Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas

Em 2003, a Disney conseguiu a proeza de transformar uma atração de seu famoso parque de diversões em um filme divertido e que deu novo fôlego a um gênero já esquecido: o filme de pirata. Com Johnny Depp no papel principal, “Piratas do Caribe” gerou milhões e milhões de dólares nas bilheterias, o que, na matemática de Hollywood, resulta sempre em mais e mais continuações.

Menos de uma década depois do primeiro filme, chega aos cinemas “Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas” – o quarto longa-metragem da franquia. E num movimento contrário ao do filme de 2003, esta nova entrada da série parece voltar a ser uma atração de um parque de diversões: depois de uma ou duas voltas, torna-se repetitiva e não oferece mais novidades.



Apesar de iniciar uma nova história, que faz apenas algumas referências aos três filmes anteriores, sem ter ligações mais profundas, e apresentar uma dezena de novos personagens, “Piratas do Caribe 4” não traz qualquer inovação para o cinema de entretenimento ou mesmo para a franquia. É tudo mais do mesmo, e mais chato e arrastado. O filme inteiro se apóia nas gracinhas do pirata Jack Sparrow, só que Johnny Depp está tão acomodado nos trejeitos do personagem que os risos que ele provoca são automatizados, como os de um comediante de uma piada só.

Nem mesmo a presença sempre iluminada de Penélope Cruz na tela é capaz de tornar este quarto “Piratas do Caribe” atraente, uma vez que o diretor Rob Marshall não demonstra a mínima inspiração no comando do filme, um trabalho que ele parece ter aceitado fazer apenas pelo dinheiro. Gore Verbinski, o diretor da trilogia, por mais que não seja um exímio diretor, pelo menos mostrava que era apaixonado pelo universo que ajudou a criar. Já Marshall, não: ele assume de vez ser pau mandado de produtor. Para piorar, ele ainda desperdiça os (caros, caríssimos!) recursos empregados na tecnologia 3D, filmando muitas cenas escuras e que não utilizam nem a metade do potencial do formato. Existe 3D fake que é mais efetivo do que o visto em “Piratas do Caribe 4”.

Há, no entanto, uma interessante tentativa de discutir paganismo e religião no filme. Mas como aconteceu no longa anterior (que, aliás, proporciona outra discussão, muito mais produtiva), os roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio se perdem no que querem dizer enquantam tentam explicar para o público e para si mesmos o confuso (não confundir com “complexo”) enredo que criaram.

Acredito que para várias pessoas esta franquia já poderia ter sido dada como encerrada. Estou com vocês. Mas pela impressionante arrecadação que o filme tem conquistado mundo a fora, parece que os piratas ainda serão sustentados nas telas por mais um tempo.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides, 2011, EUA)
direção: Rob Marshall; roteiro: Ted Elliott, Terry Rossio; fotografia: Dariusz Wolski; montagem: David Brenner, Michael Kahn, Wyatt Smith; música: Hans Zimmer; produção: Hans Zimmer; com: Johnny Depp, Penélope Cruz, Geoffrey Rush, Ian McShane, Kevin McNally, Sam Claflin, Astrid Berges-Frisbey, Stephen Graham, Keith Richards, Richard Griffiths; estúdio: Jerry Bruckheimer Films, Moving Picture Company, Walt Disney Pictures; distribuição: Walt Disney Pictures. 137 min