Você já se perguntou sobre quais são os principais ingredientes de uma boa comédia romântica? Se levarmos em consideração filmes famosos do gênero como “O Casamento do Meu Melhor Amigo”, “10 Coisas que Eu Odeio em Você” e “Um Lugar Chamado Notting Hill”, a história precisa ter um casal adorável, mas com cada pessoa da relação tendo uma personalidade distinta. Também é um ponto positivo quando há um conflito entre o ou a protagonista e sua família, e é preciso que ele ou ela enfrente os parentes para que possa seguir seus sonhos. O surgimento do amor em uma ocasião inusitada e empecilhos para que esse relacionamento vingue também são aspectos importantes para compor uma boa e divertida narrativa de romance.
E aqui vão mais componentes essenciais: um cenário chamativo, situações engraçadas, um primeiro encontro inesperado, personagens coadjuvantes engraçados e claro, uma linda (e às vezes atrapalhada) declaração de amor. Ah, e não pode faltar um final que deixa o espectador emocionado, não é mesmo?
“Elementos”, mais nova animação da Pixar, tem tudo isso e ainda serve como uma releitura de “Romeu e Julieta”.
O enredo conta a história de Faísca (voz de Leah Lewis na versão original em inglês), uma jovem que vive com seus pais imigrantes, que tiveram que sair de seu local de origem por conta de uma catástrofe. A família se muda para a cidade Elementos e vai morar na Zona do Fogo, onde passam todo o tempo. Por lá, eles passeiam, trabalham e se divertem. Este espaço é como uma grande metrópole ocupada por imigrantes.
Após um acidente, Faísca conhece Gota (personagem de Mamoudou Athie) e, em pouco tempo, eles se tornam amigos e, depois, apaixonam-se. Mas há um problema: o rapaz é da espécie água, e por isso a garota precisa esconder o relacionamento, já que seu pai não aceitaria vê-la com alguém tão diferente. Afinal, o lema da família é “elementos não se misturam” (aqui dá pra ver a presença de uma história que se assemelha ao enredo do clássico shakespeariano).
Apesar da Pixar ser reconhecida por fazer animações com temas densos, como em “Viva a Vida é uma Festa” e “Divertida Mente”, neste ano o estúdio investiu em uma história mais leve. Embora o filme tenha pontos dramáticos que envolvem dilemas sobre sonhos e a pressão que os pais impõem aos filhos, “Elementos” é sobre amor do início ao fim. E são várias as formas apresentadas: casos de amor platônico, relações familiares, amor às tradições, paixão pela profissão, encanto por esportes, por comida, por descobertas… Tudo ali é amor!
O que mais me chama a atenção no longa é como o diretor Peter Sohn (que também fez “O Bom Dinossauro” para a Pixar e outros filmes da Disney) trabalhou na apresentação dos elementos do título. Ele e os roteiristas Brenda Hsueh, Kat Likkel e John Hoberg conseguem dar importância para todos os grupos. Por exemplo, enquanto o povo de terra é importante para florir os espaços, trazer beleza e gerar frutos (apesar de deixar algumas sementes soltas por aí), as pessoas de ar conseguem se movimentar de uma maneira mais rápida, sendo ótimas quando se trata de esporte, mas, em compensação, distraem-se facilmente.
E por se tratar dos elementos do casal protagonista, o trabalho feito com Faísca e Gota foi ainda mais grandioso. Enquanto o jovem é emotivo, sonhador e incentiva as pessoas ao seu redor a expressarem seus sentimentos em busca de uma vida melhor, a garota é estressada, objetiva e não quer perder tempo falando de suas dores ou sonhos. Para ela, a mensagem é muito clara: o que deve ser feito, deve ser feito e ponto final.
É muito fofo ver como os dois ajudam no desenvolvimento do outro, principalmente quando se trata do Gota em relação à Faísca. Ele está sempre querendo amolecer o coração da garota, mostrando como a vida pode ser mais leve e bonita se ela deixar seus sentimentos e suas emoções transbordarem. Mas a personagem de fogo também não deixa a desejar, relatando ao companheiro a importância das regras e disciplinas, e mostrando o quanto ela também pode ser sensível e inteligente, mesmo tendo uma personalidade forte.
