Star Wars: 30 anos

Em 25 de maio de 1977, estreava nos cinemas “Star Wars”. Para comemorar a data, decidi dar uma geral na saga e publico abaixo breves resenhas sobre os seis filmes. Se você é um fã como eu, vista a sua camisa, assobie a trilha sonora, encha o saco dos amigos repetindo a sua fala favorita! Celebre à sua maneira, e deixe os Piratas do Caribe para a semana que vem.

Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977)

No começo, era apenas “Star Wars”. Não tinha episódio número tal ou subtítulo sobre vingança, ataque ou retorno de seja-lá-quem-for. O nome “Episódio IV – Uma Nova Esperança” só surgiu após o estouro do filme nas bilheterias em 1977, o que deu a George Lucas a garantia de poder realizar mais duas continuações.



Tanto sucesso nasceu da imaginação fértil do cineasta, que conseguiu a proeza de criar um universo em apenas duas horas e nos fazer acreditar nele. É aqui que vemos pela primeira vez os dróides C-3PO e R2-D2, e tomamos conhecimento de que a galáxia está sob o domínio de um tirano, Darth Vader. A Princesa Leia Organa é uma das líderes da Aliança Rebelde, mas, ao cair nas mãos de Vader, ela precisa da ajuda de um antigo mestre Jedi, Obi-Wan Kenobi, que por sua vez confia ao jovem Luke Skywalker a missão de salvar a Princesa e deter a mortal arma criada pelo Império: a Estrela da Morte.

Tudo no filme é tão minuciosamente detalhado e criativo, que é quase impossível não crer que estamos olhando para personagens e lugares que realmente existem. Mas, claro, é uma ficção-científica, e o próprio Lucas nos diz que tudo aquilo se passa em uma época (“há muito tempo”) e um lugar (“numa galáxia muito distante”) que nem mesmo a imaginação dele pode determinar.

O triunfo de Lucas também está na unidade de ação que ele consegue manter durante todo o filme, sem deixar o espectador cansado. Assim foi dada a partida em uma máquina que iria gerar uma das séries mais distintas e populares do cinema.

Episódio V – O Império Contra-Ataca (1980)

O que há de melhor em “O Império Contra-Ataca” certamente é o engrandecimento que a história toda toma. Neste filme, ela se torna pessoal. A relação entre os personagens é mais intensa e todos são mais explorados, pois já haviam sido estabelecidos em “Uma Nova Esperança”.

O confronto entre Luke e Darth Vader é cada vez mais iminente. Entre Leia e Han Solo, um sentimento mais forte se concretiza a cada parada da Millennium Falcon. Até mesmo nas situações de alívio cômico vividas por Chewbacca e os dróides, vemos que há um carinho especial por parte de Leigh Brackett e Lawrence Kasdan, a quem George Lucas confiou o roteiro. O cineasta se manteve somente como produtor, deixando a direção para Irvin Kershner.

Kershner diz que via o filme como o segundo movimento de uma ópera, por isso quis fazê-lo um pouco mais lento e dar mais tempo para as coisas acontecerem, para, no fim, deixar o público ansioso pelo ato final. De fato, “O Império Contra-Ataca” estabelece os laços que devem ser concluídos e mostra quais peças faltam ser encaixadas. Sem dúvidas, é o auge do arco de Luke, que no próximo filme irá fechar o ciclo.

Não só a história ganha em amplitude, como a escala dos cenários, a quantidade de planetas e a trilha sonora (marcada pela incomparável “Marcha Imperial”) também se elevam para assumir um tom épico, que faz desse o melhor episódio da saga. É um filme irretocável e a peça fundamental para o sucesso da trilogia clássica.

Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983)

Se não há dúvidas de que “O Império Contra-Ataca” é o melhor filme da trilogia original, também não se questiona que “O Retorno de Jedi” é o que mais deixa a desejar. A começar pela ação, muito limitada se comparada ao episódio anterior. Basicamente, o filme todo se passa em apenas dois planetas: Tatooine e Endor. E a única trama realmente importante é a resolução do confronto entre Luke e Darth Vader. O duelo dos dois, mediado pelo Imperador, é uma das poucas passagens dignas de nota. A maior parte não passa de uma aventura boba, ainda que comece bem, quando Luke e Leia tentam resgatar Han Solo, imobilizado em carbonite.

O grande problema é que não há mais desenvolvimento algum dos personagens. Para piorar, os diálogos são insossos. Seria culpa de George Lucas? Ele se manteve ausente da direção, passando a bola para Richard Marquand, mas voltou a escrever neste episódio. Vale lembrar que, na edição especial lançada em 1997, Lucas inventou uma porção de gracinhas desnecessárias, como personagens arrotando e um número musical no palácio de Jabba (o momento mais ridículo e constrangedor de toda a saga, perdendo apenas para aquele bicho que solta gases antes da corrida de pods de “Episódio I”).

Apesar dos pesares, por oferecer uma conclusão satisfatória, “O Retorno de Jedi” é divertido e fecha a trilogia com um mínimo de dignidade. Poderia ter sido melhor, mas por mais que Lucas mexa no filme (chegando a trocar a cabeça de Sebastian Shaw pela de Hayden Christensen no DVD), é evidente que seu conjunto não foi tão bem trabalhado como nos outros dois.

Episódio I – A Ameaça Fantasma (1999)

Tornou-se senso comum dizer que “A Ameaça Fantasma” é o pior filme da série “Star Wars”. Tudo bem, não dá para ignorar a presença quase sempre irritante de Jar Jar, a falta de carisma de Jake Lloyd, que vive Anakin Skywalker ainda criança, ou os fracos diálogos. Entretanto, o filme possui qualidades que as pessoas parecem querer ignorar.

