“Machuca”: A inocência perdida

"Machuca" (2004), de Andrés Wood - Divulgação
"Machuca" (2004), de Andrés Wood - Divulgação

O golpe de estado aplicado por Augusto Pinochet sobre o governo chileno de Salvador Allende, em 1973, foi tema do excepcional documentário de Patricio Guzmán, “A Batalha do Chile”. “Machuca”, quarto longa-metragem de Andrés Wood (“História de Futebol”, “Febre de Loco”) aborda aquele difícil período enfrentado pelo país sob uma ótica diferente.

A história começa quando um padre (Ernesto Malbran) toma a iniciativa de integrar jovens da elite e da camada pobre da sociedade no colégio particular onde ele é diretor. Gonzalo Infante (Matías Quer) é o garoto burguês que se aproxima de Pedro Machuca (Ariel Mateluna), dando início a uma grande amizade. Enquanto Pedro tem a oportunidade de desfrutar dos confortos que Gonzalo possui em casa, este conhece um lado de seu país que antes era apenas uma opinião cercada de preconceitos. A relação dos dois, porém, acaba abalada pela iminência da derrocada de Allende no fatídico 11 de setembro de 1973.
“Machuca” oferece uma visão única sobre a trágica transição do regime democrático socialista para a ditadura militar. Através do olhar de Gonzalo, Wood traça os contrastes entre os dois polos sociais do Chile. À medida em que vai se tornando mais amigo de Pedro, Gonzalo começa a entender a importância de respeitar o outro, como o padre McEnroe queria, independente das diferenças que lhe ensinaram a enxergar.
"Machuca" (2004), de Andrés Wood - Divulgação
“Machuca” (2004), de Andrés Wood – Divulgação
O filme se utiliza da inocência desse período da vida em que se descobre experiências, como o primeiro pileque e a primeira namorada, para examinar os absurdos que ocorreram naquela época. É como se Wood – que tinha oito anos de idade no período em que o filme se passa – também procurasse entender como a intolerância e a ganância da elite coibiram a busca pela igualdade. Isto é algo que fica claro na seqüência em que, após o golpe militar, Gonzalo vai até o bairro onde Pedro mora e, ao retornar para casa, a câmera, focada em seus olhos, revela que ele não consegue compreender como duas sociedades tão diferentes podem existir dentro do mesmo país.
“Machuca” cai um pouco quando se apóia no melodrama, mas as ótimas atuações dos garotos e a bela fotografia de Miguel J. Littin (colaborador freqüente de Wood) passam por cima desse problema. É um filme tocante, que oferece lições valiosas a um público de todas as idades.
Nota:
Machuca (2004, Chile/Espanha/Reino Unido/França). Direção de Andrés Wood. Com Matías Quer, Ariel Mateluna, Manuela Martelli, Ernesto Malbran, Aline Küppenheim.
O DVD
A edição lançada no mercado brasileiro pela VideoFilmes é simples, sem nenhum extra.
Duas faixas de aúdio estão disponíveis, uma em espanhol e outra em português, ambas em 2.0.
A imagem está com boa qualidade, mas é apresentada em formato de tela widescreen letterbox, e não anamórfico – o que significa que você poderá ter problemas com as legendas caso possua uma TV widescreen.