Como todo bom filme da Pixar, “Elementos” também traz um tema muito importante: diversidade. Com os quatro grupos representando fogo, terra, ar e água, a animação fala sobre a convivência com pessoas diferentes, as relações familiares e a inclusão de todos, sem exceção, na sociedade. No filme, tudo é relatado de uma maneira leve e de fácil entendimento, o que ajuda o público infantil a compreender a mensagem. A ideia de retratar a diversidade veio de Sohn, que se baseou em sua infância, quando viveu em uma comunidade imigrante de sul-coreanos em Nova York, nos Estados Unidos. E a escolha do elenco também respeitou a diversidade apresentada no roteiro. Por exemplo, Mamoudou Athie é um ator mauritano-americano, enquanto Leah Lewis é de origem chinesa.
Um dos pontos fortes do filme é o seu visual. A Cidade Elemento é verdadeiramente um espetáculo nesse quesito. Os personagens de água, fogo, terra e ar são representados com muitos detalhes, com um design muito rico. É um show de cores na telona, o que atrai os olhares dos espectadores o tempo todo. Até mesmo em cenas mais escuras — como por exemplo as que se passam no porão do restaurante da família de Faísca –, tudo é muito nítido e cada objeto do local é colocado em evidência. Todos os habitantes são bem trabalhados esteticamente, com o destaque para os de água, que têm até os cabelos formados por ondas. Além disso, quando aparecem cenas com este elemento, o espectador sente que tudo aquilo apresentado é de verdade.
A nova produção da Pixar também traz de volta um costume antigo do estúdio que vinha fazendo falta: a exibição de um curta antes do início do longa. A última vez que essa tradição aconteceu foi em 2019, em “Os Incríveis 2”. Naquela época, “Bao” antecedeu o filme principal. Desta vez, é apresentado ao público um curta com personagens já queridos e marcantes pelos fãs do estúdio: o senhor Carl Fredricksen e seu cachorro Dug, de “Up – Altas Aventuras”. Intitulado “O Encontro de Carl”, o curta mostra o protagonista contando com a ajuda de seu amigo de quatro patas para se preparar para seu primeiro encontro após a morte de sua querida esposa. Portanto, já neste filme introdutório, a Pixar mostra que veio para emocionar o público com a temática amor. E dá muito certo.
Como já é de se esperar do estúdio, “Elementos” apresenta imagens lindas e técnica de animação refinada para contar uma história com o intuito de agradar o público infantil e também o adulto – que convenhamos, anda carente de boas comédias românticas nas telonas. Mas, para que o filme possuísse todos os ingredientes fundamentais do gênero, um elemento importante não podia ter faltado: uma música-tema marcante, que faz a gente ficar cantando durante horas após ouví-la. Infelizmente, isso ficou de fora. ■
filme elementos pixar
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ELEMENTOS (Elemental, 2023, EUA). Direção: Peter Sohn; Roteiro: John Hoberg, Kat Likkel, Brenda Hsueh; Produção: Denise Ream; Fotografia: David Bianchi, Jean-Claude Kalache; Montagem: Stephen Schaffer; Música: Thomas Newman; Com: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie del Carmen, Shila Ommi, Wendi McLendon-Covey, Catherine O’Hara; Estúdio: Pixar; Distribuição: Disney; Duração: 1 h 49 min.
filme elementos pixar
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Onde ver "Elementos" no streaming:
Jornalista e crítica de cinema (em formação), sempre que pode está falando de filmes de heróis, animações, comédias românticas ou blockbusters. O jornalismo esportivo foi sua grande paixão durante a graduação. Há pouco, descobriu que o que gosta mesmo é de falar sobre produções audiovisuais, sejam elas filmes que concorrem ao Oscar ou um bom título do Darren Star. Atualmente também trabalha como produtora de TV na Rede Minas.