Rapidinhas

Possuídos (Bug, 2007, EUA), dir.: William Friedkin. Desde “Corpo Fechado”, uma distribuidora brasileira não escolhe um título tão ruim para enganar o público na divulgação de um filme, somente para dizer que ele é do diretor de “O Exorcista”. Não se engane, pois não há nada de sobrenatural aqui. Friedkin fez um suspense claustrofóbico, capaz de causar forte impressão no espectador enquanto a tensão é construída gradualmente, até chegar ao clímax absolutamente perturbador. Ashley Judd, vista há pouco em “Encontros ao Acaso”, novamente oferece uma ótima atuação, digna de prêmios. O mesmo pode ser dito de Michael Shannon. Aliás, na falta de uma tradução adequada para o título (o original possui uma ambigüidade genial), este é que deveria ter se chamado “Paranóia”. “Bug” é um filme-experiência. Com ele, Friedkin dá razão à existência do gênero terror: ser alegórico e transtornante. Imperdível. nota: 8/10 — veja no cinema e compre o DVD

Inimigos do Império (Ye Yan ou The Banquet, 2006, China), dir.: Xiaogang Feng. Ninguém precisa de mais uma versão de “Hamlet”, tampouco uma feita com tamanha indulgência quanto esta, que utiliza o wuxia e situa a história no antigo império chinês. O diretor parece ter descoberto a câmera lenta ontem e faz os 130 minutos passarem como se fossem quatro horas. Apesar da direção de arte deslumbrante (o que é quase um lugar-comum para produções desse tipo), as coreografias das lutas são pouco imaginativas e não empolgam. Você pode até se animar ao ver a nudez de Zhang Ziyi por um instante, mas saber que ela usou uma dublê de corpo torna tudo ainda mais frustrante. nota: 3/10 — não se culpe por não ver

Brasileirinho – Grandes Encontros do Choro (2007, Brasil), dir.: Mika Kaurismäki. O documentário brasileiro atravessa uma fase muito produtiva e um dos subgêneros que mais tem sido explorado é o do documentário musical. Apesar de “Brasileirinho” não escapar das eventuais falhas de filmes semelhantes (a principal sendo a filmagem muito formal, que chega a apelar para a encenação em alguns momentos), as ótimas apresentações de choro e a estrutura do roteiro são elementos que o tornam agradável de se assistir. Kaurismäki organiza o filme de forma didática em torno de um show, apresentando ao espectador a função de cada instrumento utilizado no palco. As entrevistas com grandes nomes do chorinho não só fornecem um aprendizado para o público pouco familiarizado, como também revelam um aspecto íntimo dos músicos com sua arte para quem já a aprecia. Um senhor que estava na mesma sessão que eu disse na saída: “Este filme é para quem gosta de coisa boa.” E ele tem razão. nota: 6/10 — vale o ingresso

Vira-Lata (Underdog, 2007, EUA), dir.: Frederik Du Chau. Tal como em seu filme anterior, o irritante “Deu Zebra!”, Du Chau trata os espectadores como se eles fossem animais adestrados: “Riam!” “Fiquem bravos com o vilão!” “Torçam pelo herói!” Implicitamente, ele também está ordenando: “Saiam do cinema!” Mas, claro, as crianças vão adorar ver um cão super-herói fazendo bagunça, ainda mais quando seu quintal passa a ser o principal parque da cidade. As referências a outros filmes de cães (James Belushi faz uma versão aposentada de seu detetive em “K-9”) e super-heróis (escalaram até mesmo um Beagle que se parece com Tobey Maguire) são bobinhas, mas divertidas, e a relação do cão com seu dono conduz a história sem muitos tropeços – até o ato final pôr tudo a perder. No fundo, não é um filme detestável, mas poderia tranqüilamente ter sido lançado direto em DVD. nota: 4/10 — não se culpe por não ver