Corte Rápido: A GAROTA DINAMARQUESA

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Em “A Garota Dinamarquesa” (The Danish Girl, 2015), o vencedor do Oscar de Melhor Ator no ano passado por “A Teoria de Tudo”, Eddie Redmayne, interpreta novamente um papel desafiador. Se em seu trabalho anterior viveu o físico Stephen Hawking, vítima de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), agora ele faz o papel de Lili Elbe, considerada a primeira mulher transexual a ser submetida a cirurgia de mudança de sexo.

A operação, no entanto, só ocorre mais ao final do filme, é a consequência final. O desafio de Redmayne é nos convencer, ao longo de todo o filme, de que ele é uma mulher no corpo de um homem, o pintor Einar Wegener. O ator interpreta desde as primeiras manifestações da feminilidade de Einar junto à esposa, Gerda, até as experiências derradeiras que o fazem tomar a decisão de se submeter ao procedimento cirúrgico, ciente do risco de morrer que correria, já que a cirurgia ainda era experimental na época, em 1930.



Redmayne está bem, mas melhor está Alicia Vikander, que também concorre ao Oscar, como Atriz Coadjuvante. Sensação do momento em Hollywood, tendo participado de diversas produções no ano passado, entre elas “Ex Machina – Instinto Artificial” e “O Agente da U.N.C.L.E.”, ela demonstra versatilidade e talento a cada projeto, sendo que faz seu trabalho de maior entrega emocional em “A Garota Dinamarquesa”, demonstrando ao mesmo tempo compaixão e resignação diante do delicado drama de seu marido, que reflete imediatamente no trabalho artístico dela, que também é pintora. Cabe a ressalva, no entanto, que as telas mostradas no filme nada tem a ver com as telas originais de Gerda (esta reportagem faz uma comparação),

Se os dois atores estão bem, o mesmo não pode ser dito do diretor Tom Hooper. Ele, que a Academia premiou com o Oscar de Melhor Direção por “O Discurso do Rei”, repete os mesmos maneirismos que tornam seus filmes feios: enquadramentos estranhos, com os atores nos cantos do quadro sem motivo aparente ou subentendido, o que se traduz numa incapacidade de se comunicar esteticamente com o espectador. Hooper pode até ser um bom diretor de atores, mas até mesmo por isso deveria ser mais contido, optar por uma direção mais certinha, quadrada que fosse, pois para chamar a atenção para si, um diretor precisa ao menos ter consciência de seu talento. Aqui me parece ilusão de grandeza.

“A Garota Dinamarquesa” sofre ainda de outros problemas, em particular o de ser uma biografia enciclopédica, ou seja, quer apenas contar a história de uma pessoa e encerrar aí seu propósito. OK, haverá quem se identificará e se emocionará, mas não surtiria o mesmo efeito ler sobre Lili Elbe? E para falar sobre transexualidade, um filme menos pretensioso como “Uma Nova Amiga” faz um serviço mais bem feito e propõe conflitos mais interessantes. ■

[A ideia do Corte Rápido é fazer um comentário simples, seja uma primeira impressão sobre um lançamento, seja uma breve reflexão sobre um filme revisto recentemente.]