"Besouro Azul" (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto - Divulgação/Warner Bros. Pictures
"Besouro Azul" (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto - Divulgação/Warner Bros. Pictures

“Besouro Azul” conta com a ajuda do tempero latino

A palavra “família” tem sua origem do latim e, segundo o dicionário Oxford, significa “o conjunto de parentes de uma pessoa” ou até mesmo “grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto”. No cinema, a palavra é usada em diversos longas com o intuito de relatar que tudo é permitido quando o assunto é proteger a família, e que ela está acima de qualquer coisa. As produções da franquia “Velozes e Furiosos” são algumas das mais famosas que utilizam a palavra desde o primeiro filme, dando ênfase na união dos amigos. Entretanto, o conceito que Dominic Toretto e seus companheiros trazem sobre família se torna raso em comparação ao que “Besouro Azul” apresenta sobre a filosofia do termo.

A premissa principal do mais novo filme inspirado nos quadrinhos da DC Comics é mostrar como a vida do adolescente Jaime Reyes (vivido por Xolo Maridueña, da série “Cobra Kai”) muda após ele ganhar superpoderes através de um misterioso escaravelho antigo. Mas, antes mesmo de adentrar neste assunto, o roteiro de Gareth Dunnet Alcocer (“Miss Bala”) apresenta ao público a divertida e unida família do jovem.

Formada pelo otimista pai Alberto (Damián Alcázar), a amorosa mãe Rocio (Elpidia Carrillo), a debochada irmã Milagro (Belissa Escobedo), o intenso tio Rudy (George Lopez) e a surpreendente avó Nana (Adriana Barraza), além, claro, do carinhoso Jaime, os Reyes são uma típica família latina. Alegria, fé, música, gastronomia, humor e esperança estão presentes no grupo, mas o que realmente os torna extremamente cativantes é a união. Não importa qual é a situação e nem o grau de dificuldade: cada integrante se dedica 100% em fazer o outro se sentir melhor, seja incentivando com abraços, ações ou palavras.



"Besouro Azul" (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto - Divulgação/Warner Bros. Pictures
“Besouro Azul” (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto – Divulgação/Warner Bros. Pictures

É a família o ponto que conecta todo o filme “Besouro Azul”. Se de um lado temos os latinos Reyes, apresentado o melhor de uma família, do outro temos os Kords, núcleo da coprotagonista Jenny (a brasileira Bruna Marquezine, em sua estreia em Hollywood) e da vilã Victoria (a experiente Susan Sarandon), que tem como destaque o glamour e poder de um grupo dono de uma enorme indústria. A motivação de todos os personagens, tanto vilões quanto mocinhos, gira em torno do sentimento pela família, o que reforça ainda mais o desejo do roteiro em dar destaque a esse tema.

Sendo assim, é perfeitamente compreensível que “Besouro Azul” entre para a categoria “filme cômico de herói” (como “Shazam!” ou “The Flash”), mas a leveza e o bom humor não são seus únicos pontos positivos. As cenas de luta e ação são muito bem coreografadas e impactantes. O traje do protagonista é mostrado com um visual atrativo e com uma aparência nítida, o que reforça o acerto do diretor porto-riquenho Ángel Manuel Soto (“Reis de Baltimore”) ao optar por não fazer o uniforme do herói todo em CGI, e sim mesclar a computação gráfica com efeitos práticos. Esta estética mais “real” se encaixa nas cenas de luta de um modo muito eficaz.

"Besouro Azul" (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto - Divulgação/Warner Bros. Pictures
“Besouro Azul” (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto – Divulgação/Warner Bros. Pictures

Como uma boa produção latina, “Besouro Azul” também possui uma essencial pitada de drama, que traz o público para mais perto dos personagens. O relacionamento do casal protagonista interpretado por Xolo Maridueña e Bruna Marquezine traz leveza à trama, mesmo em momentos complexos. É bonito o charme em volta dos dois, e a amizade construída através de uma narrativa que relata semelhança entre eles.

A aura latina da produção também leva o longa para um nível bem interessante ao fazer diversas citações, como a uma famosa novela mexicana, e mostrar algumas tradições e aspectos culturais, como a vida em comunidade e o jeito otimista de ver o mundo. O figurino da família Reyes e as cores vibrantes presentes em suas cenas trazem ainda a intensidade daquelas pessoas ali representadas. No geral, a cultura latina é mostrada da maneira ideal, mostrando referências que só quem faz parte dela entende, ao mesmo tempo em que a apresenta ao público estrangeiro que não é familiarizado com aquele universo.

"Besouro Azul" (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto - Divulgação/Warner Bros. Pictures
“Besouro Azul” (Blue Beetle, 2023), de Ángel Manuel Soto – Divulgação/Warner Bros. Pictures

Em meio às incertezas provocadas pelas reformulações propostas por James Gunn e Peter Safra para o futuro da DC Comics no cinema, e à recepção morna do público aos recentes longas do estúdio, “Besouro Azul” pode ser prejudicado. Além disso, o fato de ser um filme que mostra a origem de um personagem pouco conhecido e a incógnita se o herói retorna ou não ao universo compartilhado da DC contribuem para deixar os espectadores com um pé atrás. Porém, quem considerar esses pontos e não der uma chance à produção perderá uma narrativa que, apesar de despretensiosa, e com um ritmo que deixa um pouco a desejar, é rica em vários pontos. Ángel Manuel Soto conseguiu mesclar comédia, autenticidade, ação, drama, representatividade e cultura em uma produção tecnicamente agradável de se assistir. “Besouro Azul” é, finalmente, o fôlego que precisávamos no gênero de filmes de super-heróis. ■

filme besouro azul

Nota:

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BESOURO AZUL (Blue Beetle, 2023, EUA). Direção: Ángel Manuel Soto; Roteiro: Gareth Dunnet-Alcocer; Produção: John Rickard, Zev Foreman; Fotografia: Pawel Pogorzelski; Montagem: Craig Alpert; Música: Bobby Krlic; Com: Xolo Maridueña, Bruna Marquezine, Adriana Barraza, Damián Alcázar, Raoul Max Trujillo, Susan Sarandon, George Lopez; Estúdio: DC Studios, The Safran Company; Distribuição: Warner Bros.; Duração: 2 h 7 min.

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