Apenas o Fim

A estréia de “Apenas o Fim” nos cinemas é um exemplo perfeito da desigualdade entre o número de filmes que aguardam uma data para serem exibidos e o número de salas de projeção disponíveis no país.

Se fosse lançado na “baixa temporada”, isto é, entre março e abril ou setembro e outubro, o filme do cineasta estreante Matheus Souza poderia muito bem encontrar espaço nos cinemas de shopping. Afinal, trata-se de uma comédia romântica voltada para o público adolescente ou na faixa dos 30 anos de idade. Tem atores jovens e talentosos (Gregório Duvivier e Érika Mader, ambos de “Podecrer!“), uma direção simples e moderninha, bem ao gosto da geração MTV, além de uma tonelada de referências à cultura pop, presentes em praticamente todos os diálogos.



Mas de nada adianta tudo isso com a concorrência injusta da temporada de férias escolares, quando temos, por exemplo, “A Era do Gelo 3” ocupando nada menos do que 5 das 10 salas de um multiplex da rede Cinemark. Que saída há para produções independentes e modestas, como “Apenas o Fim”, senão o circuito alternativo?

O filme de Matheus Souza está longe de ser perfeito ou merecer figurar entre os melhores do ano. Tem problemas evidentes, principalmente no exagero de citações a outros filmes, séries de TV, brinquedos, videogames, bandas e até redes de fast-food. A sensação é a de estar numa sala onde Quentin Tarantino, Kevin Smith e Jerry Seinfeld, inspirações óbvias do cineasta, conversam sobre futilidades sem parar.

Souza não coloca menção a “Antes do Amanhecer”/”Antes do Pôr do Sol” na boca dos personagens – o que pode soar estranho, uma vez que o antenado casal protagonista certamente assistiu àqueles filmes. Mas talvez Souza tenha optado por não ser tão óbvio e fazer do próprio filme uma referência a Richard Linklater.

Apesar da overdose intertextual e do prolongamento de algumas cenas com o elenco coadjuvante, “Apenas o Fim” cresce em duas instâncias mais importantes. A primeira, a direção, com Souza privilegiando tomadas longas e planos-sequências entre o vai-e-vem desnecessariamente “cool” da narrativa. A outra, o sentimento sincero que evoca através do drama do fim do namoro, situação pela qual a maioria de nós já passou e que atinge em cheio o público jovem.

Público esse que, por imposição dos grandes distribuidores, fatalmente não verá o filme e perderá seu tempo com “Transformers 2” e outras bobagens.

nota: 7/10 — vale o ingresso

Apenas o Fim (2009, Brasil)
direção: Matheus Souza; roteiro: Matheus Souza; fotografia: Julio Secchin; montagem: Julio Secchin; música: Pedro Carneiro; produção: Mariza Leão, Julia Ramil; com: Gregório Duvivier, Érika Mader, Marcelo Adnet, Nathalia Dill, Anna Sophia Floch, Álamo Facó, Julia Gorman; estúdio: Atitude Produções; distribuição: Filmes do Estação. 80 min