Velozes e Furiosos 5

De todos os filmes da franquia “Velozes e Furiosos”, o máximo que eu posso dizer é que tenho o terceiro longa, justamente o primeiro da série dirigido por Justin Lin, como um guilty pleasure. Já este quinto filme, não. Desse eu gostei mesmo.

Só para deixar claro, quando escrevi sobre “Velozes e Furiosos 4” em 2009, tecendo mil elogios ao filme, tudo não passou de uma piada de 1º de abril. Mas agora estou falando sério, OK, pessoal?



Apesar de grande parte das cenas terem sido rodadas em Porto Rico, este quinto filme é especialmente caro ao público brasileiro devido ao fato de a história se passar no Brasil – mais especificamente, no Rio de Janeiro, que surge na tela tão fantasioso e fictício quanto o visto na animação “Rio“, só que adequado ao gênero policial. Enquanto “Rio” pega o lado poético, “Velozes 5” pega o lado sujo. Não é um Rio verité, nem um Rio do cinema nacional. É o Rio do filme de ação de Hollywood, usado como cenário de demolition derby para cenas espetaculares de ação com carros.

Quando vemos a perseguição nos telhados de uma favela entre policiais e “bandidos” (entre aspas, já que eles, na verdade, são os heróis do longa), temos a exata noção de como “Tropa de Elite“, por mais que se aproxime do filme policial de ação americano, não tem a mesma estética. “Velozes 5” se despe totalmente da abordagem social ou política proposta por José Padilha. A corrupção do poderoso miliciano interpretado pelo português Joaquim de Almeida não é alvo de debate aqui: é condição sine qua non, essencial, intrínseca ao gênero.

Essa visão de fora, que mostra a polícia corrupta e membros de gangue fortemente armados nas favelas, é a base para o filme acontecer, tal como no polêmico episódio de “Os Simpsons” em que Homer e família fazem uma visita ao país. E com filmes como “Cidade de Deus” e o próprio “Tropa de Elite” dando o respaldo da realidade a essa imagem, Justin Lin não poderia e nem deveria se esquivar e fazer diferente. E tem que ter muito culhão mesmo para fazer a cena em que Vin Diesel, para provar ao policial federal americano vivido por Dwayne “The Rock” Johnson que ele não faz ideia do perigo que está correndo ao ser cercado por dezenas de bandidos armados, grita: “Isto aqui é o Brasil!”

“Velozes 5” é um sólido filme de ação e um presente para os fãs da série, que além de terem o combate do ano entre Vin Diesel e The Rock (não podia faltar) ainda podem ver uma reunião de família entre os personagens de todos os filmes anteriores. Eles formam uma só equipe, à laOnze Homens e um Segredo“, algo que funciona mesmo para quem não acompanha a franquia, já que o grupo de especialistas (cada um com sua habilidade, assim como no time de Danny Ocean) trabalha em torno de um propósito independente.

Foram necessários cinco filmes para que os produtores de “Velozes e Furiosos” fizessem um realmente bom, que tem uma história e chega até mesmo a desenvolver os personagens, criando um núcleo familiar que começou a ser esboçado no longa anterior. Além disso, o roteiro de Chris Morgan, que trabalhou nos últimos três filmes ao lado de Lin, sabe como evoluir a trama em pelo menos três diferentes níveis, transitando de um para o outro com naturalidade e numa escalada sempre rumo ao absurdo, abraçando o conceito de filme de ação com situações improváveis, mas que, dentro daquele contexto, daquele universo, são plenamente orgânicas e eficazes. A perseguição final é perfeita nesse sentido por não fazer concessões.

Outro mérito de Morgan e Lin é que eles deixam os rachas entre carros possantes em segundo plano. Não que eles não existam no filme (imagina!), mas estão em bem menor número, permitindo que o roteiro se concentre na trama policial. Não chega a ser um “Operação França”, longe disso, mas “Velozes 5” utiliza os carros narrativamente – ao contrário dos outros filmes da série em que a história é só uma desculpa para os pegas acontecerem e os carros aparecerem (repare, aliás, que nos cartazes do filme os carros já estão meio escondidos, com os personagens na frente).

Lin é um bom diretor. É verdade que ele abusa dos cortes nas cenas de ação (há uma sequência em que Paul Walker salta sobre um carro que tem três ou quatro cortes para um único movimento) e podia movimentar menos a câmera enquanto os personagens estão apenas conversando. Mas sua direção tem a consistência que falta a um Jonathan Liebesman, por exemplo, e a coerência na decupagem que inexiste nos filmes de Michael Bay.

Fãs da série vão querer assistir aos créditos finais: uma cena extra traz duas importantes personagens de volta à franquia.

Velozes e Furiosos 5 (Fast Five, 2011, EUA)
direção: Justin Lin; roteiro: Chris Morgan; fotografia: Stephen F. Windon; montagem: Kelly Matsumoto, Fred Raskin, Christian Wagner; música: Brian Tyler; produção: Vin Diesel, Michael Fottrell, Neal H. Moritz; com: Vin Diesel, Paul Walker, Jordana Brewster, Tyrese Gibson, Ludacris, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Tego Calderon, Don Omar, Joaquim de Almeida, Dwayne Johnson, Elsa Pataky, Michael Irby; estúdio: One Race Films, Original Film; distribuição: Universal Pictures. 130 min