Somos apresentados a um universo diferente daquele visto na sagrada trilogia. A maioria dos personagens é desconhecida, a trama é outra, as naves, os lugares, os vilões, tudo é diferente, o que pode ter sido a razão da decepção de muitos que já estavam acostumados aos ícones criados por Lucas. Somente os sabres de luz e os dróides R2-D2 e C-3PO restaram como característica de que aquilo na tela era “Star Wars”. Mas é preciso entender a proposta: mostrar como as coisas eram antes de Darth Vader existir.

As conspirações políticas começam a se formar aqui para a insurreição do Império mais tarde. À época do lançamento, essa trama parecia atrapalhar o que deveria ser um filme de aventura infanto-juvenil. Contudo, após os episódios II e III, tudo o que vimos lá atrás faz mais sentido e percebemos como o cheque-mate de Palpatine foi preparado para que ele chegasse a um cargo de poder na República e passasse a manipular os dois lados.

Assim, “A Ameaça Fantasma” merece ser revisitado agora que a nova trilogia está fechada. Até porque o filme oferece dois atrativos que nunca são demais ver de novo: a empolgante corrida de pods e a luta de sabres de luz contra Darth Maul, que ao som de “Duel of the Fates” tornou-se o grande momento da volta de “Star Wars” ao cinema.

Episódio II – Ataque dos Clones (2002)

“Ataque dos Clones” se aproveita do fato de contar com personagens e situações já estabelecidos. Com isso, George Lucas ganha espaço para desenvolver melhor o enredo, e o que é melhor: volta a mergulhar na mitologia da série.

O que diferencia este filme de “Episódio I” é que vemos “Star Wars” como antigamente: uma ficção-científica que acredita em seu próprio universo. Temos C-3PO e R2-D2 novamente como “dupla cômica”, o uso da “Marcha Imperial” na trilha sonora, a referência à Estrela da Morte, enfim, elementos que remetem aos filmes antigos, criando uma conexão mais forte entre as duas trilogias.

Lucas também ganha pontos ao optar por uma narrativa épica, bem diferente da vista em “A Ameaça Fantasma”. Somos levados a diversos planetas e podemos conhecer melhor como cada um deles é estruturado, algo inédito na saga até então.

Como diretor, Lucas retorna à boa forma e cria cenas de ação entusiasmantes, como a perseguição em Coruscant e os vários duelos, com destaque para o de Yoda, finalmente visto em batalha. Além disso, ele demonstra sutileza ao filmar momentos dramáticos: apesar dos clichês nos diálogos (sempre o seu ponto fraco), repare que toda vez que Anakin e Padmé demonstram seus sentimentos, ambos são obscurecidos de alguma forma, seja pela luz da lareira, seja por vermos somente suas sombras se abraçando. Afinal, fica claro que um dos motivos que leva Anakin ao Lado Negro é a sua entrega a sentimentos pessoais.

“Ataque dos Clones” não se compara a “O Império Contra-Ataca”, mas desempenha a mesma função: faz revelações e eleva nossas expectativas para o episódio final.

Episódio III – A Vingança dos Sith (2005)

Logo de cara, “A Vingança dos Sith” começa uma maestria arrebatadora. A trilha sonora com os tambores retumbando (que mais tarde irão se repetir) estabelece o clima de decisão. Uma nave passa pela câmera e revela a batalha megalomaníaca sobre a atmosfera de Coruscant. Nunca se viu algo assim em nenhum filme da saga, nem em qualquer outra ficção-científica. A impressão que se tem é que aquilo é realmente um épico orquestrado, como Irvin Kershner havia notado em “O Império Contra-Ataca”.

Mitologia é a palavra-mágica para decifrar o que fez de “Star Wars” o que é hoje, e em “A Vingança dos Sith” Lucas se entrega totalmente a ela. E não é só por trazer Chewbacca de volta à tela. Aqui, Lucas tinha a obrigação de ligar as trilogias, até mais do que responder às perguntas que deixou no ar nos episódios anteriores. Nesse intento, ele foi muito bem sucedido: nos mostra como Anakin se tornou Darth Vader e como ganhou a armadura; revela como os gêmeos Luke e Leia foram separados e porque Vader nunca soube da existência deles; enquadra aquele pôr-dos-sóis em Tatooine de forma a fazer qualquer fã suspirar; e esclarece como a República se transformou em Império numa das passagens mais sombrias da saga, quando vemos Palpatine (já transformado em Sidious) clamar a criação de seu reinado. “É assim que a liberdade termina, sob aplausos,” diz Padmé desolada.

Alguns dos momentos mais memoráveis dos seis filmes estão em “A Vingança dos Sith”: o diálogo entre Palpatine e Anakin na ópera, onde o primeiro discorre sobre o bem ser uma questão de ponto de vista; o trágico momento em que Anakin se rende ao Lado Negro; e talvez uma das cenas mais emblemáticas: aquela em que ouvimos a primeira de respiração de Vader com a máscara, seguida pelo último suspiro de Padmé. Dois sopros, e dois sopros de morte.

“Episódio III” não marcou apenas o fim da nova trilogia ou da saga “Star Wars” no cinema. Se há exatos 30 anos tinha início este incrível fenômeno cultural, o dia 19 de maio de 2005 ficou marcado como o encerramento de uma celebração. “Star Wars” nunca foi um frenesi momentâneo. É uma criação perpetuada.