Atividade Paranormal

O lançamento de “Atividade Paranormal” em 2009 é mais do que uma coincidência com o aniversário de 10 anos de “A Bruxa de Blair”. É a prova da capacidade dos marketeiros de Hollywood em persuadir audiências e do público em ser influenciado. É o triunfo de uma fórmula comercial que vem dando certo há uma década: gasta-se pouco com o produto; investe-se em marketing viral e boca-a-boca; e o lucro equivale a múltiplas vezes o valor da despesa total. É bom para indústria, sem dúvida. Mas se a publicidade acompanha a evolução tecnológica (não existia You Tube quando os diretores de “A Bruxa de Blair” criaram um website para divulgar o filme), o mesmo não pode ser dito sobre a linguagem usada nesse tipo de filme. Na verdade, “Atividade Paranormal” parece ser um passo dado para trás.

“A Bruxa de Blair” deixa de meter medo depois da segunda vez que você assiste ao filme. “Atividade Paranormal” não mete medo nem na primeira. São 90 minutos que levam a um único grande susto. A não ser que você seja uma pessoa fortemente impressionável, nada mais no filme irá fazer você pular da cadeira, mas acredito que, mesmo o espectador sendo mais sensível, lá pela terceira vez em que a porta do quarto dos protagonistas se mexer sozinha, ele já não ficará assim tão assustado.



Este talvez seja o principal defeito do longa: os momentos mais “fortes”, digamos, acontecem dentro do quarto, com a câmera parada num tripé. Ora: reclama-se que em “A Bruxa de Blair”, “[REC]” e “Cloverfield” a movimentação extrema da câmera não nos deixa ver nada. Agora, vemos que o plano estático nos deixa ver tudo e, por isso mesmo, tudo se torna previsível. Ou a porta irá mexer ou o lençol irá levantar ou um barulho virá da escada. Fica fácil assustar assim, jogando algo de diferente na tela depois de tanto tempo de mesmice. E acaba que até mesmo o estilo documental, amador, perde sua aura, já que um detestável efeito sonoro indica a presença da entidade paranormal.

O ponto é que o diretor Oren Peli investe – e com razão – nos personagens, mas parece não saber como se faz um filme de horror. Seria ótimo se “Atividade Paranormal” dissesse algo, trabalhasse um tema, mas fica claro que a intenção do cineasta é só mesmo levar o espectador para uma volta num Trem Fantasma. Em “A Bruxa de Blair”, Daniel Myrick e Eduardo Sánchez fazem as duas coisas: constróem os personagens e suas relações por um tempo até chegarem ao primeiro susto, a partir de onde eles adotam o método Spielberg de pontuar a narrativa com momentos de tensão, em picos de adrenalina que surgem entre intervalos dramáticos. Se você analisar, verá que, mesmo sem levar sustos novamente, “A Bruxa de Blair” é um filme muito bem construído.

Colocados na balança os sustos e os diálogos entre o casal de atores Katie Featherston e Micah Sloat (que são bastante convincentes), “Atividade Paranormal” lembra mais “Mar Aberto” – o filme de tubarão que frustrou muita gente que esperava por suspense absoluto. No entanto, “Mar Aberto” é inegavelmente superior, já que é um verdadeiro estudo de personagem, coisa que “Atividade Paranormal” não é e não pretende ser.

nota: 4/10 — não se culpe por não ver

Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2009, EUA)
direção: Oren Peli; roteiro: Oren Peli; montagem: Oren Peli; produção: Jason Blum, Oren Peli; com: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Ashley Palmer, Amber Armstrong; estúdio: Blumhouse Productions; distribuição: PlayArte. 86 min