Ranulpho é cinema

Na primeira vez em que vi “Cinema, Aspirinas e Urubus”, há exato um ano no Cine Odeon durante o Festival do Rio 2005, a impressão que tive foi a de ter assistido a um excelente filme, mas eu ainda não havia processado totalmente a força de suas imagens. Elas ficaram na minha cabeça, mas grudadas a tantas outras que eu vira até ali no festival e a outro tanto que vieram nos dias seguintes. Em dezembro, quando o filme já estava em cartaz em BH há algumas semanas, me reencontrei com ele e tive a certeza de que se tratava de um trabalho distinto entre as produções nacionais desta Retomada. Hoje, ao revê-lo pela segunda vez, a sensação foi a de estar diante de um já-clássico.

Em uma cena, Ranulpho diz a Johann que “cinema de verdade” fica num lugar fechado, escuro, confortável, e não ao ar livre, numa tela em cima de dois paus fincados no chão. “Cinema, Aspirinas e Urubus” é cinema de verdade. E para ser verdadeiro, não importa onde é exibido. Ser “de verdade”, aqui, é ser simples para falar direto com nossas emoções. Marcelo Gomes consegue estabelecer esse diálogo através de Ranulpho, a representação do brasileiro que, apesar de todos os problemas que o cercam pelos lados, acima da cabeça e debaixo dos pés, segue adiante com bom humor, a cabeça erguida e a esperança nos olhos.



Ranulpho é o cinema. O Oscar não é “o fim de todos os males”. Será ótimo o dia em que nós o ganharmos, e melhor ainda se for com um representante como “Cinema, Aspirinas e Urubus”. Mas o que de fato importa é que filmes como este são maiores do que prêmios. E sua simples existência (e sua simplicidade) já é motivo suficiente para comemorarmos e sentirmos orgulho por compartilharmos a mesma nacionalidade.