Festival do Rio 2008: Um pouco mais de sal, por favor

Meu primeiro dia de Festival do Rio não foi dos mais empolgantes. Na verdade, o clima geral nos cinemas não está muito animado. Talvez pelo céu nublado e o frio (choveu ontem), as pessoas estejam escondidas. Mas, à exceção da sessão de “Queime Depois de Ler”, dos irmãos Coen, que lotou o Odeon (ah, que cinema!), as outras em que consegui entrar estavam muito, muito calmas.



O dia já começou um pouco ruim para mim, porque não consegui chegar a tempo para a sessão de “Gomorra”, que depois fiquei sabendo que foi a mais procurada do dia. No lugar, fui ver “O Sangue Brota”, o que não valeu muito. Antes, porém, tive o prazer de finalmente conhecer pessoalmente meus “amigos virtuais” (ainda se usa essa expressão?) Guilherme Martins e Filipe Furtado. Nos conhecemos há 10 anos no saudoso canal #cinefilo, do mIRC, mas desde então só mantemos contato pela internet. Ambos fazem parte da Liga dos Blogues Cinematográficos também. Batemos um papo rápido, mas foi ótimo.

Não vou ficar detalhando todos os meus passos aqui, e creio que também não conseguirei escrever críticas de tudo que eu ver agora. Mas vou tentar, pela manhã, vir aqui e redigir o máximo que eu puder. Por exemplo, já consegui esboçar uma crítica de “Queime Depois de Ler”, que está no post logo abaixo deste. Sobre os outros dois filmes que vi, serei breve:

“O Sangue Brota” (La Sangre brota, 2008, Argentina/Alemanha/França), de Pablo Fendrik. Um tanto pretensioso, eu diria. São duas histórias paralelas, ligadas pela premissa de um homem que está nos EUA e precisa de dinhero. Seu irmão mais novo é um rapaz rebelde (com direito a casaco de couro e trilha sonora de guitarra) e acaba que sua trama é a mais cativante, muito devido a seu relacionamento com uma garota mais nova. O pai dos dois irmãos, um taxista, se envolve em situações pouco comuns e, assim, o filme se desenvolve quase como se fosse 2 em 1. Já mais perto dos 30 minutos finais, quando as duas tramas se aproximam, as coisas melhoram. O diretor Pablo Fendrik usa muito planos de detalhe, como forma de descrever as ações. Também utiliza muitos primeiros planos, quase que encostando nos rostos dos atores. Usa poucos diálogos também, o que é bom. A prima distante do protagonista (que se revela uma baita duma sacana, no fim das contas) quase não abre a boca. Fendrik mostra que sabe dirigir, mas o problema é que a história que ele conta não diz muita coisa, apesar de ter seus momentos chocantes justamente quando “o sangue brota”. Mas no fim não me agradou muito não. nota: 5/10 — veja sem pressa

“Sereia” (Rusalka, 2007, Rússia), de Anna Melikyan. Este é o filme escolhido pela Rússia para disputar o próximo Oscar de Filme Estrangeiro. É uma comédia dramática, um “growing up tale“, sobre uma menina que vive com a mãe e à espera do pai que não conhece. Ela sonha em ser bailarina, mas a mãe quer que ela cante em um coral. Acompanhamos seu crescimento desde bebê até os 18 anos. Esta passagem do tempo acaba sendo um tanto dolorosa e cansativa, já que a diretora opta por uma narrativa episódica que tenta ser engraçadinha, mas não funciona muito. A atriz Masha Shalaeva, que faz a protagonista, não é muito carismática. E convenhamos: por mais que o filme tente se aproximar de uma fábula, não consegui sentir o mínimo de simpatia pelos personagens. A diretora Anna Melikyan acaba se saindo como um Wes Anderson que deu errado, utilizando travellings a torto e a direito e povoando seu filme com uma excentricidade que em vários momentos se converte em constrangimento. nota 3/10 — não se culpe por não ver