamos paralelos com outros dois filmes do cineasta que têm a religiosidade como tema: “Kundun” (1997) e “A Última Tentação de Cristo” (1988).

    O programa está dividido em duas partes: a primeira, sem spoilers; a segunda, com spoilers. Abaixo, você pode conferir a minutagem em que cada filme entra:



    00:00:00 – Introdução
    00:05:27 – Debate sobre “Silêncio”
    00:48:46 – SPOILERS de “Silêncio”
    01:14:14 – Encerramento

    Nesta edição, nós temos a participação de:

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    O cinematório café é um podcast semanal produzido e apresentado por Renato Silveira e Raquel Gomes. A cada episódio, nós propomos um debate em torno de temas relacionados ao cinema e às suas áreas correlatas, sempre em um clima de descontração, mas buscando, acima de tudo, reflexões sobre imagens que estão presentes no nosso dia a dia.

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    Academia do Café  Coletivo Libertad

    Hyperlinks deste episódio:

    • Trilha sonora de “Silêncio”, composta por Kathryn e Kim Allen Kluge:

    • Entrevista de Scorsese sobre fé e cinema (legendado):

    • Todas as aparições de Martin Scorsese em seus filmes (sem legendas):
    • Vídeo-ensaio: “Martin Scorsese – A Arte do Silêncio” (Every Frame a Painting, sem legendas):

    — Livros:

    Silêncio

    Conversas com Scorsese

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    4 Responses

    1. Renato, sem dúvida longe de ser uma fraqueza a diversidade cultural é nossa maior força. Porém não podemos cair na arapuca de celebrar a perseguição, tortura e morte em nome do multiculturalismo, pondo tudo no mesmo balaio. Já ouvi muita gente boa pronunciando atrocidades como “quem somos nós para julgar o modo como os muçulmanos tratam suas mulheres” ou “quem somos nós para julgar o modo como os sul-africanos tratavam seus negros na época do Apartheid”. A falha óbvia desse raciocínio é transformar uma questão de direitos humanos em uma de direito de propriedade – enxergando mulheres e negros não como seres sencientes dotados de vontade própria mas como meros objetos inanimados pertencentes a uma cultura tribal. Um segunda falha desse argumento é considerar cada cultura humana como um bloco monolítico homogêneo cuja autenticidade é determinada pela visão mais conservadora e reacionária. Perdi a conta de quantas vezes vi ocidentais acusando mulheres muçulmanas progressistas de “não serem legítimas representantes de seu povo”, já que não trajavam burkas nem dedicam sua vida a seus varões – como se os únicos representantes legítimos do islã fossem os fundamentalistas religiosos reacionários!

      A linha separando a variedade cultural saudável do abuso psicológico tribal costuma ser bastante óbvia, porém mesmo assim frequentemente não conseguimos enxergá-la. E nós brasileiros definitivamente não conseguimos vê-la nem mesmo quando está piscando em neon na nossa frente. Recentemente vi em um telejornal reportagem sobre um restaurante carioca que serve pratos típicos do Catar. Achei muito interessante a descrição das cores, sabores e aromas exóticos até o ponto em que a repórter sorridente comentou que, logo na entrada, os clientes do sexo masculino eram separados das mulheres em salas diferentes, onde recebiam instruções de como se portar e se vestir, e recebiam distrações diferentes para aguardar os pratos! É óbvio que uma linha foi cruzada ali, porém nem por um momento a reportagem ponderou que estavam celebrando a misoginia daquela cultura. Coincidentemente no dia seguinte li matéria no site “The Intercept” sobre uma fazenda no Vale do Paraíba fluminense onde o visitante pode passar uma tarde agradável sendo servidos por escravos negros, como nos saudosos tempos do cativeiro – sem absolutamente nenhuma culpa nem reflexão sobre nosso passado escravagista. ( TURISTAS PODEM SER ESCRAVOCRATAS POR UM DIA EM FAZENDA “SEM RACISMO”. https://theintercept.com/2016/12/06/turistas-podem-ser-escravocratas-por-um-dia-em-fazenda-sem-racismo ) Faço minhas as palavras da autora da matéria, Cecilia Olliveira: “As pessoas que passam um dia descontraído nessas senzalas e casas grandes teriam coragem de pegar um trem na Polônia, rumo a Auschwitz, dividindo o assento com atores judeus sorridentes fantasiados de seus ancestrais?”

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    2. O cruzamento entre Estado e Igreja sempre pare uma aberração chamada ditadura teocrática. Faz 70 mil anos que é assim de norte a sul, leste a oeste. Não se deixem levar pela esparrela da “saída pelo oriente”. Sabiam que foi oficialmente em nome da difusão do budismo – uma religião ateia mas ainda assim coberta de dogmas sobrenaturais – que o Japão expandiu um império colonialista sanguinário por toda a Ásia? Mutilando, estuprando e chacinando opositores, principalmente na Coreia e Manchúria? Só apoia a volta da teocracia ao Tibet quem desconhece as graves violações aos direitos humanos que ocorriam no regime dos lamas antes da invasão chinesa. Até crianças tinham os olhos vazados, mãos e pés amputados por criticar o Dalai Lama e sua ditadura teocrática.

