“Os 7 de Chicago” peca pelo excesso de síntese em pontos importantes

Logo no início de “Os 7 de Chicago”, o que mais me chamou a atenção foi o ritmo envolvente e as cenas que se apresentavam de maneira frenética, com cortes para cada um dos personagens principais. A forma de introdução é daquelas que prendem os olhos, mas que não entregam exatamente sobre o que é o enredo. Então, se você não conhece bem a história que será retratada na tela, pode ficar um pouco confuso no início.

Baseado em eventos reais, o longa acompanha o julgamento de sete jovens ativistas que estavam sendo processados pelo governo dos Estados Unidos em decorrência do confronto com a polícia de Chicago após um protesto contra a Guerra do Vietnã, realizado durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, no ano de 1968. A manifestação havia começado de maneira pacífica, mas terminou em violência.

Assinado por Aaron Sorkin (que estreou na direção com “A Grande Jogada” e venceu o Oscar pelo roteiro de “A Rede Social”), o filme traz em seu grande elenco nomes como Eddie Redmayne (“A Teoria de Tudo”), Sacha Baron Cohen (“Borat – Fita de Cinema Seguinte”) e Michael Keaton (“Birdman”), entre outros, e está na corrida do Oscar deste ano, com seis indicações.



O longa apresenta seus personagens na introdução, passando a ideia de quais serão os protagonistas. Mas isso vai mudando no desenvolver da narrativa, principalmente durante as cenas no tribunal, quando Sorkin alterna entre Tom Hayden (Redmayne), o advogado de defesa William Kushtler (Mark Rylance, de “Ponte dos Espiões”) e o procurador do Estado Richard Schultz (Joseph Gordon-Levitt, de “500 Dias com Ela”).

Apesar do título do filme, o julgamento inicialmente tinha oito réus, sendo o oitavo Bobby Seale (interpretado por Yahya Abdul-Mateen II, de “Aquaman”), membro fundador dos Panteras Negras que, durante o processo, teve suas acusações retiradas, principalmente pela conduta racista e totalmente inadequada do juiz Julius Hoffman (papel de Frank Langella, de “Frost/Nixon”), que chegou a ordenar que Seale fosse amordaçado na corte.

O meu grande incomodo com o filme se deve à forma como detalhes da história pregressa ao julgamento são pincelados com cenas de flashbacks. E o maior exemplo disso acontece com Seale. Muito do arco dele era essencial para a construção do personagem, mas isso foi ignorado. Era como se ele estivesse lá durante os momentos importantes, mas ao mesmo tempo atuasse como um figurante na maior parte da história. Desse modo, Sorkin perde uma grande oportunidade de nos mostrar a importância de Seale e dos Panteras Negras naquele contexto histórico.

Em contraponto a essa falta de arcos mais fechados de cada personagem temos a favor do filme grandes momentos protagonizados por Abbie Hoffman (Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong, de “Succession”). É possível dar boas risadas com as provocações inteligentes e sarcásticas que eles fazem contra o juiz Hoffman.

"Os 7 de Chicago" (The Trial of the Chicago 7, 2020), de Aaron Sorkin - Divulgação
“Os 7 de Chicago” (The Trial of the Chicago 7, 2020), de Aaron Sorkin – Divulgação

É importante ressaltar que, assim como em muitos filmes baseados em histórias verídicas, este altera e insere elementos e personagens que não existiram de fato, o que, neste caso, gera interações cômicas e também momentos mais dramáticos — como a cena final, que aconteceu, mas em outro contexto do julgamento.

“Os 7 de Chicago” é um filme importante para refletir sobre fatores políticos de injustiças e pensar mais a fundo sobre o que estamos construindo quando falamos de valores e ideais sociais na nossa atualidade. Mesmo com sínteses em pontos importantes da história apresentada, é possível absorver do longa sua crítica política e sua mensagem de justiça, tão em falta nos dias de hoje.

Sorkin vai além das questões partidárias e tenta tratar a parte humana primeiramente, ressaltando as diferenças ideológicas de cada personagem e seus contrapontos. Isto torna o filme essencial para entender melhor não só os protestos contra a Guerra do Vietnã, mas também como diferentes movimentos podem e devem se unir a causas relevantes para a evolução da humanidade. ■

Nota:

OS 7 DE CHICAGO (The Trial of the Chicago 7, 2020, EUA). Direção: Aaron Sorkin; Roteiro: Aaron Sorkin; Produção: Stuart Besser, Matt Jackson, Marc Platt, Tyler Thompson; Fotografia: Phedon Papamichael; Montagem: Alan Baumgarten; Música: Daniel Pemberton; Elenco: Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Jeremy Strong, Yahya Abdul-Mateen II, John Carroll Lynch, Mark Rylance, Joseph Gordon-Levitt, Frank Langella, Michael Keaton; Estúdio/Produtora: Dreamworks Pictures, Cross Creek Pictures, Paramount Pictures; Distribuição: Netflix. 129 min