Comunhão

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Se em “A Árvore da Vida”, Terrence Malick provocou reflexões sobre a relação do ser humano com sua origem e destino a partir de eventos que ele não consegue explicar de forma racional, em “Amor Pleno” o cineasta novamente explora o estado de desorientação em que alguém pode ficar diante do desconhecido, mas agora a partir de uma relação amorosa.

No caso, é a personagem de Olga Kurylenko quem sofre as agruras de um relacionamento que não dá certo. Após se apaixonar por um americano que conhece em Paris, ela se muda para os Estados Unidos com sua filha de 10 anos e a menina tem problemas de adaptação na escola. Para piorar, a relação esfria e a mulher tem que lidar com a indecisão que passa a rondar os sentimentos de seu par, vivido por Ben Affleck, quando ele se reconecta com uma antiga paixão, papel de Rachel McAdams.



Assim como em “A Árvore da Vida”, o divino novamente se faz presente em “Amor Pleno”. Os protagonistas vão buscar em Deus respostas para seus dramas, tentando como que acalentar seus conturbados estados de espírito. Não só eles, mas também um personagem coadjuvante importante: o padre em crise de fé, interpretado por Javier Bardem. A diferença, sutil talvez, é que neste novo filme as dificuldades terrenas surgem das ações do outro, e não do acaso. O princípio, no entanto, é o mesmo: se nós não podemos controlar ou mesmo compreender a natureza do início e do fim da vida, tampouco podemos controlar os sentimentos alheios.

Mais uma vez, o público é colocado diante de ideias e reflexões em forma de imagens aparentemente desconexas. Mas uma história está sendo contada, por mais que não pareça. Talvez “Amor Pleno” se revele um filme ainda mais difícil de se penetrar, pois temos a impressão de que Malick abre sua mente e sua alma na tela. Pode ser seu filme mais íntimo e pessoal, então, sua conexão com o espectador depende muito de uma identificação que atinja o mesmo nível de introspecção do cineasta. Afinal, se for analisado apenas na forma, “Amor Pleno” é cinema em seu melhor, hipnótico, sublime nas imagens que surgem na tela. O seu significado é que precisa de moldes que só a plateia pode dar. ■