Festival do Rio 2008: Frio, frio, frio…

O frio impera no Rio. Eu, que nem me preocupei em trazer uma blusa, tive que comprar um casaco barato, só para quebrar o galho. E no Festival eu diria que as coisas não esquentaram muito no sábado e no domingo. Talvez eu que tenha me programado mal. Já me arrependi por não ter optado por “A Fronteira da Alvorada”, do Philippe Garrel. Ou pela versão restaurada de “O Poderoso Chefão”, que, pelo que Lucas do cinemaCAFRI.com me contou, foi uma sessão histórica, com direito a seguranças para proteger a cópia saída do armário de Francis Ford Coppola.

Bom, deixo vocês com mais três pequenas resenhas. Não pude publicar ontem porque as lan-houses estavam fechadas. Era domingo, Renato! Fico devendo ainda outras, incluindo crítica de “Sinédoque, Nova York”, de Charlie Kaufman, que ainda estou pensando se gostei. OK, gostei. Mas é um filme que precisa de revisões (é, no plural). Tenho que ir para a cabine de “Última Parada 174”, do Bruno Barreto. Depois pego meu vôo para BH. Volto com mais em breve.



O Amor Chega Tarde (Love Comes Lately, 2007, Alemanha/Áustria/Estados Unidos), de Jan Schütte. Chega perto do que seria um Woody Allen octogenário. Tem um humor mais intelectualizado, aborda questões do cotidiano do personagem, suas neuras, seus medos… Só que não é engraçado e irônico como Allen. Só faz lembrar, até mesmo nos trejeitos do protagonista, o escritor Max Kohn (vivido por Otto Tausig), cuja vida se mistura com a de um de seus personagens. As risadas mais fortes da platéia surgiram em duas ou três ocasiões. Na maior parte do tempo, foi um riso tímido. De qualquer forma, é um drama cômico a que você assiste com segurança, já que ele não oferece grandes surpresas ou reviravoltas. O filme tem uma abordagem OK sobre a questão da idade, mas não é nada que já não foi feito de maneira melhor (como, por exemplo, em “As Confissões de Schmidt”). nota: 5/10 — veja sem pressa

Sujos e Sábios (Filth and Wisdom, 2008, Reino Unido), de Madonna. Existe um motivo pelo qual Madonna não dirige seus próprios videoclipes, e esta sua estréia como cineasta (até dói dar-lhe esta atribuição) nos diz tantas coisas sobre o porque de ela não ter se arriscado nessa carreira antes. Mas agora que já o fez, por favor, Madonna, volte a se concentrar em sua carreira musical, que já não anda tão boa. Não sei se o pior é a direção, que praticamente pede desculpas ao espectador por ser tão amadora (pelo visto, Guy Ritchie estava ocupado demais para dar uma mão à esposa), ou se é o roteiro, repleto de baboseiras que saem da boca dos personagens como se fossem filosofias profundas e existenciais. Não existe história. São esboços de tramas tão superficiais quanto aqueles que as movem. E para uma artista que vive de música, porra, pelo menos a trilha sonora deveria ter algo de bom. “Sujos e Sábios” parece ser apenas um capricho de Madonna, feito para ela mesma e seus amigos. Antes fosse realmente isso, e sua exibição ficasse restrita à sala de TV da casa dela. nota: 2/10 — pura perda de tempo

Fomos à Terra dos Sonhos (We Went to Wonderland, 2008, China/Reino Unido), de Guo Xiaolu. Seguindo um estilo documental, o filme recusa-se em vários momentos a mostrar algo interessante, engraçado ou mesmo bonito, ao contrário de tantos outros nesse estilo que buscam ficcionalizar os fatos para tentar não entediar o espectador (ou seja, alguma coisa TEM que acontecer na tela). Em muitas cenas, o que vemos é apenas o casal de velhinhos numa rua, andando para lá e para cá, ou sentados no quarto, ou andando por um campo. A diretora – que também é personagem – não está necessariamente preocupada em contar uma história. A todo momento ela poupa o espectador das ilusões que a linguagem pode provocar, como por exemplo ao filmar os bilhetes que seu pai escreve (ele perdeu a voz devido a uma cirurgia na garganta). E mesmo quando ela utiliza letreiros para representar os “pensamentos” daquele senhor, ela o faz de forma precária, só com a frase piscando na tela. Apesar dessa proposta interessante e de um humor velado, mas bem utilizado (presente principalmente na crítica que aqueles chineses fazem ao Reino Unido), “Fomos à Terra dos Sonhos” não é necessariamente um filme agradável de se ver. Quem esperar um “road movie”, irá se decepcionar profundamente. nota: 6/10 — veja sem pressa