Aqui e Lá

Um cinquentão americano, provido de uma acidez de humor que, guardadas as devidas proporções, chega a ser cativante como Meryl Streep em “O Diabo Veste Prada”, vê sua vida se estagnar e não há nele a menor vontade de fazer algo que reverta essa situação. Robert – é esse o americano que nos é apresentado no início de “Aqui e Lá” ao som de uma música que faz lembrar as comédias italianas. Mas não se engane: não se trata de uma comédia. O protagonista nem mesmo é engraçado. Mesmo assim, não sei bem explicar porque, a trilha combina perfeitamente com o espírito de vida que parou no tempo do filme.

Robert (David Thornton) é um músico novaiorquino em quem a metrópole não causa mais nenhum fascínio. Pelo contrário, ela o deprime e rouba dele seu instrumento de trabalho – sua capacidade de tocar. É quando, sem ter ao mesmo onde morar, ele recebe uma proposta de um jovem sérvio. Viajar para a Sérvia e se casar com a namorada do rapaz para que ela receba o visto de entrada nos Estados Unidos.



Até esse momento, o filme é arrastado e cansativo. As poucas palavras de Robert geram um silêncio que às vezes é excessivamente prolongado. Mas quando Robert chega ao destino de sua viagem, o diretor Darko Lungulov acerta em cheio ao mostrar o país sem cartões postais, mas também sem tocar em questões políticas ou visitar o “submundo” de Belgrado – cidade onde o protagonista é recebido na casa da mãe do rapaz, que desconhece o verdadeiro motivo daquela visita.

A partir de então, o filme ganha mais ritmo e as situações constrangedoras que o contato entre dois desconhecidos com culturas diferentes gera (todas elas criadas sem exagerar ou forçar a barra por Lungulov, também responsável pelo roteiro) têm um toque leve de humor e romantismo. Em uma dessas situações, Robert observa curioso sua anfitriã cantar para as flores. Ela, ao perceber que está sendo observada, causa um desconcerto mútuo.

Com roteiro leve e bonito, “Aqui e Lá” já tem seu enredo traçado na metade do longa, mas guarda pequenas surpresas para seu encerramento, que pode não deixar as coisas explicitas, mas trabalha com a teoria do “para bom entendedor meia palavra basta”. Pena que algumas atuações, como a do casal de jovens que propõem o negócio, sejam apáticas e que Darko Lungulov não tenha conseguido deixar seu filme mais dinâmico – uma hora e meia de projeção parece durar mais de duas horas.

Para os oitentistas de plantão, o filme ainda vale pela curiosidade de ver a cantora Cyndi Lauper em uma participação especial e colaborando na trilha sonora.

nota: 7/10 –- vale o ingresso (filme visto no INDIE 2009, ainda sem distribuição garantida no Brasil)

Aqui e Lá (Here and There, 2009, Sérvia/EUA/Alemanha)
direção: Darko Lungulov; roteiro: Darko Lungulov; fotografia: Mathias Schöningh; montagem: Dejan Urosevic; música: Dejan Pejovic; produção: George Lekovic, Darko Lungulov, David Nemer, Vladan Nikolic; com: David Thornton, Mirjana Karanovic, Cyndi Lauper, Branislav Trifunovic, Jelena Mrdja, Antone Pagan, Max King, Fredda Lomsky; estúdio: KinoKamera, Here and There Productions, Penrose Film. 90 min