      Recomendo começarem a abrir seus olhos com algo leve, assistindo ao programa de TV “PENN & TELLER: BULLSHIT!” episódio “MAIS SANTO QUE TU” (3×05 Holier Than Thou), exibido em 23/05/2005 e apresentado pelos mágicos Penn Jilette e Joseph Teller. Sobre o 14º DALAI LAMA TENZIN GYATSO (1935-) revelam que já foi ditador sanguinário, elitista e escravizador; e também um guerrilheiro pago pela CIA para combater a China Comunista. Quando ainda estava em poder no Tibet, a sociedade era uma teocracia medieval, dividida em duas castas: no topo, uma elite sacerdotal cercada por nobres cortesãos bajuladores; na base camponeses escravizados. Um Estado autoritário, onde qualquer oposição rendia castigos corporais, amputações de membros e pena de morte. Apesar do regime chinês também não ser nenhuma maravilha democrática fato é que os pobres tibetanos só conheceram itens básicos de civilização como água encanada e esgoto quando seu país foi anexado pelo gigante asiático. Exilado, o dalai primeiro recebeu ajuda da CIA para treinar mercenários e guerrilheiros, de modo a recuperar o poder. Uma vez que a violência não funcionou, adotou a estratégia de convencer a opinião pública do mundo ocidental a pressionar a China a lhe devolver sua ditadura escravocrata. Passou a lançar livros de auto-ajuda e a pregar a paz em salões de hotéis de luxo ao redor do mundo. Só hotéis com pelo menos cinco estrelas, e sempre cercado por estrelas igualmente brilhantes de Hollywood. (Pelo menos aquelas mais ingênuas e/ou anti-comunistas, que odeiem esta ideologia sócio-econômica a ponto de não selecionarem seus aliados.) Há apenas duas semanas o humorista John Oliver entrevistou o Dalai Lama em seu programa “LAST WEEK TONIGHT” e, sobre a acusação chinesa de que ele não passa de um lobo em pele de cordeiro, o homem santo se limitou a responder: “São acusações de comunistas; desde quanto a gente deve levar em conta o que um comuna fala?” Esse é o verdadeiro Dalai Lama.

      A seguir o relato de uma testemunha ocular, explicando como funcionava a teocracia budista do Tibete em 1959, sob o governo do jovem Dalai Lama Tenzin Gyatso (este mesmo que hoje escreve livros de autoajuda): “Alguns monastérios tinham suas próprias prisões, reporta Anna Louise Strong. Em 1959 ela visitou uma exposição de instrumentos de tortura usados pelos líderes tibetanos. Havia algemas de todos os tamanhos, incluindo pequenas para crianças, instrumentos para cortar narizes e orelhas, e para amputar mãos. Para vazar olhos havia um capuz de pedra com dois buracos, que era prensado sobre a cabeça de modo que os olhos saltassem para fora pelos buracos e pudessem ser facilmente arrancados. Havia instrumentos para arrancar rótulas de joelhos e calcanhares e para cortar tendões de pernas, aleijando o prisioneiro. Havia ferros quentes de marcar, chicotes e instrumentos desenhados para estripar.” [ Fonte: “Friendly Feudalism: The Tibet Myth” by Michael Parenti http://www.swans.com/library/art9/mparen01.html ]

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      1. Obrigado pelo comentário, Alan, e pelas informações. Reconheço que nos falta embasamento para opinar sobre o budismo e sobre a história religiosa e política do Tibet. No entanto, não me recordo de, em algum momento, termos defendido a volta do estado teocrático no Tibet. Se o fiz (e peço que você identifique o momento do comentário em que eu ou a Raquel afirmamos isso), peço aqui, humildemente, desculpas, pois certamente me expressei mal. O objetivo da minha fala (e da Raquel também) era contestar a invasão chinesa, que não julgamos correta. Isso não significa que apoiamos o que aconteceu ou deixou de acontecer no Tibet antes (mais uma vez, nos falta conhecimento e bagagem para opinar a respeito). Nosso ponto é que não é invadindo e oprimindo outra cultura que se “conserta” as coisas. Abraço.

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      2. Caro, Alan, obrigada pelo comentário! Como o Renato já explicou, não defendemos estado teocrático, mas também não defendemos a invasão chinesa. Em nome da “libertação” ou da “missão civilizatória” sabemos que muitos povos e culturas foram e estão sendo dizimados. Aqui mesmo no nosso país, temos o exemplo de comunidades indígenas. Esse foi o recorte que abordamos durante o podcast. Sobre o conflito entre Tibet e China, não é meu objeto de estudo, tampouco estive em alguma das duas nações para relatar situações in loco. O que sei se baseia na História que nos é contada através de pesquisadores e notícias/matérias jornalísticas. Partindo disso, acho que você pegou leve quando diz que “apesar do regime chinês não ser nenhuma maravilha democrática”… Isso é questionável. Muitas características do regime chinês se aproximam mais de uma ditadura – ou no mínimo de um autoritarismo – do que de uma democracia. Você cita intolerância e atos de violência dos tibetanos, mas precisa considerar os atos violentos dos chineses, que também foram relatados. Resumindo, o que quero dizer é que esse assunto é muito complexo e considero imprescindível analisar e opinar com base em estudos históricos de diversos autores e notícias de diferentes canais jornalísticos. Deixo aqui alguns links de artigos científicos em português, caso se interesse:
        https://lerhistoria.revues.org/2499
        http://portal.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CNO_ARQ_NOTIC20100920143405.pdf
        http://www.humanas.ufpr.br/portal/conjunturaglobal/files/2013/04/Dossi%C3%AA-Tibete-an%C3%A1lise-dos-conflitos-sino-tibetanos.pdf
        http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292000000100008
        E um relato: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/um-brasileiro-na-china

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