Com temática política e traços de horror, “Mormaço” ganha data de estreia

"Mormaço" (2018) - Foto: Vitrine Filmes/Divulgação
Foto: Vitrine Filmes/Divulgação

Primeiro longa-metragem solo da diretora Marina Meliande, “Mormaço” estreia no dia 9 de maio, em circuito comercial no Brasil, após ser exibido em dezenas de festivais pelo mundo. A distribuição é da Vitrine Filmes.

O filme teve sua première na competição oficial do Festival de Roterdã, na Holanda, em 2018, e foi exibido pela primeira vez no Brasil na mostra competitiva do último Festival de Gramado. A produção também passou pela mostra competitiva Novos Rumos, do Festival do Rio, onde recebeu menção honrosa do júri, e esteve na 42ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

“Mormaço” traz Ana (Marina Provenzzano, de “O Grande Circo Místico”) como protagonista. Ela é uma jovem defensora pública carioca, dividida entre uma doença misteriosa e seu trabalho na Vila Autódromo, comunidade prestes a ser despejada por conta dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016.



Além da direção, Marina Meliande assina o roteiro com a colaboração de Felipe Bragança. A dupla já trabalhou junta em outros projetos e assina a direção de longas como “A Fuga da Mulher Gorila” e “A Alegria”. Além de Marina Provenzzano, o elenco conta com o Pedro Gracindo (neto de Paulo Gracindo e filho de Gracindo Jr.), Diego de Abreu, Analu Prestes, Igor Angelkorte e Sandra Souza.

Confira algumas fotos do filme:

Olimpíadas

De acordo com Meliande, a ideia de “Mormaço” surgiu quando o Rio de Janeiro foi anunciado como a cidade que iria sediar os Jogos Olímpicos de 2016. “A notícia sobre as Olimpíadas começou a ser divulgada e comemorada na imprensa como algo que traria inúmeros benefícios para o Rio. A cidade logo em seguida começou a se transformar rapidamente e a se preparar para sediar o evento. E eu comecei a me incomodar muito sobre como as decisões políticas em relação aos espaços públicos estavam sendo tomadas, e consequentemente a relação com as comunidades”, comenta a cineasta. “Eu não estava sendo tocada diretamente por isso, mas eu sou carioca, vivo no Rio, tenho minha vida ligada à cidade. Quis escrever sobre isso, fazer um filme sobre uma personagem que se sente pouco à vontade no espaço onde viveu a vida toda, que está se sentindo expulsa desse lugar e tivesse que se readaptar a esse espaço em transformação. Assim, de alguma maneira, o corpo dessa personagem se transformasse junto com a cidade, como uma forma de resistência, de doença ou um sinal a essa mudança”, explica.

De acordo com Meliande, foi durante o trabalho de pesquisa para o longa que ela tomou conhecimento da Vila Autódromo, uma comunidade localizada em frente do local onde seria construído o Parque Olímpico. Por despertar o interesse comercial da especulação imobiliária, a área foi incluída como moeda de troca na negociação do prefeito com as construtoras responsáveis pelo projeto do Parque Olímpico, para que ficassem com esse terreno. Porém, os moradores eram uma comunidade legalizada e que não podia ser removida de uma hora para outra. “Quando eu cheguei lá parecia um cenário pós-apocalíptico, tinham algumas casas completamente destruídas e outras ainda em pé, uma associação de moradores muito forte, organizada e consciente do que eles podiam fazer para lutar pelos seus direitos de moradia, e eu fiquei fascinada pelo encontro com essas pessoas. Tinham lideranças femininas muito fortes, uma delas é a Sandra, que virou uma das atrizes do filme fazendo a personagem Domingas”, comenta Marina.

Para a diretora, “a Vila Autódromo era a síntese de tudo o que estávamos passando naquela época: ruína e resistência, com mulheres fortes e corajosas na liderança de uma determinação superimportante”. A Vila Autódromo é a única comunidade da história das Olimpíadas que conseguiu resistir aos processos de remoções, e algumas famílias permanecem morando no bairro nos dias de hoje.

Além de toda a questão política, “Mormaço” usa traços do cinema fantástico e de filmes de horror para abordar esse momento de opressão, mas também de resistência, que o país vive desde então. Segundo a diretora, o filme fala sobre corpos que resistem a sistemas opressivos e intolerantes e como os corpos se transformam de forma poética.

Com informações da assessoria de imprensa da Vitrine Filmes.